105 - A Toca, 1997

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As festas de fim de ano passaram e ela claramente não havia sido convidada. Mais de um mês. Fazia mais de um mês desde que foi resgatada.

Ela tinha recuperado o peso. Passou a se exercitar para ocupar a mente e ignorar os pensamentos e as memórias horríveis que brincavam em sua mente.

Não tinha permissão de ver ninguém. Harry havia dito para todos que ela ainda estava abalada e não queria socializar. A realidade, é que ela estava sendo mantida prisioneira pelo próprio irmão.

Mas...

Havia os gêmeos.

Eles sempre encontravam uma desculpa para ir conversar com ela. Levar o almoço. Entregar as roupas limpas. Estocar os produtos de higiene.

Eles haviam percebido o quão perto ela estava daquela linha perdida. Aquele ponto em que uma pessoa se quebra e nunca mais volta.

Então, estavam sempre fazendo coisas para alegrar um pouco aquela menina.

Quando descobriram que ela gostava de ler, passaram a roubar alguns livros de Hermione e entregavam escondido para ela. Angel sempre parecia um pouco mais tranquila quando estava lendo, e eles gostavam daquilo.

Em um mês seria o casamento de Fleur e Gui, então as coisas n'A Toca estavam uma bagunça. Por isso, os gêmeos não tinham tanto tempo livre para ir visitá-la. Então, sempre que conseguiam, traziam consigo três ou quatro livros de uma vez.

Isso ocupava bastante a mente dela.

Mas mesmo assim, eles queriam que ela saísse. Que ela respirasse um pouco de ar fresco e pisasse na grama e sentisse o vento no rosto.

Ela precisava sair dali.

Mas a loira sempre desviava o assunto para outras coisas, quando estava um pouco mais falante.

Eles não tocavam mais nesse assunto.

𑁍

Ela estava inquieta. Não suportava mais ficar ali, sem poder fazer nada. Era madrugada, e a lua crescente iluminava sua janela com a luz fraca. A casa tinha ficado um caos o dia inteiro, cheia de gritaria e sons irritantes. Agora, estava em um completo silêncio.

Ela gostava do silêncio.

Uma batida na porta. Ela sabia que eram os gêmeos, pois eles disseram uma vez que "quando você ouvir duas batidas e um som de peido, somos nós."

Ela olhou para a porta e eles entraram. Fred segurava quatro livros nos braços, formando uma pilha considerável, e Jorge trazia um prato com um grande pedaço de bolo.

— Eles estavam experimentando os bolos para o casamento hoje. - explicou George, entregando o prato para Angel - Esse foi o nosso favorito.

Ela murmurou um agradecimento, e começou a mastigar. Os gêmeos trocaram olhares, e Fred colocou os livros sobre a mesa que havia ali.

— Angel, por que você não quer sair do quarto?

Ela iria ignorar a pergunta, se uma vontade imensa de dizer a verdade não tivesse impulsionado ela a falar. — Harry não deixa.

— Como assim? - George perguntou, aproximando-se da menina. Ela deu de ombros.

— Acho que ele não quer que eu arrume "mais problemas", como ele disse. - ela fez as aspas com os dedos, comendo mais do bolo - Isso daqui tá uma delícia. - ela suspirou, fechando os olhos.

Fred se apoiou contra a mesa, cruzando os braços. — Tá dizendo que o Harry está te mantendo uma...?

— Prisioneira? É, tipo isso. - ela terminou o bolo, raspando a calda de chocolate do prato - Tem mais? - perguntou, erguendo o garfo e intercalando o olhar entre os gêmeos. George suspirou, pegando o prato da mão dela e descendo as escadas com pressa. Ela sorriu, olhando para Fred. Ele a encarava sério. - O que foi?

Fred negou com um gesto, suspirando. George não tardou a voltar, com outro grande pedaço de bolo. Dessa vez, a massa era branca e a cobertura de chantilly.

Angel comeu, segurando um gemido ao sentir o gosto de baunilha. — Isso é muito bom...

Os gêmeos sorriram para ela, mas a ruga de preocupação ainda marcava em suas testas. Angel franziu as sobrancelhas, sem entender. — O que foi?

— Quer dizer que você está aqui contra sua vontade? - Fred perguntou.

— E que não sai do quarto porque não pode? - George completou. Angel fez que sim com a cabeça, lambendo o chantilly do garfo.

— É isso.

— Onde você queria estar agora? - eles perguntaram em uníssono. Angel travou, engolindo em seco.

— Eu... - ela lambeu os lábios, piscando para afastar as lágrimas - Eu quero estar onde ele está. Mas não sei onde ele está agora, então não sei onde quero estar.

Os irmãos trocaram olhares confusos. — Ele quem?

Angel sorriu fraco. — Meu amor.

— Seu amor? - Fred perguntou.

Angel sorriu, o olhar distante. — É. Meu Mattheo.

— Mattheo... Riddle? - George arriscou e a garota olhou para ele com um sorriso.

— Sim.

— Mas ele não te seduziu para te levar até o pai dele? - Fred perguntou confuso. Angel olhou os dois como se estivessem usando um ventilador como chapéu.

— Quem te contou isso?

— Seu irmão. - George respondeu dando de ombros.

Angel revirou os olhos. — Claro que foi. Bom, não. Mattheo não me seduziu, acho que foi o contrário... - ela pensou um pouco e estalou a língua - Na verdade, eu não sei bem o que aconteceu. Mas um dia éramos estranhos e no outro, eu não via minha vida sem ele.

— Mas, se vocês se apaixonaram assim, como foi que Voldemort capturou vocês? - Fred perguntou, sentando-se na beira da cama. George foi para a cadeira da escrivaninha.

Angel lambeu os lábios. — Ele descobriu quem eu era depois que Harry gritou na escola. Aí ele explodiu a comunal da Sonserina e nos sequestrou. Mattheo não estava lá por pura vontade, sabe. Nunca estaria.

— O que fizeram com você naquele mês que ficou em cativeiro? - George perguntou em uma voz baixa.

Angel tremeu levemente antes de comer o último pedaço do bolo. — Me colocaram na mesa dia sim, dia não. Eu desmaiava em algum momento. Eles me curavam. Mas Mattheo sofreu mais; ele ia para a mesa todos os dias. Às vezes, eu acordava bem a tempo de ouvir ele gritar.

Eles encararam a loira, que olhava para um ponto aleatório na parede e havia mergulhado profundamente na própria cabeça. — Com mesa, você quer dizer...? - George esclareceu, e Angel piscou, voltando para o próprio corpo.

— Tortura.

Os gêmeos ficaram em silêncio, e Angel passou o dedo pelo chantilly no prato, lambendo os últimos resquícios do doce. — Da próxima vez que quiserem me perguntar algo, não precisa usar o Veritaserum. É só perguntar, eu vou responder. - ela sorriu e piscou para os dois que estavam de olhos arregalados.

— Desculpe. - eles falaram em uníssono, virando o olhar para o chão. Angel riu. — Tudo bem.

Ela encarou os dois por um tempo.

Foi Fred quem quebrou o silêncio. — Vamos tentar... vamos tentar falar com Harry. Para que você desça, pelo menos. Precisa sair daqui.

A loira negou, sem esperanças. — Duvido que ele vá deixar.

— Mas... isso não faz sentido! - ele exasperou - O que você tem com todas essas merdas? Você não fez nada!

Angel deu de ombros. — Eu nasci.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora