A Biografia de Mattheo Riddle

106 - Mansão Nagasaki, 1997

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𑁍

Uma mentira.

Todos aqueles dias que havia passado com ela, haviam sido uma mentira.

Draco encarava a janela, o gramado extenso e a densa floresta pintavam o horizonte. Ele não tinha saído do quarto desde a cena do jantar, no dia anterior.

Não havia dormido também.

Depois que tomou o antídoto, aquela chama que o fazia se sentir vivo... apagou. Como se ele estivesse banhado em luz e, no segundo seguinte, um filho da puta desligasse o interruptor.

Ele não conseguia acreditar.

Em algum momento, em meio à magia e ao contato diário com Saori, ele tinha que admitir que havia se apegado à garota.

Ela era tão doce e gentil quando ninguém estava olhando.

Parecia que seu coração estava lutando para não acreditar. Ele não conseguia entender que tudo tinha sido uma bruxaria. Tudo...

Cada toque, cada beijo e palavras gentis. Cada olhar, suspiro e risadas e...

Uma lágrima escorrer pela bochecha de Draco.

Ele não queria acreditar que tudo aquilo tinha sido um feitiço.

𑁍

Saori estava vazia.

Não sabia o que sentir naquela situação. Ela deveria sentir algo? Deveria, não deveria?

O pior de tudo, é que ela não conseguia ficar brava com Pansy, por ter escondido isso por tanto tempo.

Lá no fundo, ela era tão grata à amiga.

Por ter permitido um pouco mais. Porque ela pôde sentir aquela explosão de sabores - por mais que falsa - depois de um bom tempo.

Alguém bateu na porta. A garota estava encolhida na poltrona ao lado da janela, odiando o sol lindo de inverno que brilhava lá fora. A pessoa entrou, e ela teve um pico de raiva.

Quem ousava entrar sem permissão?

Ela se virou, compreendendo em seguida. Mattheo.

Ele suspirou e se sentou na outra poltrona ao seu lado. Eles ficaram em silêncio por um momento; ela olhava para a janela e ele encarava o quarto luxuoso em que ela se encontrava.

— Estou com medo. - ele falou, pouco mais que um sussurro.

Saori se assustou pela honestidade do moreno. Ela desviou o olhar da janela, reparando pela primeira vez nele. Ele tinha olheiras fundas e a pele mais pálida, as mãos tremiam. — Por quê?

Mattheo inspirou fundo. — Por que eu fiz uma merda enorme, e não mereço o perdão dela. Mas, ainda assim... Sou egoísta e gosto de pensar que ela vai me dar isso. Pelo menos isso. Eu... - a voz dele falhou e os olhos se encheram de lágrimas - Eu não posso perdê-la, mas fui a maior causa para que isso acontecesse.

Saori ficou em silêncio enquanto ele chorava baixo. Ela percebeu, mal por assistir aquela cena, que ele não estava só triste. Estava tomado pelo nojo e ódio... por ele mesmo.

O que ele tinha feito que era tão ruim assim?

Saori engoliu em seco. — Não é algo para se comparar. Mas... eu não gosto de pensar que tudo foi uma mentira.

Mattheo olhou para ela, os lábios tremiam. Ele esperou.

— Em algum momento, eu comecei a gostar daquilo. Eu. Da sensação. Dos sentimentos. Do carinho e do toque. Eu não sei o que vou fazer... sabendo que foi tudo uma mentira.

— O que aconteceu quando você tomou o antídoto?

Ela suspirou. — Eu... Foi como se um pedaço de mim fosse arrancado. Mas não tirado para fora só... saiu do lugar.

— Então?

Ela deu de ombros. — Não sei, na verdade. Ele se recusou a olhar para mim.