38 - Saori, 1992 (passado)

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Ela mataria Angel. De uma maneira muito, muito dolorosa. Ah, que a loira esperasse para os treinos; Saori havia percebido o jeito que ela abria a lateral esquerda do corpo ao manejar o florete em um ataque direto. Iria se divertir ao torturar a loira com aquela fraqueza.

Ela observava a amiga partir pelas ruas de paralelepípedo da pequena vila, algumas pessoas olhavam para a perna de Angel, apontando e informando-a sobre o machucado. Saori até conseguia imaginar o rosto delicado da amiga sorrindo e dizendo que não era nada. Mentirosa.

Sangrava demais para não ter sido nada. Provavelmente ralou feio, a pedra da calçada é bem áspera. A japonesa olhou o horizonte até a loira sumir de vista, e a presença de Cedrico se tornar algo inevitável. Ela suspirou baixinho, contando até três antes de se voltar para o menino. Ele a encarava com um sorriso singelo, parecendo até envergonhado.

— Então... - ele começou, e ela não saberia dizer se as bochechas coradas se deviam ao frio ou embarasso - Quer ir tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras? - pergunta, e ela não vê o motivo de negar. Ele era bonitinho.

Ela aceita com a cabeça, e ele passa a guiá-los pelas ruas, a multidão de adolescentes se focando agora na loja de doces, a Dedos de Mel, e no bar a qual eles se dirigiam. O calor envolveu  corpo da japonesa como um cobertor quentinho ao entrarem, Cedrico escolhendo uma mesa mais próxima à parede para eles. Ela tirou o cachecol que usava - um que sua avó havia lhe dado quando ainda era criança, vermelho-escuro como sangue. Ele retirou as luvas e se levantou rapidamente, indo até o balcão para fazer o pedido. Saori brincava com os anéis dos dedos quando ele voltou.

— Pedi as bebidas e alguns rolinhos de canela. Espero que esteja com fome, eles são deliciosos. - e sorriu de um jeito fofo, na opinião dela. Ela não respondeu, voltando o olhar para as janelas do lugar, as ruas parecendo muito congelantes uma vez que estavam ali dentro. Ele ficou em silêncio, observando-a. Ela era muito linda. Sua irmã era estonteante, mas ela...

— Por que tantos anéis? - arriscou a perguntar, e ela voltou-se para ele, olhando para as mãos em seguida. Ela deu de ombros, sendo agraciada pelos deuses por não precisar falar, pois a atendente chegava com os pedidos. Ela tomou da cerveja amanteigada, segurando um suspiro de prazer. Se Angel estivesse ali, teria bebido o estoque todo.

Ele cortou os rolinhos de canela, colocando alguns no prato e estendendo para ela. Saori o encarou, murmurando um obrigada antes de comê-los. E, merda. Se Angel estivesse ali, a japonesa nem teria tempo de provar do doce. Cedrico sorriu ao colocar alguns pedaços para si e passar a comer.

— Você está suja aqui. - ele disse após um tempo, apontando para a boca dela. Saori passou os dedos pelo lábio, esperando ter limpado, em seguida molhando-os com a língua. Cedrico a encarou com mais intensidade ao se levantar e colocar uma mão na mesa, apoiando o peso na madeira para se aproximar de Saori e passar o dedão pelo canto dos lábios da garota.

Ela apenas o encarou enquanto ele limpava, corando com a aproximação repentina. Ele se sentou, e o sorriso que deu não era, de maneira alguma, fofo. Mas cafajeste pra caramba, do tipo que ela viu Draco Malfoy dar inúmeras vezes. Ele olhou para ela ao levar aquele mesmo dedo que havia limpado sua pele, momentos antes, à boca e chupá-lo. Ela ficou sem fôlego, o coração disparando. — Quer voltar para a escola?

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Ele havia insistido em levá-la até a entrada da comunal de sua casa, após uma caminhada embaraçosa e quieta de volta à Hogwarts. Ela permitiu, mantendo uma distância aceitável, enquanto sua mente fervilhava. Nunca, nunquinha, ela havia sentido uma atração tão forte por alguém. Eles pararam em frente à imensa cobra de pedra, e ela iria passar sem dizer muito, mas ele segurou seu pulso.

— Me desculpe... por mais cedo. Não queria ter deixado você desconfortável.

— Tudo bem. - respondeu sem muita emoção, mas seus ouvidos rugiam. Ela não queria que ele se afastasse. Gostava daquela sensação. Ele sorriu, olhando em seus olhos antes de se aproximar e beijar sua bochecha esquerda.

— Nos vemos amanhã, Nagasaki. - ele disse, e ela entrou na comunal, a respiração acelerando a cada inspirar.

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A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora