124 - Mansão Nagasaki, 1997

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𑁍

A porta se fechou com um click, que fez Angel sair do lugar silencioso que era sua mente. Ela prendeu a respiração, olhando ao redor do quarto à procura dele.

— Mattheo? - chamou desconcertada, mas não o encontrando no cômodo. A loira correu para a porta, abrindo-a com um estrondo e correndo até o quarto dele.

— Mattheo?! - chamou ao entrar, sem nem mesmo bater na porta. O quarto dele era tão grande quanto o dela, mas ele não estava em lugar nenhum. Onde ele havia ido?

Ela se desesperou, descendo as escadas correndo, chamando-o com gritos falhos. — Mattheo!

Angel correu até a sala de estar, onde Saori, Theodore, Pansy e Blaise encaravam a porta da frente aberta com os queixos caídos. Ela ignorou os amigos, saindo para o jardim, tendo completamente se esquecido de que estava frio.

A respiração dela condensava em sua linha de visão. Ela olhou por todo o terreno visível da propriedade, descendo as escadas de mármore e pisando nas pedras brancas que delimitavam um caminho. — Mattheo!

Seus olhos mal registravam a paisagem do dia leitoso. Ela correu pela calçada de pedras brancas, o coração pulsando na boca. — Mattheo!

Angel nunca se desesperara tanto na vida. Ele tinha ido em bora? Depois de tudo aquilo, de todas aquelas palavras, ele realmente tinha ido?

Ela havia ficado tão chocada com a declaração dele, que não percebeu quando ele saiu. Será que era tarde demais?

Angel correu, o corpo doendo pelo frio, os pelos eriçados e os dedos das mãos já avermelhados. Ela olhou ao redor, por fim vendo o enorme portão de ferro trabalhado que envolvia toda a propriedade.

E, finalmente... Mattheo estava lá. Quase atravessando.

Ela quis chorar de alívio. Angel acelerou o passo, os músculos protestando. — Mattheo!

Ele parou; pensou ter ouvido algo, e realmente desejava para que não fosse sua cabeça lhe pregando peças.

— Mattheo! - ela gritou de novo, e ele se virou. O fôlego que o garoto não havia percebido segurar, finalmente foi solto.

Lágrimas escorriam dos olhos dele, grossas e tristes. Porém, as que escorriam pelas bochechas dela eram da mais pura e inocente alegria.

Ela se aproximou. De oito, para seis metros longe. Quatro. Três. Um.

Tão perto que poderia tocar o rosto dele, e limpar suas lágrimas. Mas ela apenas sorriu. — Eu também te amo. - ofegou, felicidade envolvendo seu corpo inteiro - Eu te amo tanto que tenho vontade de viver.

Mattheo engoliu em seco, o coração pesando. Angel riu por entre as lágrimas, passando as mãos no rosto para secá-las. — Eu te amo tanto... Que não consigo acreditar no quão sortuda eu sou por ter você.

Ele se aproximou dela, sem saber o que fazer. Há segundos, seu coração estava estilhaçado. E agora, ela o aceita. Muitas emoções soará um dia só.

Angel sorriu ainda mais, aproximando-se. — Eu te amo. - sussurrou, antes de, enfim, juntar seus lábios em um beijo.

Ela suspirou, as mãos indo até o rosto do menino para juntá-los ainda mais. Ele fez menção de tocar sua cintura, mas...

Mattheo se afastou bruscamente. Angel ofegou, confusa. — Por que fez isso?

— Não posso... eu não posso te tocar.

— O que? - ela piscou, tentando entender. Mattheo não disse mais nada, dando liberdade à imaginação fértil da loira para criar qualquer coisa. A garganta dela se apertou.

— Você já ia embora, não é? Não importa o que eu dissesse, você já ia ir. - ela engoliu em seco, negando-se a chorar.

Por que choraria, se ele a deixaria sem pensar duas vezes?

— O que? Não Angel. - ele negou com a cabeça, parecendo confuso, arrependido e triste - Eu não ia te deixar, não depois do que eu disse. Não depois do que você me disse. - ele riu fraco, como se desacreditado.

— Então por que você não toca em mim? - ela perguntou baixinho, com o coração doendo. Ele lambeu os lábios, desviando o olhar para suas mãos.

Estavam limpas, como sempre. Mas também, ele ainda sentia tudo. A sensação gosmenta e molhada, que nunca sairia porque tinha escorrido até sua alma.

O sangue dela.

— Eu não quero te sujar. - ele respondeu em um tom igualmente baixo.

Os olhos de Angel se encheram de lágrimas. — Ah, Mattheo... - ela permitiu que uma lágrima escorresse.

Como havia sido egoísta. Ela havia sido violada, sim. De inúmeras maneiras. Mas e ele? E as coisas que ele havia sofrido?

Não conseguia se imaginar no lugar de Mattheo. Não conseguia se imaginar sendo obrigada a torturar seu amor da maneira que ele havia o feito.

As coisas que ele precisou fazer, precisou assistir...

Ela lentamente tomou a mão dele nas suas, fazendo um carinho leve. Ele ficou rígido, tentando tirar sua mão do toque dela, mas Angel manteve o aperto firme.

Ela traçou desenhos aleatórios na palma dele, tocando-o de leve. Em seguida, beijou ambas as palmas do garoto, o coração mais apertado que nunca.

Era tão ruim vê-lo assim.

— Você não vai me sujar, Mattheo. Está tudo bem agora. - sussurrou contra as mãos dele, dando um último beijo. Ela viu quando ele engoliu em seco, piscando para afastar as lágrimas.

Angel o puxou levemente, até que ele começou a andar e a seguiu de volta para a mansão. Estava ficando insuportavelmente frio ali fora, e nem ela nem Mattheo vestiam roupas apropriadas. O corpo dela já falhava com arrepios intensos pela baixa temperatura.

Quando finalmente o calor da casa a envolveu como um cobertor quentinho, não havia mais ninguém na sala de estar. Ela subiu com Mattheo pelas escadas, puxando-o até seu quarto e fechando a porta. Angel virou-se para ele, tocando seu rosto.

O garoto pareceu querer se afastar, mas respirou fundo e permaneceu no lugar. Angel sorriu fraco, beijando a testa dele ao ficar na ponta dos pés.

— Eu te amo. E vai ficar tudo bem agora.

Ela o beijou. E ele não se afastou.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora