A Biografia de Mattheo Riddle

119 - Mansão Nagasaki, 1997

Dê seu voto! ★
Comente! ✍︎︎

𑁍

Ela chorou silenciosamente quando acordou em seu quarto.

Ele não havia falado com ela. Não havia deixado um bilhete nem nada.

Só... jogou ela ali como se fosse indesejada. Como se... ela fosse um peso.

O peito dela doeu o dia todo por aquilo.

𑁍

Draco nunca havia sentido as duas emoções ao mesmo tempo; amor e ódio.

Sua mãe estava ali. Ela cozinhava para todos, junto com Blaise, Pansy e Saori, rindo e cantando e parecendo mais jovem do que nunca. A mulher de sua vida, sua mãe. Ele a amava e estava aliviado por ela finalmente estar a salvo.

E o ódio...

Draco não conseguia entender... não conseguia aceitar que Saori e ele...

Sentia falta dela. Tão pouco tempo de amor, tão pouco tempo de toques e intimidade e risadas.

E tudo aquilo havia sido uma mentira?

Parecia que a poção era forte o demais, pois o antídoto ainda não havia funcionado por completo. Ele ainda sentia aquela coisa faiscar em seu peito ao ver a japonesa. Saori era linda, e doía nele saber que ela havia sido sua por tão pouco tempo.

Quando ela ria com os outros, ou quando ajudava sua mãe a preparar o jantar, enquanto ele arrumava os pratos na mesa. Ele sempre a observava.

Mas Saori nunca devolvia o olhar; nunca falava com ele nem mesmo ficava perto demais do garoto.

Ele estava se forçando a aceitar que ela não era mais dele.

𑁍

Blaise estava sendo um babaca. Ele sabia disso.

Estava sendo um tremendo de um filho da puta com Pansy, mas ele não sabia o porquê.

Talvez, porque ela não tenha contado aos outros sobre os planos de Angel, o que levou ela e Mattheo a passarem por um inferno durante meses?

Ele não conseguia sequer imaginar... o que eles sofreram ali...

O estado que Angel estava, ensanguentada, quando invadiram a mansão dizia o suficiente.

Ele estava bravo com Pansy por ela ter omitido sobre Saori e Draco, e ter exposto os dois na frente de todo mundo, humilhando eles com a verdade?

Foi uma sacanagem com o casal. Se é que eles continuavam juntos. Ele não ligava.

E tinha a última alternativa; que ele estava puto com ela por causa do fora que ela havia lhe dado, tantos meses antes.

Me desculpa.

Por favor. Desculpa? Ela gostava dele, e Blaise sabia disso. Se não soubesse, nunca teria se declarado, para começar.

Mas agora, me desculpa?

Ela simplesmente foi embora? Simples assim?

Ele não queria aceitar isso. E odiava todas as vezes que Pansy sorria, gargalhava ou qualquer outra merda, porque ela deveria estar triste por ter pedido alguém como ele. Blaise sabia que, por mais que ele fosse um cuzão às vezes, ele não era pouca coisa também.

Maldito seja o dia em que ele se apaixonou por ela.

𑁍

No jantar, duas noites depois, a mesa estava posta e todos já haviam se sentado; com exceção de Draco - que havia ido até uma vila há algumas horas dali, para fazer compras, e ainda não havia voltado; e Mattheo. Claro.

Angel observou o lugar ao seu lado; o prato que sempre ficava limpo ali, pois ele nunca aparecia para jantar. Mas ela fazia questão de arrumar a louça e os talheres, todas as noites.

Estava começando a sufocar. Essa sensação de que ela era indesejada; de que estava sendo ignorada; que, de alguma forma, aquilo era culpa dela.

Ela chorava sempre que pensava estar sozinha, e fingia que nada estava acontecendo quando alguém chegava perto. Na cabeça dela, aquilo funcionava.

Mas Pansy, Blaise, Draco, Saori, Lorenzo e Theodore haviam feito um acordo entre si, algumas noites antes de irem resgatar Mattheo na mansão Riddle.

"Não vamos perguntar nada para eles. O que estão passando lá dentro é uma dor que não conseguimos imaginar. Deixem que eles tomem a iniciativa de desabafar, não pressionem. Pode levá-los a quebrar ainda mais."

Então... ninguém perguntava.

Angel estava começando a sentir o peso de tudo que havia acontecido. Quando estava n'A Toca, ela não permitiu se lembrar das coisas que aconteceram naquele cativeiro. Como precisava fugir de lá, algo ocupava sua mente.

Mas agora que estava a salvo, agora que estava com sua família...

Ela tinha tanto tempo. Tanto, tanto tempo para se lembrar de cada detalhe, de cada cena, de novo e de novo, até que quase enlouquecesse.

As crises de ansiedade estavam acontecendo silenciosamente. Às vezes, ninguém percebia o furacão que acontecia dentro de si. Mas ela sentia tudo; e tudo machucava.

Todas as noites, era acordada por pesadelos cruéis e suor no corpo. Todas as noites, precisava ser acalmada por uma de suas amigas, pois gritava e gritava de puro terror e desespero.

E assim que se acalmava, passava horas na frente do espelho, procurando por suas antigas cicatrizes, que já não estavam mais ali.

Ela estava em um corpo completamente novo.

Draco apareceu em um estalo, com duas sacolas de papel nos braços e um rosto um pouco pálido. — Trago notícias.