46 - Saori, 1996 (passado)

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Ele disse a si mesmo que tinha sido um erro. Que estava abalado emocionalmente, e nunca mais aconteceria. Repetiu isso de novo e de novo, como um mantra. Após o primeiro beijo. Após o segundo e o terceiro. Após a segunda vez que tocou nela, pois na primeira ele estava bêbado e magoado, pois Saori havia escolhido a mimada Fallen a ele.

Ele se sentia mal, de verdade. Mas parte da culpa era dela. Por negligenciá-lo. Por preferir livros e estudos e treinos, e a amiga perfeita dela, cujo único problema era as notas baixas, e não escolhê-lo.

Tá certo que ele estava errado também. Depois de um tempo, todas as vezes que ela tinha um tempo livre, ele arrumava algo para se ocupar. Mas não queria encará-la por tempo demais, e admitir que havia traído ela. Ainda não.

Começou no ano anterior, alguns dias depois do aniversário de dois anos deles. As provas começaram, e ele até que estava preocupado, mas nada como ela. Ela estava obcecada com os estudos. Passava as tardes na biblioteca e virava as noites com a cara enfiada em um livro, se as olheiras indicassem algo. E, para ajudar, todo o tempo que tinha livre, ela passava com Angel. Ajudando-a com poções; passeando por Hogsmeade. Houve um episódio em que ela o convidou para assistir um dos muitos treinos que elas tinham com artes marciais, e ele até tentou ficar lá. Mas não aguentou quando percebeu que ela estava sendo egoísta, e não passava esse pouco tempo com ele.

Então, ele passou a treinar. O time de Quadribol estava ferilhando por causa dos treinos que ele fazia. Seu corpo passou a ter mais músculos pelos exercícios pesados, e as garotas passaram a perceber isso também. Ele até gostava daquela atenção. Ele até passou a tirar a camisa durante os treinos, para se sentir um pouco mais amado.

Já que sua própria namorada não andava presente nem para abrir as pernas por alguns segundos.

E então, veio Cho Chang. Ela era tudo o que Saori foi no início da relação. Fofa, inocente, intocada. Toda envergonhada e respeitosa. Sempre tinha tempo para ele.

Assim, ele começou a desabafar com ela. Em como Saori já não ligava mais para ele; como ela andava distante e fria, só se importando com os estudos e a amiga. Como, sempre que ela tinha um tempo livre, era sempre quando ele estava atarefado.

Ele pensava ser a vítima da relação. O pobre coitado.

Então não se sentiu mal no momento em que o primeiro beijo aconteceu. Só depois. Assim como não se sentiu culpado quando mergulhou para dentro de sua querida Cho. A primeira vez não conta, pois ele havia se embriagado. Colocou a culpa na namorada, mas o real motivo era por ter perdido no jogo de quadribol. Já a segunda, deixou-o meio estranho, sim.

Depois da terceira, ele parou de se importar.

Na quarta, ele passou a aproveitar muito mais.

Na quinta, ele disse, jurou que seria a última vez. (Ele havia transado com Saori na noite anterior, e ela havia pedido desculpas por andar tão distante. Ele ficou meio mal.)

Na sexta, ele já havia esquecido da promessa que tinha feito na semana anterior.

Na sétima, parou na metade, pois o jeito que Cho gemeu lembrou-lhe de Saori, e ele começou a chorar. Amava a namorada, afinal.

Na oitava, ele já não lembrava que era véspera do aniversário de três anos deles.

E, depois de mais de dois anos com um caso, ele ainda amava Saori. De verdade. Mas na última, há uma semana, esqueceu-se do nome dela enquanto ela gritava por ele.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora