37 - Hogsmeade, 1996

444 44 3
                                    

Ela encarava o loiro, que estava com os lábios cinzas de tão pálido. Observou-o realmente, reparando em como ele engoliu em seco ao voltar o olhar rapidamente para a mesa, onde Mattheo estava sentado. Notou em como ele secou rapidamente as palmas, que deveriam estar extremamente suadas, se a testa brilhante significasse algo. Ele inspirou fundo, voltando o olhar vítreo para ela.

Na cabeça de Angel, as teorias corriam soltas. Ela havia notado brevemente, quando eles andavam pelas ruas de Hogsmeade, um formato retangular no casaco do loiro, que delatava o embrulho. Era aquilo? O que ele havia entregado para a amiga da corvina?

As engrenagens trabalhavam, fervendo sua cabeça com ideias cada vez mais improváveis. Por que ela precisava perder o pacote? O que havia naquele pacote? Por que o Malfoy não o perdia ele mesmo? Isso tem relação com o comportamento estranho de Mattheo? Com os segredos que eles estavam guardando?

— Vai falar alguma coisa, ou vamos ficar nos encarando como idiotas até o bar fechar? - ela bufou, revirando os olhos. Embora estivesse curiosa, sabia que não era assunto para meter seu nariz. Pelo menos, não naquele momento.

Draco soltou um suspiro de alivio, escondendo as mãos trêmulas no bolso do casaco. — Angel, eu...

— Não, não diga nada. - ela o interrompeu, erguendo uma mão - O assunto é seu, independentemente. Mas acho importante dizer que, o que quer que esteja fazendo, precisa dar muito certo e não enfiar vocês dois num poço de merda. É bom que dê certo, Malfoy. Eu gosto dele, e não quero mais problemas para a vida dele. Para a minha.

Ele entendeu que estavam falando de Mattheo. Com um movimento leve de cabeça, ele inspirou fundo, olhando para o moreno, que bebia em silêncio o que presumiu ser cerveja amanteigada. Ela seguiu o olhar dele, seu peito inundando-se com um calor já conhecido. — Por favor, não façam merda. - sussurrou, e Draco voltou o olhar para a loira; um brilho parecido com dor refletindo nos olhos dela - Ele faz com que eu me sinta parte de algo. Não posso... Não posso perder essa vontade de viver, não mais.

Ele sabia o que ela queria dizer. Quando você se apaixona pela vida... fica viciado na sensação que aquilo traz. Há quanto tempo ele não sentia vontade de viver? Há quanto tempo ele vêm sido uma casca de depressão, ansiedade, culpa e angústia?

O coração dele se apertou com o pensamento. Lá no fundo, às vezes, ele cogitava a escolha que tinha. E se... simplesmente desistisse? E se... ele abrisse mão de tudo, incluindo a própria vida?

Draco empurrou os sentimentos suicidas para dentro daquela caixa que costumava manter trancada. Uma caixinha bem ao fundo de seu peito, que guardava todas as suas emoções. Ultimamente, porém, pensamentos como aqueles têm escapado da tranca, inundando seu corpo.

Angel suspirou, voltando o olhar para Draco. — Na sala de astronomia, o ar inunda as poucas paredes. - sussurrou, como se fosse um segredo - Quando a ansiedade atacar, vá para lá e respire fundo, deite no chão e conte até cem. Às vezes, ajuda.

E ela sai, andando até a mesa em que seus amigos se encontravam, sorrindo verdadeiramente ao olhar Mattheo.

Draco perguntou para si mesmo em como ela sabia que suas crises andavam piorando.

𑁍

A Dedos de Mel estava quente e borbulhando com crianças. Os terceiranistas, em sua primeira visita à aldeia bruxa, entupiam cada centímetro de loja com suas gargalhadas e cochichos. Mattheo havia se recusado a entrar na loja, Draco apoiando o moreno ao se sentarem em um banco próximo, do outro lado da rua de paralelepípedos. Blaise havia puxado Angel e Saori por entre os corpos que se empurravam na loja, até uma sessão de tabletes de chocolates que prometiam poderes temporários.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora