Ele não sabia o que estava acontecendo com ele.
O ódio de ter visto ela saindo com o Potter, corroeu suas entranhas, e ele realmente queria matar aquele infeliz.
No dia seguinte, ele reparou em como ela estava cabisbaixa. Como estava tampando cada centímetro de pele, mesmo que o dia estivesse mais quente para um domingo em pleno janeiro; em como ela parecia... triste. Abalada. Você não se importa com isso, respondeu a si mesmo quando algo parecido com preocupação inundou seu corpo.
Já ela...
Ela estava destruída. Como pôde ser assim tão idiota, e não perceber, não relacionar... Mattheo Riddle. Filho de Tom Riddle.
Quando Harry gritou em sua cara o quão estúpida estava sendo ao se envolver com ele, ela nunca se sentiu tão inocente. Ela realmente não fazia ideia. Mas não, para Harry, ela estava fazendo isso para atingi-lo. Pois ela sempre faz algo para atingir o herói. Sempre.
Ela teve uma crise de pânico tão forte naquela noite que, quando Saori entrou no dormitório que compartilhavam e encontrou a amiga ensanguentada e sem consciência no chão, precisou chamar a Madame Pomfrey imediatamente. A música não ajudou. A dor não ajudou... Claro, a japonesa sabia que precisava manter o sigilo, era algo íntimo da amiga.
Angel acordou poucas horas depois, com os pulsos enfaixados e o pescoço, que ela havia arranhado até sangrar, estava curado. Ela se sentia derrotada.
Você deveria ter morrido na barriga de sua mãe, assim não seria outro problema, disse para si mesma, de novo e de novo. Ela sentia vergonha de si a cada respiração.
Seu corpo traiu ela primeiro, mas sua mente seguiu o embalo quando passou a desejar Mattheo com a mesma intensidade que seu corpo o fazia. Merda... ela queria que ele a tivesse beijado, mesmo agora. Agora, certamente, Harry, Ronald e Hermione não confiariam mais na garota.
Ela sentia o olhar dele sobre si na aula de história da magia. E ele se perguntava o porquê de ela estar vestida assim.
Ela sentiu ânsia quando foi almoçar, sua mente querendo punir o corpo por tê-la traído tantas vezes. Ele reparou que ela engolia com dificuldade.
Ela só queria que o dia acabasse, para que pudesse se trancar por algumas horas no banheiro e lidar com seus machucados. Para que pudesse abrir as feridas do pulso novamente e fazer com que a dor física acalmasse sua mente.
Ele queria apertá-la contra si, e foda-se o ódio que estava sentindo por ela. Ele sabia que ela não estava bem. A cada vez que colocou seu olhar nela naquele dia, ele via sua imagem, com seis anos de idade, vomitando pelo chão da sala de reuniões.
Mas o dia passou... e os seguintes também. E ele não fez nada.
𑁍
Uma semana depois
Ele foi até a estufa que ela confiou à ele, o cheiro que impregnava o cabelo da garota atingindo seu nariz quando se aproximou das flores. Andou até o fundo da estufa, vendo os lotes de terra que ela disse existir, e observou-os, sem saber o que fazer.Tantos anos observando o jardim durante a madrugada... e ele não sabia como plantar uma flor. Que irônico.
Mattheo pegou as luvas azuis de tecido que estavam sobre uma mesa, mas desistiu de usá-las. Queria sujar as mãos hoje.
Pegou a pá, o regador, o adubo que ficava guardado em um armário, em potinhos com doses perfeitas para cada lote; e por fim, as sementes que havia comprado no dia seguinte à festa de Slughorn, querendo uma desculpa para ir vê-la. Para assisti-la enquanto ela plantaria e brincaria na terra.
Mattheo passou a cavar a terra do primeiro lote, mas parou quando percebeu que o buraco parecia grande demais. Um guaxinim caberia ali. Ele riu com a ideia de que ali poderia ser a cova de um guaxinim, passando a voltar a terra para o lugar e cobrir o buraco.
Sem nem mesmo perceber, ele começou a cantarolar uma melodia, vinda da única memória boa que ele tinha da infância.
Mattheo agora colocava as sementes nos pequenos buraquinhos que ele havia feito com o dedo, batendo de leve na terra para afofá-la e deixá-la lisa. Ele ainda não havia percebido Angel ali, estática, enquanto ouvia a cantoria do garoto e observava ele plantando.
Ela havia ido até lá para aliviar a mente, e ficou assustada quando viu as luzes acesas. Se odiou no momento em que viu Mattheo ali, pensando que não deveria ter contado à ele sobre aquele lugar. Mas quando ela o ouviu cantando sua música, o mundo simplesmente parou.
Não conseguiu deixar de pensar que era a coisa mais fofa e cômica, vê-lo ali, plantando, cantando, e sujando as mãos com terra. Ela não sabia o porquê, mas na sua cabeça, ele não parecia o tipo de pessoa que gostava de ter as mãos sujas. Como uma espécie de TOC.
Ele regou as sementes que já estavam cobertas de adubo e terra, passando a fazer mais buracos com os dedos. Ela lutou contra uma risada que teimava em sair, achando fofo e infantil quando ele falava "pum!" ao furar a terra. Como será que ele era quando criança?
Ele tem cara de encapetado, riu consigo mesma.
Ela se aproxima silenciosamente, ele ainda ignorante à sua presença. Angel se agacha ao seu lado, e Mattheo muda completamente o comportamento, parando de cantar e... se divertir. Ele limpa a garganta, se sentindo envergonhado pela forma idiota que estava agindo. Ela sorri para ele, parece triste. — Não pare. - sussurra para ele - Como conhece essa música? - pergunta quando ele não se move ou diz algo.
Ele a encara, o que ela quer dizer? — Eu... - ele começa, pensando na garota do cemitério - Escutei alguém cantando uma vez. - não fazia sentido mentir. Ele não estava conseguindo manter a máscara ignorante perto dela. Não mais.
Ela sorri, inspirando fundo. Angel começa a cantar a mesma melodia que ele murmurava há pouco tempo, mas ele não entende o que ela está fazendo. Ela olha para ele, corando.
O coração dos dois está batendo mais rápido agora. Ele ama o sorriso dela. Ela ama o jeito que os olhos dele parecem atravessar sua alma, e enxergá-la de verdade.
— Eu criei essa música quando tinha sete anos. - ela diz, passando a fazer furos na terra com o dedo, como ele estava fazendo há pouco tempo - Toda vez que eu tinha uma crise de ansiedade, eu cantava ela.
Ele a observa, as peças se encaixando em sua cabeça. Ela era a garota que cantava no cemitério? Ela era a garota que ele sempre lembrava quando pensava se existia uma dor melhor? O coração de Mattheo já não consegue bater mais rápido. Parece que ele correu uma maratona.
Ela ainda olha para a terra quando volta a cantar, todas as preocupações que entupiram sua mente a semana toda estão indo embora. Ele a observa quando ela coloca as sementes nos buraquinhos e os recheia com adubo antes de cobri-los com terra. Quando ela vai pegar mais sementes, repara que acabaram.
— Ah! Espera um pouco. - ela diz e sai correndo, fuxicando em um dos muitos armários que haviam por lá, e volta com um saquinho. Mattheo a encara, com dúvida brilhando nos olhos.
— Eu pedi para a professora Sprout há algumas semanas. - ela mente. Nunca admitiria para ele que assim que mostrou a estufa para o garoto, deu um jeito de comprar as sementes só para ter uma desculpa para conversarem.
Angel entrega um punhado das sementes para ele, que começa a fazer mais furinhos na terra. Por um bom tempo, eles ficam ali, em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro. Ela esqueceu, só por aquele momento, que o odeia. Ele esqueceu, só por aquele momento, que está com raiva dela. Porém, eles certamente não esqueceram por aquele momento, e em momento algum, o quão rápido seus corações estão batendo dentro do peito.
𑁍
Deem seu voto! ★
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Biografia de Mattheo Riddle
Fanfiction⚠️ ATENÇÃO. Esta fanfic possui cenas de talhadas de abuso, agressão, tortura, estupro, sexo e mutilação, podendo causar gatilhos em muitos leitores. Leia com consciência. ......... "Eu jurei, prometi aos céus e aos deuses que vingaria cada segund...