52 - Hogwarts, 1996

363 44 1
                                    

Ele estava suando. Suando muito, anormalmente. Caída na sua frente, ela chorava; sangue escorria pelos cabelos, empapando os fios e fazendo com que a pele parecesse ainda mais pálida do que já estava. O cheiro dela atingiu seu nariz, enquanto ela gritava, de novo e de novo, Voldemort sorria observando a cena.

Não! - ele gritava, mas ninguém parecia ouvir - Não!

Ele estava de pé. Mas suas pernas pareciam dormentes, então não sabia como ainda não havia caído. Seus pés não se moviam, assim como o resto do corpo parecia petrificado. Exceto pela consciência. Não, ele entendia bem o que estava acontecendo. —Não! Por favor!

Voldemort piscou e olhou para ele, como se finalmente tivesse notado sua presença. O homem, porém, ignorou seus súplicos e lamúrias. — Por favor, eu imploro!

Ele sentia as lágrimas fantasmas que escorriam por seu rosto, mas ao olhar para baixo, ele não tinha corpo. Sentia seus membros, sentia o jeito que eles se negavam a obedecer suas ordens por movimento, mas ele não se enxergava. Por isso não o escutavam? Por que ele não existia?

A mulher gritou mais; um grito dolorido e de partir o coração. Sua imagem sendo refletida no chão coberto por água, que tinha centímetros do líquido, cobrindo-o por inteiro. O céu não era um céu, mas um infinito branco e morto e sem cores. Somente a água do chão, que era de diversos tons de verde e preto e salpicado com o vermelho do sangue da mulher. Não havia ferimentos visíveis dessa vez, então era de se entender que Voldemort estava usando Crucio nela.

—NÃO! - ele gritou uma última vez, a voz sumindo de repente, e tudo ficou negro e confuso, e ele caía. Mas não tinha como ele cair, pois não tinha corpo. Do mesmo jeito, ele sentia o jeito que seu corpo invisível caía, em direção ao chão e...

Ele atravessou o chão coberto de água. Não se molhou, embora tivesse sentido o sopro gélido que tocou seu corpo inteiro enquanto ele parecia girar e girar, atravessando vários chãos e diversas cenas onde aquela mesma mulher gritava ou chorava ou sangrava...

Morta.

Draco vomitou no chão antes de conseguir chegar no banheiro.

𑁍

Ele havia dormido durante a tarde. Agora, oito horas da noite, os sonserinos se reuníam na comunal para jogar conversa fora. Ele não estava afim de conversar.

Sua mãe. Vira sua mãe ser torturada diversas vezes, das piores formas, repetidamente.

Seu estômago ainda se revirava ao pensar no sonho. Olhou para seu reflexo em um dos muitos espelhos que haviam no salão; mais pálido que de costume. Os lábios estavam brancos e as pálpebras tremiam levemente.

Ele foi até uma das lareiras, pegando alguns dos biscoitos de leite que sempre ficavam ali. Foi difícil engolir, mas se obrigou a fazê-lo do mesmo jeito. Draco se sentou em uma poltrona, o calor da lareira acesa sendo bem vindo; seu corpo ainda tremia com calafrios. Ele observou o vidro que servia de parede; o lago que refletia por trás dele estava silencioso e constante. A fraca luz esverdeada brilhava no chão de madeira.

— Oi Draco. - ele ouviu, virando-se e encontrando Angel e Mattheo. Eles haviam acabado de chegar, de onde quer que estivessem. A loira estudou-o, suas feições relaxadas passando a ficar preocupadas - Está tudo bem?

O estômago dele se revirou quando flashes de seu pesadelo incendiaram sua mente. Ele engoliu em seco. — Sim. - murmurou - Está tudo bem.

Mentiroso. Ela sabia que não estava.

Angel sentou-se ao lado do loiro, em uma poltrona gêmea à dele. Mattheo apoiou-se no braço da cadeira da menina, em silêncio enquanto comia os bicoitos da bandeja. — O que foi? - perguntou, roubando o biscoito que Mattheo segurava e sorrindo para ele quando o mesmo lhe encarou. Ela mostrou a língua para o moreno e voltou a atenção para Draco, não vendo quando o Riddle revirou os olhos.

— Não... - ele suspirou - Tive um sonho ruim.

Não planejava dormir durante a tarde; mas andava tão exausto pelas noites mal-dormidas, graças à insonia que sua ansiedade causava, que acabou adormecendo sem nem perceber enquanto lia deitado na cama. Ela mordeu o interior da bochecha, pensando.

— Sabe do que você precisa? - ela disse, depois de um tempo. O loiro apenas a encarou enquanto um sorriso perverso pintou nos lábios rosados - De uma distração.

Ele deve ter expressado a confusão com o olhar, pois ela bufou, revirando os olhos. — Sexo, Malfoy. Precisa ficar com alguém.

Mattheo se engasgou, pegando uma das canecas de chocolate quente que haviam ali, ao lado dos bicoitos. Ela o encarava, diversão brilhando nos olhos cor de mel. — Como é? - ele disse, tentando se acalmar. Ela mordeu os lábios, querendo rir.

— Não estou falando de mim, Mattheo. Só estou dizendo que ele precisa parar de ser um depressivo chato.

O moreno a encarou, a intensidade do olhar fazendo Draco corar. — Você me usa como uma distração, atrevidinha? - a voz de Riddle estava grossa, e ele reparou quando Angel se arrepiou, a respiração falhando. — Talvez. - ela sussurrou, sorrindo. Mattheo ergueu levemente as sobrancelhas, surpreso. — Você é uma péssima mentirosa.

Draco os observava; as pessoas mais próximas de amigos que ele tinha. O peito se apertou.

— Enfim! - ela suspirou, depois de comer Mattheo com os olhos - Aproveita que vamos jogar hoje, e fica com alguém. Alivia a tensão.

E, percebeu Draco, fazia um bom tempo que não tocava ninguém. É, poderia funcionar.

Ele voltou dos pensamentos quando ouviu Angel gargalhar. Olhou para os amigos: Mattheo havia colocado a garota sobre seus ombros e saía para os dormitórios. — Vamos ver o quão bem posso te distrair. - o loiro ouviu Mattheo falar baixo.

— Mattheo, não! Eu tô no segundo dia ainda! - ela sussurrou de volta, mas Draco já não os ouvia. Ela conseguia sentir o homem que a carregava sorrindo.

— Sua boca vai servir.

𑁍

Deem seu voto! ★
Deixe seu comentário! ✍︎︎

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora