116 - Mansão Nagasaki, 1997

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Quando o sol queimava alto no céu e os pés de Angel já doíam dentro do tênis, Mattheo parou. — Já conseguimos aparatar aqui.

— Por que não fizemos isso antes? - ela perguntou relutante. Mattheo não olhou para ela ao responder. — Muita gente, muito longe. Era perigoso e poderíamos acabar nos perdendo.

Ela mordeu o interior da bochecha, engolindo a sensação incômoda que crescia dentro dela. — Entendi. - ela cochichou baixinho.

Mattheo precisou respirar fundo para que o coração não doesse tanto. Era tão cruel... estar perto dela mas precisar se manter afastado. Porém, ele era um risco para Angel, então não arriscaria a garota por pura mesquinhez.

Já havia feito isso antes. Nunca mais.

Ele esperou, e sentia os olhares dos amigos sobre si. Quando finalmente perceberam que precisavam se aprontar, foram para perto uns dos outros e deram as mãos. Mattheo foi até Blaise, apertando em seu ombro e olhando rapidamente para as garotas. — Segurem firme.

Ele inspirou fundo e a sensação de ser espremido pelos véus do mundo fez suas entranhas tremerem. Quando piscou, a enorme mansão de Saori era a única construção a ser vista em quilômetros inteiros de campos e florestas.

Angel olhou boquiaberta para a construção. — Uau. - ela sussurrou, olhando para Mattheo - Onde estamos?

Ele não respondeu, indo até a casa e deixando a porta aberta quando entrou. Mattheo não saiu do quarto pelo resto do dia.

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Angel engoliu a bolota que havia se formado em sua garganta, entrando na casa luxuosa que havia descoberto ser de Saori. Os amigos a seguiram, Pansy ficando para trás a fim de traçar feitiços de proteção pelos arredores da mansão.

Saori guiou a amiga para os andares superiores, indicando uma porta de madeira dupla linda e talhada com flores em dourado. — Esse é seu quarto. O meu fica ali no fim do corredor, e Mattheo é seu vizinho, na esquerda. - ela apontava as portas detalhadas numa explicação breve - Acho que você deve estar querendo descansar... - sussurrou, apertando a mão da amiga - Tem uma banheira aí dentro, com vários tipos de sabonete e todas essas coisas que você gosta. Se tiver com fome, desce e me chama, que te faço um tour e comemos algo.

Angel sorriu fraco para a amiga. — Obrigada, Sa.

Ainda não era hora para uma conversa. 

A japonesa sorriu amarelo e deu meia-volta, descendo as escadas. Angel olhou mais uma vez para a porta de Mattheo antes de entrar no quarto.

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O quarto era enorme. Com uma cama grande de casal, o dossel dela era feito com um tecido creme pesado e delicado, bordado com tons de rosa claro, verde e amarelo em desenhos de flores. Aos lados da cama, duas mesinhas; uma com um vaso cheio de flores. A outra, com três livros empilhados.

Havia uma penteadeira no canto do quarto, oposta à cama e contra a janela. As cortinas eram do mesmo tecido que o dossel, com babados de cetim.

Um tapete felpudo e branco no chão; uma banheira grande no canto mais afastado do quarto e um biombo de madeira branca aberto atrás. Uma prateleira de livros na mesma parede que a penteadeira, e duas poltronas rosa-claro ao lado de uma pequena mesa de chá. Um lustre enorme de cristal pendia do teto.

Angel colocou a pequena mala sobre a cama, fuxicando ali dentro para pegar o livro que os gêmeos haviam lhe dado, e uma muda de roupas.

Ela abriu a banheira, que encheu rapidamente, jogando sais de banho e óleos que haviam empilhados em uma pequena mesa ao lado da banheira. A água estava morna ao colocar a mão para medir a temperatura.

Angel se despiu, encontrando toalhas atrás do biombo - onde haviam prateleiras vazias para colocar roupas, e entrou na água perfumada.

Ela suspirou, mergulhando a cabeça na banheira e pegando um pouco de shampoo para lavar os cabelos. Angel esfregou a cabeça com os dedos, massageando com força até demais.

Ela sempre pensava demais quando estava no banho.

Em sua cabeça, todas as teorias e hipóteses sobre Mattheo. Por que ele estava agindo assim? Ela tinha feito alguma coisa? Ela não se lembrava muito bem das últimas horas dela naquela mansão dos infernos, mas e se ela tivesse feito alguma merda?

Milhões de probabilidades, cada uma pior que a outra. O peito dela doía só em pensar na distância entre eles.

Ela mergulhou novamente, a espuma escorrendo pela água, e passou o condicionador.

Seu peito doía cada vez mais ao pensar em como as coisas vinham dando errado. Tudo bem que ela estava em casa novamente, mas nunca havia se permitido pensar nas coisas que havia sofrido.

Mattheo certamente sofreu mais do que ela, então estava sendo mesquinha ao ficar triste por si. Mas mesmo assim...

Uma lágrima escorreu pela bochecha e o sangue desapeou em desespero e medo. As memórias daquela mesa voltaram, lembrando-a da tortura.

O corpo doía em um fantasma de ferimento. Não tinha restado nenhuma cicatriz. Nem mesmo as que ela havia feito em si.

A pele era nova; as coisas que fizeram com ela foram brutais demais para que a carne se curasse sozinha. Então, eles apenas substituíam tudo.

Angel tocou na barriga e nos braços, chorando e com dor no peito. Ela esfregou o sabonete na pele, procurando limpar a perfeição da carne e buscando suas antigas cicatrizes.

Limpe isso. Por favor, limpe isso.

Ela esfregou a esponja até que a pele doesse e, em alguns pontos, sangrasse. Angel chorava violentamente agora, tremendo de medo e tristeza e desespero.

Mattheo... Mattheo, por favor, me tire daqui. - ela chorava em silêncio. Por favor, me salve daqui.

Ela sabia que já estava a salvo, mas nada a impedia de se prender na própria mente. Só ele poderia mantê-la firme por tempo o suficiente para que não quebrasse.

Mattheo, por favor. Por favor, não vá embora também.

Ela ficou chorando na banheira até que se exaurisse e acabasse adormecendo na água, esperando que Mattheo abrisse a porta e a salvasse.

Ele não apareceu.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora