13 - Angel, 1991 (passado)

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A garota não tinha um quarto ali, então dormia no pequeno colchão que havia no porão. Estava tudo tão sujo, que ela espirrava toda hora.

Mas ela estava feliz agora. Ele finalmente estava livre, e uma hora poderia voltar e buscar ela. Ele voltou, mas foi embora de novo. Porém ela sabia que ele levaria ela um dia. Ano que vem, talvez. Ou amanhã. Ela tinha que manter as esperanças. Precisava.

Mas ela sabia que ele não voltaria. Ele culpava ela pela morte da mãe, mesmo que ela não tivesse culpa.

Suas mãos estavam doloridas, e seus braços já estavam moles, de tanta força que ela estava fazendo. Passos pesados desceram as escadas do porão, e a porta foi aberta.

O homem robusto e mau-humorado a encarou. — Pegue o que você tiver. Vai poder trocar de... - ele olhou ao redor, julgando, e riu - De quarto.

Seu peito incendiou-se de felicidade. Era a primeira coisa que eles falavam com ela desde a tarde anterior, quando gritaram palavras cruéis.

Você deveria ter morrido junto com sua mãe, garota! Assim não seria mais um aborrecimento para nós.

Ela chorou bastante quando eles repetiram essas palavras. Da primeira vez que disseram isso, ela tinha sete. Quando perceberam que ela ficava chateada, passaram a dizer mais e mais vezes.

Agora, com onze, não machucava tanto assim. Mas ontem doeu. Porém, ela desceu as escadas de cabeça erguida, e cantou sua música enquanto chorava. Essa coisa da familiaridade acalmava ela.

Ela coloca o pequeno ursinho de pelúcia, sujo e rasgado, sobre o lençol que usava para forrar o colchão sujo em que dormia. A pulseira com tantos pingentes sempre irritava aquele homem, mas hoje ele não havia reclamado. Ainda.Fez uma pequena trouxa com as poucas coisas que possuía e subiu atrás do homem pela escada, pensando com um riso que se ele caísse, ela seria amassada até a morte.

Sua barriga doeu quando ela se curvou para segurar a risada. O grande corte que rasgava de sua costela até o umbigo começou a sangrar novamente.

Merda, ela pensou. Não posso manchar essa roupa, foi a única que me deram essa semana.

O homem parou estático no corredor, e ela bateu em suas costas. Não estava prestando atenção, pois enrolava discretamente a fronha do travesseiro fino que possuía ao redor do corpo.

Vai estancar o sangramento, pensava. Ela encarou o homem, que ainda não se movia. Olhou por baixo das pernas abertas dele vendo uma figura alta, um homem com uma grande barba branca que a lembrava do Papai Noel estava parado na sala. Ele vestia roupas engraçadas, ela riu consigo mesma. Um vestido roxo tão longo que chegava aos pés do velho, com mangas largas e compridas e desenhos de luas e estrelas em dourado.

Parece um feiticeiro, ela encarou o chapéu pontiagudo na cabeça do velhinho e, ao olhar para o rosto dele, percebeu que os olhos azuis, que estavam atrás de pequenos óculos em meia lua, encaravam-na.

Ela pulou de susto, voltando a se esconder atrás do homem gordo. Ninguém havia falado nada até agora, e ela realmente precisava passar, para ir se lavar no banheiro.

— O que está fazendo aqui? - o homem gordo disse, finalmente - Não queremos gente da sua laia por aqui.

O velho soltou uma risada rouca. — Vim buscar Angel, que, impressionantemente, não foi encontrada por nenhuma das corujas que enviei.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora