74 - Hogwarts, 1996

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Mattheo ficou tenso ao seu lado. — Ele conseguiu?

O loiro negou. — Não. Mas ficou claro o que ele queria passar.

Mattheo apenas esperou. Draco suspirou. — Minha mãe está sendo mantida em cativeiro. Ele só vai liberar ela quando tentarmos de novo. O tempo está correndo, Mattheo, e não está esperando por nossos caprichos.

Draco fechou as mãos em punho ao perceber que tremiam. Ele engoliu em seco. — Eu... estou com medo. - admitiu trêmulo - Se isso der errado...

Mattheo encarava um ponto no chão. O moreno engoliu em seco, nervoso. — Também estou com medo. - sussurrou mais para si mesmo - As coisas que eu tenho agora, quem eu tenho agora... Eu sou o único que pode dizer saber das coisas que meu pai é capaz. - engoliu em seco, o massacre que foi obrigado a participar aos 14 anos voltando em sua mente. Ele suspirou. - Vamos dar um jeito nisso.

Draco reprimiu um soluço. — Não posso perdê-la, cara. Ela é... a única coisa que me resta agora.

Mattheo olhou para o amigo. Medo e dor cintilando nos olhos castanhos. — Eu também não. Conseguiremos encontrar um caminho, uma maneira de fazermos isso.

Draco ofegou, o choro entalado na garganta. Ia respondê-lo, mas a porta foi aberta. — Vamos ajudá-los. - Angel entrou, seguida por Saori. Ambas os encararam, empatia e medo e dor e algo a mais brilhando nos olhos delas.

— Angel. O que...? - Mattheo ficou alarmado, mas ela levantou uma mão para que ele se calasse.

— Eu sei o que estão fazendo. Ou pelo menos, parte disso. Não vou deixar vocês se atolarem na merda sozinhos. Não vou deixar você se atolar na merda sozinho, Mattheo. - começou com a voz firme - Então, iremos ajudar.

O moreno a encarou com pesar e preocupação. — Angel, você não sabe no que está se metendo...

— Sei sim. Desde meu nascimento eu sei. Já tenho um alvo cravado em minhas costas desde que fui retirada da barriga da minha mãe. Não vai ser por sua causa que isso vai mudar, Mattheo, e você sabe. Independentemente de ajudá-los ou não, Voldemort ainda vai acabar comigo quando descobrir quem eu sou.

— Ele não vai. - Mattheo rosnou - Aquele homem não vai encostar em você.

A determinação nos olhos da loira falhou, tornando-se algo carinhoso. — Ele vai, Mattheo. Porque eu posso não estar presente fisicamente para ser morta, mas ele tem você.

As palavras foram como um baque para ele. Ele ofegou, tentando respirar, enquanto a realidade o atingia. Ela franziu os lábios, olhando para Draco e deixando Mattheo com o tempo dele. Saori estava silenciosa como uma serpente.

— Você tem um alvo nas costas, Angel. Mas e ela? - Draco não pôde deixar de notar. A loira engoliu em seco.

— Eu faço minhas próprias escolhas. - Saori respondeu com o olhar firme - Sejam elas boas ou ruins.

Draco ignorou o pesar no estômago, e eles não disseram mais nada por um bom tempo. Ficaram observando Mattheo, que parecia estar em estado de choque.

Angel foi até ele, acariciando o rosto belo do garoto e beijando os lábios dele. Os olhos dele se voltaram para ela, mas ele não estava realmente ali. Ela sorriu. — Está tudo bem. Está tudo bem em ter alguém que goste de você. Está tudo bem por ter alguém que se preocupa, por ter alguém para se preocupar. Está tudo bem, Mattheo.

Ele piscou, como se tivesse acordado. A voz dele estava tão rouca como se tivesse gritado por horas a fio. — Não vou conseguir te impedir, não é?

Ela riu fraco, beijando os lábios dele. — Definitivamente não.

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Eles estavam planejando há horas um plano que se saísse bem sucedido.

Mas matar Dumbledore...

Angel queria esfolar Voldemort até a morte por obrigá-los a fazer atrocidades tão absurdas assim.

Quando eles entenderam que não tinham merda nenhuma para formar um plano, foram se deitar. Angel seguiu Mattheo até o quarto, fechando a porta atrás de si e se sentando na cama do moreno, que suspirou.

Ela tomou coragem e por fim conseguiu perguntar. — O que ele fez com você, Mattheo?

Ele sabia de quem ela falava. Ficou em silêncio, por tanto tempo que ela quase dormiu de exaustão. Mas então, ele começou. — Quando eu tinha... - engoliu em seco - Quando eu tinha seis anos, foi quando ele passou a me obrigar a assistir suas sessões de tortura.

Angel ficou quieta, o estômago pesando.

"Na primeira sessão, eu vomitei. Os gritos, o cheiro do sangue, ver os órgãos daquelas pessoas caindo para fora do corpo como se fossem saliva... tremi a noite toda. - engoliu em seco.

"Com oito anos... Ele fez eu... matar pessoas. Quando você vai usar uma maldição imperdoável, precisa querer usá-las. Demorei semanas até entender que a morte seria uma misericórdia para elas.

"Com onze, eu descobri que havia um menino no calabouço. Ethan. Ele tinha seis, a pele morena e olhos grandes... - ele riu fraco, e percebeu que chorava. Seu peito estava apertado no peito ao reviver as lembranças - Tentei fugir com ele. Mas os homens do meu pai nos acharam e... - soluçou, as mãos passando a tremer. Angel segurou-as contra as suas, que também tremiam. Ela mal respirava.

"Ele fez eu assistir enquanto Ethan era torturado. Fez eu... fez eu matá-lo para aprender a não ser um traidor e enterrar o corpo dele em uma cova rasa. E então...

Uma pausa. Ele tirou as mãos das de Angel, retirando a camisa de algodão que usava. A pele maculada por cicatrizes reluziu à luz das velas. Ele indicou algumas mais proeminentes; uma grande, que cortava da costela até o quadril, rasgando a lateral inteira do corpo. Uma que possuía relevo, no peito. Uma que cortava do início de seu pescoço e descia até o início da clavícula.

Angel queria vomitar.

"Desde então, qualquer erro que eu cometesse era uma desculpa para a tortura. - as lágrimas escorriam silenciosas pelo rosto dele. Angel secou-as com uma mão, voltando a entrelaçar seus dedos contra os dele.

"Na véspera do meu aniversário de quatorze. - a voz falhou - Ele fez um massacre. Eu precisei... precisei matar uma mulher e seu bebê. Nunca vou me esquecer daqueles segundos em que eu hesitei. Foi o que o levou a me açoitar e me amaldiçoar com a Cruciatus até que eu perdesse a consciência."

O olhar dele estava distante, como se cada memória percorresse sua mente. Ele arquejou, soluçando. — Foi um alívio vir para cá. Uma sensação falsa de liberdade. Eu não precisaria matar ninguém por meses. Não seria esfolado quando errasse o modo de piscar. Não ouviria os gritos...

"Mas foi uma liberdade falsa. Porque ele quer que eu mate Dumbledore. E... eu vou fazer isso, porque preciso. Porque não sou só eu o envolvido aqui, mas Draco e a família dele. Você. - a voz embriagou - Eu não posso perder você."

Ela o abraçou, afundando o rosto no pescoço dele. Ele a envolveu com os braços, chorando em seu ombro. As lágrimas dela escorriam pela pele machucada dele; as lágrimas dele faziam a pele arranhada dela brilhar.

— Eu sinto muito. - ela sussurrou, o coração doendo a cada batida - Deuses, Mattheo, eu sinto muito...

— Eu estou tão cansado, Angel. - ele ofegou, o coração estilhaçando - Estou tão cansado dele. De mim.

Ela o abraçou ainda mais forte. — Estou aqui. Nós vamos resolver isso, eu estou aqui.

E ele chorou contra ela. Até que não houvessem mais lágrimas a serem derramadas. Até que o cansaço emocional o abatesse e ela o deitasse carinhosamente na cama, beijando os lábios trêmulos e o cobrindo.

Até que ela se aninhasse contra ele, temendo que o coração acelerado demais do moreno falhasse com o corpo.

Até que ambos dormissem.

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A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora