95 - Mansão Riddle, 1996

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Estava escuro.

Estava escuro há tanto tempo, que ela já não sabia que dia era.

Eles entregavam comida em horários confusos, e sempre a mesma coisa - pão duro, queijo embolorado e um copo d'água - o que a impedia de calcular o tempo.

No começo, ela havia se encolhido no canto da cela. Não tinha nenhuma luz, então seus olhos lutavam para permitir a visão de alguma coisa. Mas agora, silhuetas embaçadas eram distinguidas das sombras.

Um colchão fino, uma manta sobre ele. Um balde, para as necessidades, e uma escavação na pedra da cela - onde ela se sentava para chorar.

Várias vezes durante o dia, ela ouvia os gritos de desespero, vindos daquelas pessoas que estavam nas celas vizinhas à sua. Quando eles voltavam, guiados por empregados e uma pequena vela - que não era o suficiente para iluminar dentro da cela dela - os prisioneiros ficavam silenciosos. Nem mesmo um gemido.

Ela sabia que alguns deles morriam ali.

Depois daquela noite em Hogwarts, ela nunca mais viu Mattheo. Ela havia sido enfeitiçada e ficara inconsciente durante o percurso até onde quer que estavam. Mas sabia que ele não estava ali embaixo. Havia perdido a voz, naquelas primeira horas, gritando por ele.

Inútil, e lhe causou uma dor de garganta dos infernos.

Para passar o tempo, ela treinava. Corrigia seu próprio corpo no escuro, lembrando-se das lições de Saori, e ocupava a mente com o cansaço corporal. Ficava cansada o suficiente para saber que, quando dormisse, não acordaria com o choro sôfrego dos prisioneiros.

Mas ela sabia que aquela pequena paz iria acabar em breve.

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O corpo do homem caiu no chão, sem vida. Os olhos verdes perderam o brilho e o sangue já parava de escorrer.

Voldemort assistia o filho com orgulho. — Bom. Mas você o matou rápido demais. Algumas pessoas merecem sofrer, meu filho. De novo. - e estralou os dedos. Um Comensal da Morte trazia uma mulher jovem, na casa dos trinta anos, que chorava e tremia, tentando e falhando de se soltar do agarre.

Ela encarou o Lord, empalidecendo. — L-Lord das Trevas. - ela sussurrou, forçando o agarre do comensal ao fazer uma reverência - É-É uma honra. E-Eu...

— Tsk. Cale-se. - o pai repreendeu a mulher, que imediatamente fechou a boca. Voldemort olhou para Mattheo, que havia escondido as mãos por dentro dos bolsos, para evitar que tremessem. - Vamos, Mattheo. O que está esperando?

A mulher tinha cachos dourados como ela. Olhos castanhos e espertos como os dela. Cicatrizes nos pulsos como ela, porra.

Mattheo sabia que o pai estava brincando com ele, e que em breve, começaria a verdadeira tortura. Seis dias. Faziam seis dias desde que ele vira Angel. Eles foram separados ao chegarem na mansão de sua infância, e ele não tinha permissão para procurá-la. Se tentasse, seu pai a mataria.

Seis dias que ele matava os prisioneiros sem pensar, apenas para que ela não fosse punida. Seis dias que engolia o vômito e a vergonha, repetindo para si mesmo que estava salvando ela.

Por mais que chorasse quando era obrigado a enterrar os cadáveres ensanguentados. Por mais que tremesse quando erguia a varinha para cometer os maiores crimes que um homem poderia infligir à sua espécie.

Não era só matar. Era torturar, como ele havia sido torturado durante toda a infância. Era cortar a carne e o sangue espirrar em seu rosto, e bile ubir por sua garganta. Era assistir sem expressão, para que o pai não se irritasse.

— Mattheo. - a voz que tanto odiava o chamou. Ele olhou para o pai, ódio correndo pelas veias. Voldemort sorriu, erguendo as sobrancelhas - Mate.

O garoto olhou para a mulher, que tremia e chorava e murmurava. Ele ergueu a mão, firmando o máximo que conseguia; o coração errou uma batida. — Crucio. - murmurou, e sentiu a magia correndo por seu corpo e se concentrando na ponta da varinha.

Mas o feitiço não aconteceu.

Voldemort sorriu ainda mais, as sobrancelhas altas. — Ah!

Para lançar uma maldição imperdoável, você precisa querer lançá-la.

Mattheo tremeu, medo inundando seu corpo quando a mulher foi puxada para fora da sala e outra foi traga para dentro. Ele queria soluçar ao vê-la ali; tão pálida e confusa. Angel olhava com medo pela sala, os olhos captando instintivamente cada janela que pudesse usar para uma fuga.

A atenção dela parou em Mattheo. Ele estava com as olheiras profundas e parecia abatido. Sangue manchava os braços, mãos e rosto dele, além das roupas. O estômago dela se revirou.

O que ele estaria passando...

Angel deu um soluço de alívio e medo, e Mattheo precisou de toda a força que tinha para se manter no lugar e não correr até ela. Voldemort encarava os dois com satisfação e um prazer doentio. Ele estralou os dedos, e outra porta do cômodo luxuoso foi aberta, dois comensais entraram trazendo um objeto.

Mattheo perdeu toda a cor do rosto, as pernas falharam. — Não... - sussurrou para ninguém em específico.

A mesa foi colocada no centro da sala.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora