8 - Hogwarts, 1996

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Draco andava por entre as pilhas de quinquilharias que estavam presentes na sala precisa. — Ouvi sobre esse lugar depois que o Potter e seu grupinho de idiotas armaram contra a Umbridge, ano passado. Foi a coisa mais útil que já fizeram, eu odiava aquela mulher. - a voz de puro desprezo.

Montes e mais montes de livros estavam empilhados ao redor dos dois adolescentes, e Mattheo lutava contra o impulso de pegar um deles; ou todos. Draco seguiu em frente, guiando o moreno por entre caminhos confusos, parando em frente a um armário velho. — É um armário sumidouro. O outro está na Borgin & Burkes, mas tá quebrado. Vão consertá-lo, e é a melhor ideia que eu tive até agora.

— Quer trazer comensais para cá? - ele se ouve dizer, e a primeira coisa que lhe vem à mente é Angel. Descabelada e chorosa, como da primeira vez que se conheceram. A imagem da garota o desconcerta, mas ele rapidamente a expulsa da mente, seu peito ficando apertado de uma maneira que nunca sentiu antes.

Draco faz que sim com a cabeça, engolindo em seco. — Mas é só uma última escolha. Essa opção... não quero usá-la.

Mattheo entende o que o loiro diz. Ele, lá no fundo, não quer foder com Hogwarts daquele jeito. Suspirou, olhando ao redor da sala. — Vamos pensar em outra coisa. Temos o ano inteiro para isso.

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Novamente, Angel entrou ofegante na sala de poções, causando uma cena. Ela se sentou ao lado dele, descabelada e corada, sorrindo. — Oi, Mattheo! - a garota sussurrou. O menino, no entanto, não respondeu, voltando a ler a receita da poção e conferindo os frascos que estavam em cima da mesa.

— Mattheeo! - a loira diz um pouco mais alto, mas ele não quer socializar. - Mattheo! - ela enfia a cabeça na frente do rosto do moreno, chegando perto demais. Ele se afasta, começando a se estressar.

Inspira fundo e fecha os olhos. — Se não quiser morrer, vai sentar a porra da bunda na cadeira e ficar quieta. - ele diz.

Ela parece meio desconcertada, mas se senta com postura na cadeira, quieta. Vendo-a assim, constrangida e desanimada, fez algo no peito de Mattheo se apertar, e uma vontade imensa de pedir desculpas à ela inundou seu corpo.

Mas que merda?!

Ele não pede desculpas a ninguém.

O garoto começa a preparar a poção, intercalando o olhar entre o caldeirão e ela. Mesmo que o dia estivesse mais ameno, ela vestia o moletom cinza que estava sobre seus ombros naquele dia da biblioteca. O casaco é muito maior que seu corpo. A loira brinca com sua pulseira cheia de pingentes, parando apenas para brigar com uma mecha do cabelo cacheado que insiste por cair em seu rosto. Quando vai arrumar os fios atrás da orelha mais uma vez, muito rapidamente, o garoto repara no momento em que a manga da blusa desceu um pouco, vendo o início de uma cicatriz ainda avermelhada em seu pulso. Mas logo a blusa cobriu a pele novamente, e ele se questiona se não foi apenas uma ilusão.

Ele terminou a poção e ela logo pula da cadeira, indo organizar todos os frascos e ingredientes de volta no lugar. Enquanto Mattheo enchia um frasco com a poção para levar até Slughorn, ele a ouviu cochichar, tão baixo que mal escutou. — Desculpa por ter sido inconveniente.

Algo na voz da menina desencadeou imagens na mente de Mattheo, de quando ele tinha apenas seis anos e vomitava suas tripas por causa das merdas que via. Ele engoliu em seco, sentindo o ar rarefeito de repente. — Você não é um inconveniente.

E ela não era, de verdade. Só era.. Muito diferente dele.

Muito mais viva.

E ele gostava daquilo. Gostava de coisas que pareciam viver do jeito que ele não conseguia.

Ele sentiu o olhar dela sobre ele quando andava até o professor e lhe entregava o frasco. Recebeu elogios, como sempre, e antes de sair da sala Slughorn o entregou um convite cor-de-rosa. — Espero sua presença, Riddle! - disse o homem com uma piscadela.

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Ele era uma criança novamente.

Seu pai o obrigava a assistir repetidamente, em um loop eterno, enquanto torturava e matava. A menina gritava, chorava, sangrava e morria. De novo e de novo e de novo.

Seus olhos opacos o encarava sempre que seu pescoço era quebrado. Ou o coração arrancado. Ou sua cabeça decepada.

Por favor, por favor, por favor.

Mas ninguém o ouvia, e ele não conseguia se mover, não conseguia nem mesmo fechar os olhos ou piscar. Sempre assistindo, sem perder nem um milésimo de segundo das cenas de tortura. Os gritos ecoavam a cada batida do coração dele, e ele via sempre e sempre, quando a pessoa mais intrigante e viva que ele já conheceu, virava um cadáver com um simples aceno.

Angel

𑁍

Seu coração está acelerado. Seu corpo pesa uma tonelada, e ele não tem forças o suficiente para se levantar, antes de vomitar sobre o chão. Suas palmas estão rasgadas pela força que fez ao fechar as mãos, as meias-luas sangrando em filetes finos. Ele respira fundo, outra onda de vômito subindo por sua garganta e despejando no chão.

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A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora