28 - Saori, 1987 (passado)

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Saori estava com um hematoma na costela, pelo chute que seu pai havia lhe dado.

Ela respirava com dificuldade, forçando seu corpo exausto a voltar para a posição de ataque. Sua irmã treinava com um boneco, e seu pai a observava, rigoroso. Não dava para ela entender as emoções do homem.

— Se ajeite. - ordenou, e ela inspirou fundo, posicionando as pernas e braços na posição. Ela sempre respirava fundo antes de tentar atacar o pai, pois lhe dava mais equilíbrio. Ela partiu, chutes voando pelo ar enquanto seu corpo girava. O pai bloqueando cada ataque de seus socos e chutes. Ela virou o corpo, tentando desequilibrar o homem ao chutar sua canela, mas ele se desviou rápido, como se previsse o golpe, empurrando o peito de Saori, fazendo-a cair para trás.

Ele a encarou de cima a baixo. — Vá para a outra sala. Vou treinar sua irmã agora.

O tom dele já indicava sua decepção. Saori respirou fundo, vendo seu pai e Naomi se posicionarem, antes de ela atacá-lo, acertando o golpe. A frustração que estava sentindo consigo mesma não cabendo no peito.

Ela andou pelo corredor do Dôjo, as molduras de janelas sem vidro arejavam o corredor. Ela entrou na sala, se assustando ao ver sua avó ali, sentada e sorrindo. — Obāchan! - ela correu pela sala, seus passos abafados no tatame de tecido. Sua avó abraçou-a, sorrindo.

— Pronta para treinar? - a avó perguntou, e a menina chacoalhou a cabeça em afirmativo - Então se posicione.

Sempre que Saori ia, nos fins de semana, treinar as artes marciais com seu pai e sua irmã, sua avó dava um jeito de aparecer lá também. Começou quando, aos seis anos, Saori chorou no colo da avó. "Otousan não gosta da minha técnica", ela disse.

Desde então Ayame vêm treinado a garota.

Saori se posicionou, os punhos fechados e as pernas um pouco afastadas para estabilizar. A avó fez um 'tsc' para reprovar a postura da neta, ajeitando-a com a bengala que havia comprado especialmente para essas sessões.

"Mas, Obāchan, a senhora não usa bengala."

"É mais chique."

A cada posição de Saori, a avó ajeitava algo. Postura. Cabeça. Pernas mais afastadas. Pernas afastadas demais. Braços muito leves. Braços muito pesados. Ângulo do braço. Respiração.

— Olhe ao seu redor, Saori. - a avó sempre repetia, mas ela estava olhando. O que a avó queria dizer com aquilo? - Olhe ao seu redor, criança.

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Ela jogava o jogo da memória com sua Obāchan, que ria debochada quando conseguia um par. Elas comiam amendoins e bebiam chá de camomila na noite fria de outubro. — Ha! Ganhei! - a velhinha começou a fazer uma dancinha de comemoração que fez Saori gargalhar. Naomi passou pelo corredor, e as viu pela porta aberta.

— O que vocês estão fazendo? - a irmã perguntou; Saori reparou no livro que ela levava sob o braço, e se sentiu culpada por estar jogando, e não estudando.

— Jogando, Naomi. Quer jogar conosco? É bom para a memória. - a avó respondeu, sorrindo de leve. Naomi achava sua avó meio estranha e imatura. Sempre sorrindo, cantando e dançando.

A garota nega com um gesto, olhando para a irmã em seguida. — Você deveria estar estudando, e não desperdiçando seu tempo com coisas assim. É por isso que Otousan sempre me elogia, e você não. - despejou com veneno e uma pontada de inveja por sua irmã estar se divertindo.

As palavras de Naomi doeram em Saori. Ela começou a juntar as peças do jogo, mas sua avó impediu-a. — Estudar a todo o momento não faz bem, Saori. Você não está pecando por se divertir um pouco.

Mas a menina deu de ombros, sentindo a impotência pelo corpo novamente. Ela guardou o jogo, dando um beijo em sua avó, o perfume de flores da senhora atingindo seu nariz, antes de ir para o quarto.

Você é da família Nagasaki, Saori. Seja um orgulho para eles.

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A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora