10°- Lembrança

506 47 15
                                    

Quando chegamos em Tóquio, rapidamente fomos levados para a nossa nova casa, a qual na verdade era outro apartamento, só que três vezes maior do que o meu antigo.

Enfim, o empregado de Katsuki nos deixou lá, e então começamos a arrumar as nossas coisas.

Todos os quatro quartos do lugar eram grandes e possuíam uma cama de casal em cada um deles. Kota ficou feliz por conta disso, então foi o primeiro a escolher onde dormiria.

Contudo, após eu conseguir terminar de levar as minhas malas para o meu quarto, alguém bateu na porta e em seguida a campainha.

Caminhei em passos rápidos e abri a porta, ficando surpresa ao ver a mulher bonita ali, com as mãos na cintura e sorrindo de uma maneira sensual.

Fiquei me perguntando se ela queria falar comigo ou estava prestes a voltar uma cantada aleatória para mim.

– Oi, posso entrar?- Perguntou.

– Claro.- Falei com indiferença e dei espaço para ela passar.

A moça levou o seu olhar para todos os lados da casa e foi para a sala de estar, onde se sentou no sofá e apontou para a poltrona para eu me sentar.

Eu sentei, mas achei muita ousadia por ela fazer isso sendo que essa é a minha casa a partir de agora.

– Meu nome é Makima e sou a secretária do Sr. Katsuki Bakugou.- Sorriu gentilmente.- Vim aqui lhe fazer umas perguntas a pedido dele. Será que posso?

– Tá, tanto faz.- Dei de ombros. 

Makima cruzou as pernas e colocou os papéis e um caderno, os quais estava segurando em suas mãos, em cima da sua coxa, depois começou a girar uma caneta entre seus dedos.

E lá se foi quase uma noite inteira escutando várias perguntas - quando eu começava a pensar que aquilo estava se tornando necessário, voltava a ser totalmente desnecessário.

Algumas questões não faziam sentido e nem tinham ligação com uma entrevista de emprego - além do mais, havia algumas que já estavam respondidas no meu currículo.

Tudo estava sendo muito estranho. Entretanto, não falei nada, porque se era a pedido de Katsuki, não havia como negar e nem ter como bater boca, pois poderia sobrar para mim no final de tudo e como sempre.

Só que após Makima finalizar a entrevista estrada dela com um obrigada meio sem graça e sair do apartamento, eu soltei um suspiro de alívio e senti a minha barriga roncar de fome junto com uma outra logo atrás de mim.

– Que bom que ela já foi embora.- Resmungou Kota quando eu me virei para ele.

– Realmente.- Bocejei e peguei ele no colo.- Acho que não tem nada para a gente comer aqui.

– Você não tinha avisado o Bakugou que tinha feito rancho?- Arqueou uma sobrancelha.

– Sim, mas acho que ainda não chegou.

Quando estava prestes a ir para a cozinha, mais uma vez alguém bateu na porta, fazendo eu bufar e dar meia volta.

Assim que abri a porta, na maior cara de cu, fiquei encarando mais uma mulher, essa segurava um pote de onde vinha um cheiro muito bom e estava sorrindo gentilmente.

– Katsuki me mandou trazer isso e avisar que as comidas de vocês estão para chegar.- Disse de uma maneira calma e me entregou o pote.

– Tá, obrigada.- Murmurei e fechei a porta quando ela virou as costas.

Corremos para a cozinha e abrimos o pote em cima da pia na maior ansiedade, mas rapidamente nossa expressão mudou para satisfação quando o cheiro daqueles cupcakes pairou pelo ar.

A minha boca se encheu de água e pude escutar a barriga de Kota roncar, então rapidamente pegamos dois cupcakes para cada um e começamos a nos deliciar com os mesmos.

Fazia tempo que eu não comia um desses, pois eles costumam ser muito caros no supermercado - tipo os KinderOvo nesses tempo para cá.

Só que, né? Rico.

Kota foi o primeiro a terminar de comer e já foi escovar os dentes para ir dormir, deixando eu na cozinha comendo e pensando em como seria a minha vida a partir de agora.

Katsuki ainda não havia me falado nada sobre como as coisas iriam ser, tipo a hora que devo acordar para ir trabalhar - algo que acho de principal importância.

Me pergunto se ele continua bravo por eu ter falado a verdade para ele.

Sinceramente, ele devia ter deixado de ser bonzinho e sido aquele cara que eu conversei naquele bar, porque já estava forçando demais a barra no momento no qual não deixava nem eu levar a mala.

Porra, ele tava achando que é quem? Queria dar uma de The Rock só porque é fortão para cima de mim? Toma na sua cu.

Terminei de comer o meu último cupcake e fui para o banheiro da minha suíte e fiz tudo o que precisava antes de voltar para o quarto.

Nisso, voltei a colocar as minhas coisas dentro do guarda-roupa e já aproveitei para vestir uma roupa para eu ficar em casa e para dormir mais tarde.

Mas já avisando que não é um pijama, pois depois vai aparecer um empregado ou o próprio Katsuki com o rancho, daí o clima vai ficar uma bosta.

Enfim, assim que estava guardando a última camisa, eu comecei a reparar na mesma, sentindo uma lembrança surgir na minha mente.

A camisa que eu estava olhando era totalmente branca, eu usava muito a mesma antes de sair de casa para ir fazer faculdade.

Ela foi presente da minha mãe no meu aniversário de 15 anos e, mesmo sendo algo simples, foi uma das coisas mais importantes da minha vida naquele tempo.

Afinal, foi a primeira blusa que ganhei dela na minha vida, pois as outras tinha por meio de doações.

Isso porque meu pai nunca deixou a minha mãe comprar alguma coisa para mim ou até para ela; ele era uma pessoa horrível e orgulhoso, queria as coisas boas apenas para si mesmo.

Soltei um suspiro lembrando de tudo que aquela mulher incrível passou com aquele homem idiota, me arrependendo de não ter feito nada naquele tempo, apena ter ficado quieta.

Ele batia nela;
Xingava ela de um monte de coisas;
Quebrava as coisas da casa;
Me chamava de inútil;
E fazia muitas outras coisas ruins.

É errado, mas eu odiava tanto o meu pai, que quase gritei de felicidade quando ele morreu em um acidente onde o carro do mesmo deu de frente com um caminhão.

Além de que, graças a isso, a minha mãe conseguiu começar a comprar as coisas para nós, como essa incrível camisa.

Interessante, é que antes de poder me reconstruir, eu era aquela garota da escola motivo de chacota por conta disso tudo.

Eu era chamada de pobre.
Não tinha amigos ou amigas.

Entretanto, quando comecei a me tornar uma pessoa melhor na vida, cheia de conquistas. A partir disso, muita gente tentou se aproximar de mim, só que nunca dei trela.

Bom, pensar que agora estou aqui, em um apartamento gigantesco, muito feliz e conquistando o sonho da minha mãe de ficar rica - mas nunca deixar de ser gentil e humilde - no lugar dela, é uma sensação maravilhosa.

𝔒 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬 𝔫𝔬𝔰 𝔰𝔲𝔯𝔭𝔯𝔢𝔢𝔫𝔡𝔢 Onde histórias criam vida. Descubra agora