67°- Mas que porra

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Estava terminando de guardar as minhas coisas, quando Jirou avisou que iria me esperar no carro e saiu. Com isso, aproveitei o tempo para tomar um rápido café e dar uma espiada na vista do grande vidro.

Então, me perguntei mentalmente se todos estavam trabalhando para ganhar dinheiro, ou só para se mostrar para as outras pessoas o belo prédio onde trabalha.

Eu sou de ambos, mas nunca tive a oportunidade de passar aqui e apontar para o prédio, afirmando com felicidade que esse é o lugar onde passo a maior parte do tempo dos meus dias.

Talvez porque eu não tenha ninguém para isso.

Quando me dei conta, havia terminado de tomar o café. Contudo, quando me virei, trombei novamente contra alguém - na verdade, na mesma pessoa de mais cedo.

– O que está fazendo tão tarde aqui? Acabei de ver Jirou saindo.- Resmungou Katsuki.

– Foi mal, só queria ficar um pouco sozinha.- Falei indo jogar meu copo de café fora.

– Entendi.

Fui para a minha mesa, peguei a minha sacola em cima da cadeira e depois caminhei em passos largos até a porta, olhando pela última vez naquele dia para Katsuki antes de sair.

Fui para o elevador com um aperto no coração, pois a minha vontade era abraçá-lo por trás e chorar com meu rosto enterrado nas suas costas, pedindo desculpas por algo que nem sei se realmente é a minha culpa.

Apertei no botão para chegar ao térreo assim que percebi ele saindo da sala, soltando um suspiro quando a porta de pavimento se fechou e me apoiando em um canto. 

Cruzei meus braços, franzi meu cenho e  bufei me lembrando do beijo no pescoço dele, querendo perguntar para ele dicas de como superar alguém tão rápido assim.

Será que eu também era só mais uma que ele estava usando para superar as exs?

Comecei a chorar ao pensar nisso e me sentei no chão no elevador, sentindo todas as minhas forças indo embora enquanto aquele elevador continuava descendo.

Era como se o tempo tivesse parado naquele momento, esperando toda a minha energia finalmente ser levada pela tristeza, desânimo e culpa.

Afinal, a porta de pavimento pareceu se abrir apenas quando demonstrei finalmente desistir, não sentindo vontade de fazer mais nada a não ser deitar numa cama e chorar.

Se esse é o meu destino, que seja.

Nisso, a porta se fechou, o elevador começou a subir, e eu lembrei que não era a única a querer ir embora. Então, rapidamente fiquei de pé, me recompus e fiquei preparada.

Sabia quem era o próximo a entrar, então peguei meu celular da minha bolsa e mandei mensagem para Jirou, avisando que havia esquecido de uma coisa e por isso estava voltando para a nossa área de trabalho.

Ela me mandou uma carinha de malícia, fazendo eu negar com a cabeça e soltar um risinho baixo, levando de relance meu olhar para a porta quando a mesma começou a se abrir.

Fiquei olhando coisas aleatórias no meu celular por mais tempo, depois guardei o mesmo e fiquei encarando um canto do elevador, não aproveitando nada daquele silêncio.

E enfim percebi que novamente o tempo parecia ter parado, então levei minha atenção para Katsuki, o qual me olhou no mesmo instante.

Ficamos encarando um ao outro profundamente, ambos começando a melhorar suas posturas enquanto o silêncio não se tornava mais uma sela, dando a chance de darmos os primeiros passos para um novo início.

Contudo, ainda estávamos parados, nenhum parecia querer se aproximar e deixar claro seus sentimentos, isso porque o outro pode ter uma intenção e pensamento contrário - sim, isso é mais um medo.

Percebi que alguns brilhos surgiram nos olhos do loiro, o qual estava em uma expressão mais tranquila do que quando começamos a nos olhar, também me deixando calma e a vontade.

Meu corpo arrepiou quando um sorrisinho discreto surgiu rápido em seu rosto, mas fiquei triste quando nosso contato se quebrou no instante em que a porta de pavimento se abriu.

Fui a primeira a sair, dessa vez não sentindo nenhuma vontade de acelerar os meus passos até o carro de Jirou, o qual ligou quando ela me viu se aproximar.

Enfim, assim que abri a porta do carro, olhei mais uma vez para Katsuki, vendo ele parado na frente da empresa me encarando com seus olhos vermelhos iluminados apenas pelas luzes dos postes.

Pensei em sorrir, mas essa vontade sumiu quando aquela garçonete surgiu correndo e pulou em seus braços, lhe dando beijos no seu pescoço e em suas bochechas.

Certo, eu havia colocado amor e fé onde não tinha.

Entrei no automóvel, fechei a porta, coloquei o cinto de segurança e cruzei meus braços, assentindo com a cabeça para Jirou avisando que já estava na hora exata de irmos.

Passei as mãos pelos meus cabelos e segurei os mesmos por um tempo, me perguntando mentalmente como eu pude ser tão trouxa e sem noção de pensar que olhares poderiam significar algo.

– Hoje eu faço a janta, tá?- Perguntou, e eu assenti com a cabeça.

Nem comer eu quero mais, só quero ficar na cama por um dia inteiro, ou seja, amanhã espero que o trabalho vá tomar no cu junto com Katsuki e aquela nova namorada dele.

– Amanhã eu não vou trabalhar, se aquele merda perguntar o porquê, diga que não é do interesse dele.- Falei ríspida.

– Pode deixar.- Deu tapinhas leves na minha coxa.- Vou deixar o número de algumas lanchonetes em cima da mesa para o caso de você querer pedir algo para comer.

– Obrigada.- Olhei para ela pelo canto do olho.- Gosto de saber que tenho você e as meninas comigo.

Ela sorriu, deu uma rápida olhada para mim e deu uma apertadinha na minha coxa antes de tirar sua mão para trocar de marcha.

Estávamos quase perto de casa e ainda assim, a única coisa que eu queria era deitar na minha e chorar o quanto fosse necessário, imaginando o toque que aquele homem me dava nesses momentos de dificuldade.

Sendo que agora, a dificuldade se tornou ele mesmo e parecia só aumentar o nível a todo momento no qual encontro uma maneira de me livrar.

Tudo se tornou um jogo ou até um filme, os quais sinceramente se tornaram os piores da minha vida - cadê o controle remoto para eu pular essas partes? Preciso chegar no momento onde a fracassada se ergue.

Jirou abriu o portão, então tudo escureceu por alguns minutos enquanto descemos aquela rampa e até os sensores ligarem, deixando eu com um pouco de dificuldade para olhar de tão forte que eram as luzes.

Mas levando um susto quando repentinamente as luzes começaram a piscar e ficaram mais fracas.

– Normal.- Jirou afirmou rindo, e eu forcei um sorriso.

𝔒 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬 𝔫𝔬𝔰 𝔰𝔲𝔯𝔭𝔯𝔢𝔢𝔫𝔡𝔢 Onde histórias criam vida. Descubra agora