85°- O início

131 18 5
                                    

– Ela está lá dentro.- Falei para Katsuki.

Estava espiando a sala da diretora pelas frestas que havia naquela persiana vertical, podendo ver ela e, por sorte, também aquela professora ridícula.

Katsuki bateu na porta da forma mais grossa que eu já vi, fazendo eu levar um susto e segurar o seu braço para ele não voar abruptamente para dentro da sala sem antes abrirem a mesma.

Quando a porta foi aberta, os olhos meus e de Bakugou se fixaram no rosto da professora, a minha expressão se tornou séria, enquanto a do loiro parecia sufocar qualquer um que a encarasse por muito tempo.

A mulher se estremeceu completamente e seus olhos se arregalaram, então engoliu em seco e deu alguns passos para trás - provavelmente para recuar e ao mesmo tempo nos deixar entrar.

Sua atenção não saia de nós, era como se já temesse o porquê de estarmos aqui. A partir disso, simplesmente se entregou dizendo:

– Tudo o que eles vão dizer é mentira! Eu cuido do Kota! Não ajudo os coleguinhas a fazer zoação e todas essas coisas!.

– Como assim?- Katsuki perguntou, se fazendo de sonso.

– Vocês não são os primeiros que vêm reclamar.- Murmurou a diretora.- Mas é bom terem chegado no momento certo, eu precisava de uma certeza.

– É uma pena que essa certeza tenha demorado para chegar.- Falei olhando aquela professora de cima a baixo.- Ela não deveria estar mais aqui.

– Bom, já faz uns meses que eu estou pedindo o papel para o afastamento permanente dela, o qual na verdade era o principal assunto que eu iria discutir com ela antes de vocês chegarem.- A diretora cruzou os braços.

– Então pode continuar. Queremos ter a alegria de assistir isso.- Katsuki sorriu da forma mais mortal possível.

Eu sabia que ele poderia deixar a situação cada vez pior.

A diretora chamou a professora para perto, reuniu alguns papéis e colocou em cima da mesa. Em seguida, pegou uma caneta de dentro de um copinho e apontou para onde a mulher deveria assinar.

Ela passou por nós de cabeça baixa, tentando não mostrar sua expressão de medo e tristeza, mas ainda assim conseguimos sentir tudo por conta da sua respiração pesada ecoando pelo silêncio da sala.

A mulher pegou a caneta e começou a escrever seu nome nas folhas. No mesmo instante, eu e Katsuki nos olhamos e sorrimos convencidos por tudo ter dado certo.

– Quem irá ficar no meu lugar?- Perguntou a professora ainda assinando o seu nome.

– Ela.- Apontou para a porta.

Nós nos viramos, e meus olhos se arregalaram ao ver Momo parada ali, encarando a gente com uma expressão confusa antes de sorrir e vir me abraçar.

– Quem diria.- Murmurei quando nos soltamos.

– Verdade.- Sorriu.- Pelo jeito vocês já estão cheios das informações.

– Sempre estivemos.- Katsuki resmungou, voltando a encarar a professora.

Eu e Momo saímos da sala, deixando que terminassem de resolver as coisas lá em dentro e ao mesmo tempo colocando as nossas fofocas em dia.

– Por que saiu da empresa?- Perguntei.

– Percebi que não era a coisa certa para mim, mesmo lá sendo onde veria todas as pessoas especiais da minha vida.- Deu de ombros.- As vezes é bom pensar em nós mesmas.

– Concordo.

– Como está o seu braço e sua perna? Lembro-me de ter saído quando ainda não estava bem recuperada.

– Bom, agora eles estão ótimos, nem parece que aquilo aconteceu.- Sorri e então comecei a me sentir estranha.

Coloquei a mão na minha boca no mesmo instante em que iria vomitar e saí correndo para o banheiro, sendo seguida por Momo, a qual não parava de gritar o meu nome desesperada.

Ao chegar no banheiro, abri uma das cabines, ergui a tampa do vaso e vomitei tudo o que precisava ali, sentindo a minha garganta arder pelo ato repentino e não percebendo quando Momo segurou o meu cabelo.

Segurei com força a beirada do vaso sanitário enquanto tudo saía para fora, algo que pareceu durar uma eternidade até finalmente parar.

– Pega água para ela!- Escutei Katsuki gritar.- Amor? O que está sentindo?

Olhei para ele pelo canto do olho, sentindo uma pontada no peito ao ver sua expressão de preocupado. Então, ele ajeitou meus cabelos para trás e passou diversas vezes as mãos nas minhas costas.

Nisso, mais uma vez eu senti aquela sensação agonizante e me virei rapidamente para o vaso, vomitando pouco o que parecia ser água.

O loiro apoiou a testa nas minhas costas quando eu parei de vomitar e comecei a tremer, como se todas as minhas forças estivessem indo embora pouco a pouco.

– Eu estou aqui, tá legal? Vai ficar bem, vou fazer de tudo para você ficar bem.- Murmurou Katsuki e me entregou um copo de água.- Limpa a boca primeiro.

Peguei o copo, usei o primeiro gole para limpar a minha boca e o entreguei de volta para ele, cuspindo a água no vaso antes de puxar a descarga e suspirar enquanto olhava aquilo ir embora.

Katsuki me ajudou a levantar e me levou para a pia, olhando para mim enquanto eu lavava o rosto. Depois, me entregou de novo o copo, e eu bebi o resto da água.

– Vou te levar para casa.- Sussurrou.

– Não, eu já estou bem.- Teimei.- Preciso ir trabalhar, não posso faltar mais.

– {Nome}, você acabou de vomitar.- Momo colocou sua mão no meu ombro.- Você deveria ir para casa, se recuperar bem e comer algo.

– Eu não quero ir para casa, porque lá vou ficar sozinha, sem você.- Segurei com força a camisa de Katsuki, e ele sorriu de canto antes de abafado.

– Se você passar mal de novo, vou te levar para casa. Estamos entendidos?- Arqueou uma sobrancelha.

Assenti com a cabeça e olhei para Momo, a qual estava encarando um canto aleatório do banheiro com um sorriso bobo no rosto - o que será que isso significa?

– Enfim, vamos?- Katsuki perguntou.

– Vamos.- Concordei.- Tchau, Momo.

– Tchau, querida. Me avise quando já estiverem em casa para eu ir te visitar, tá?

– Pode deixar.- Sorri fraco.

Em menos de quinze minutos já estávamos no carro e indo para o trabalho.

Confesso que estou com medo daquilo se repetir de novo, mas ainda assim preciso me sacrificar um pouco para poder ajudar Katsuki na empresa, pois chegamos num período muito movimentado.

Senti ele colocar a mão na minha coxa e apertar a mesma, fazendo eu olhar profundamente para ele e sorrir de canto ao lembrar do apoio que me deu.

Eu não seria nada sem ele.

Quando chegamos na empresa, ele abriu o portão, então desceu a rampa até chegar no estacionamento e parar no mesmo lugar de sempre, onde também tem uma placa escrita: "Lugar do chefe".

Ele mesmo escreveu e colocou ali.

𝔒 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬 𝔫𝔬𝔰 𝔰𝔲𝔯𝔭𝔯𝔢𝔢𝔫𝔡𝔢 Onde histórias criam vida. Descubra agora