120°- Falta de esperança

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Depois de algumas horas de conversa, fizemos a lista dos convidados - deu mais do que esperado - e mandamos mensagem para a mãe da Mina. 

Contudo, neste momento estamos almoçando num restaurante perto do mar enquanto conversávamos sobre como iremos enfeitar o nosso quintal; afinal, é lá onde iremos fazer o chá. 

– Ainda acho que deveria ser num outro lugar.- Katsuki resmunga, e eu bufo.

– Mas eu não acho, lá em casa tem bastante espaço e vamos gastar pouco.- Tento explicar.- Além de que quem aqui é a minha pessoa.

– Nossa, "minha pessoa".- Zoa.

– Fique quieto.- Falo ríspida e como o que estava no garfo.- Qual lembrancinha? 

– Sabonete de bebê.- Deu de ombros.- Minha mãe já ganhou muitos desses nos chás de bebê das minhas tias, eram bem fofos.

– Vou colocar na lista de ideias.- Afirmo.

– Enfim, já falamos bastante sobre isso, mas e os móveis? Quer ir ver depois?- Arqueou uma sobrancelha.

– Pode ser, mas primeiro vamos só olhar, depois pensar em comprar.- Aviso pela milésima vez.

– Eu já entendi, "minha pessoa".- Riu.

É extremamente gostoso passar o tempo com ele, mesmo que esse pareça passar em um piscar de olhos. Mesmo assim, são momentos que fazem eu esquecer de muitos problemas.

Ele sabe que é incrível por saber fazer isso, já disse um milhão de vezes e não tenho medo de repetir sempre que posso, principalmente depois dele passar por um dia estressante.

Assim que terminamos de almoçar, ficamos mais um pouco terminando de discutir sobre os móveis. Depois, o loiro pagou a conta e fomos para o carro.

– Certo, minha mãe me disse um lugar onde ela viu muitos berços bonitos, vamos lá primeiro.- Disse enquanto ligava o carro.

– Tá.- Falei engatando o cinto de segurança.

Katsuki passou o caminho inteiro falando como estava animado em comprar esses móveis, também afirmou não ver agora de tirar todos os caixotes velhos que temos no quarto de visitas.

Toda essa falação me deixou com o coração acelerado de tanto nervosismo, parecia que ele entendia mais sobre filhos do que eu - sendo a própria mãe

De qualquer forma, em poucos minutos já estávamos na frente da loja. Katsuki foi o primeiro a sair do carro, enquanto eu fiquei olhando para a vitrine por um tempinho.

Havia estantes, berços e até alguns ursinhos ali, me fazendo sorrir ao imaginar eles organizados no quarto. Então, levei um susto quando o loiro abriu abruptamente a porta.

– Vamos?- Perguntou estendendo uma de suas mãos para mim.

Assenti com a cabeça e deixei que ele me ajudasse a sair do carro. Em seguida, esperei o homem trancar o automóvel antes de finalmente entrarmos na loja. 

Quando abri a porta, um sino em cima da mesma tocou, fazendo com que atendentes e compradores levassem rapidamente seus olhares para nós. 

Nisso, uma mulher se aproximou de nós e sorriu.

– Olá, tudo bem?- Perguntou ela.- Meu nome é Lisa e irei ajudar vocês no que precisarem.

– Por enquanto estamos apenas dando uma olhada nos móveis.- Afirmou Katsuki segurando a minha mão.

– Claro, fique à vontade. Qualquer dúvida, é só chamar a mim ou a qualquer um dos atendentes.- Sorriu e foi para longe. 

A partir disso, nos dirigimos para os berços e nos olhamos. Os olhos de Katsuki estavam brilhando e havia um sorriso iluminado em sua face, me fazendo sorrir também.

Então, voltei a minha atenção nos berços, focando em um multifuncional de madeira. Passei minhas mãos pelas suas beiradas e olhei para a parte de dentro.

Comecei a imaginar tudo arrumado e sorri. Depois, passei a mão pelas gavetas e arregalei os olhos ao achar o preço…R$875,50 - e ainda estava na promoção.

– Ei, lembra do que eu te disse.- Murmurou Katsuki colocando a mão no meu ombro.- Lembra que ainda temos o lucro da floricultura.

– É.- Mordi meu lábio inferior por ainda estar um pouco receosa.

Senti o homem dar um beijo na minha bochecha antes de ir comigo ver o resto das coisas. Contudo, se tem chances de gastarmos esse tanto apenas com o berço, imagina com o resto.

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Chegamos em casa e eu me sentei no sofá, passei as mãos pelos meus cabelos enquanto respirava fundo e lembrava dos preços dos móveis, soltando o ar ao sentir um aperto enorme no meu coração.

– Amor.- Sussurrou Katsuki e sentou-se ao meu lado.- Vai dar tudo certo.

– Eu tô cansada de ouvir isso e sentir que vai acontecer justamente o contrário.- Falei sentindo a minha voz ficar chorosa.

O homem soltou um suspiro e me abraçou, enterrando o rosto na curvatura do meu pescoço. Ele colocou a mão na minha barriga e acariciou ela.

– Mas ainda assim você precisa tentar, {Nome}.- Afirmou.

– Mas e se der tudo errado? E se não conseguimos pagar tudo até o bebê nascer? E se tivermos que cancelar todo o chá de bebê?- Senti uma lágrima escorrer pela minha bochecha.

– Daremos um jeito, como sempre fizemos.- Disse confiante e me olhando nos olhos.- Você tem que parar de achar que vai dar tudo errado, desse jeito sempre terá medo de arriscar.

Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

– Eu te amo, NÓS te amamos.- Sorriu.- Caso algo der errado, pelo menos ainda continuaremos juntos, porque problemas são passageiros se souber enfrentá-los.

Abracei ele e comecei a chorar, me perguntando como ele conseguia achar as forças perdidas dentro de mim e sempre ter as palavras certas para isso. 

– Não gosto de te ver assim. Por favor, se recomponha antes que eu chore também.- Murmurou, e eu soltei uma risadinha. 

O homem ficou comigo até depois de eu me acalmar, em seguida segurou a minha mão, me ajudou a levantar e fomos para o cômodo onde iremos organizar o quarto do bebê.

Haviam várias caixas com coisas minhas e dele do nosso outro apartamento, as quais poderiam servir muito bem para quem precisar. 

Então, fui para o quarto de Kota, peguei um giz vermelho e voltei para junto de Katsuki.

– Vamos fazer um "X" nas caixas que tem coisas boas para levarmos para a doação.- Afirmei mostrando o giz para o homem.

– Boa ideia.- Sorriu.- Vou buscar uma sacola para colocar as coisas que vão para o lixo.

– Tá.- Assenti. 

Assim que ele saiu, abri a caixa mais próxima da minha altura e comecei a dar uma olhada na mesma, sorrindo ao encontrar a carta que a minha mãe me mandou anos atrás.

E soltei uma gargalhada ao achar o presente que o loiro me deu no primeiro dia dos namorados que passamos juntos, o qual se tratava de um quadrinho com uma foto minha só de lingerie na frente do espelho.

– Minha nossa.- Disse ele atrás de mim, fazendo eu dar um pulo de susto.- Essa foi uma das minhas prediletas.

– Imagino.- Ri.- Lembro que fiquei brava contigo, porque você disse para eu não comprar nada para você, sendo que tu comprou isso.

– É, mas depois te recompensei.- Deu um beijo na curvatura do meu pescoço.- Aquela noite foi foda.

– Foi mesmo.- Falei fingindo não me lembrar que no outro dia fiquei sem conseguir mexer minhas pernas direito.

De qualquer forma, coloquei o quadro num canto e comecei a olhar as outras coisas, mantendo as para doação dentro da caixa, e o resto jogando na sacola de lixo.

As coisas que me traziam nostalgia, faziam eu começar a falar sem parar, o que não parecia ter problema nenhum para Katsuki, afinal, ele também fazia isso quando achava algo.

E mais uma vez nos encontramos em um dos melhores momentos da nossa relação.

𝔒 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬 𝔫𝔬𝔰 𝔰𝔲𝔯𝔭𝔯𝔢𝔢𝔫𝔡𝔢 Onde histórias criam vida. Descubra agora