Como eu prometi, outro capítulo. Boa leitura!Mistery Spell
13 de setembro de 1456As servas terminam de me arrumar, mando todas embora, me olho no espelho enquanto me lembro do episódio da cachoeira, não sei porque ajudei aquele lobisomem, me pergunto o que deu em mim para fazer isso. Talvez tenha sido uma forma de fugir da tediosa monotonia que minha vida se encontra, confesso que foi engraçado ver a cara que ele fez quando o joguei na água, um pequeno sorriso escapa por meus lábios ao lembrar a cena, mas ele logo vai embora, volto para a realidade, ela não é tão animadora.
Suspiro frustrada enquanto olho para meu reflexo, estou trajando um belíssimo vestido de baile, ele possui um tom rosa claro, sua saia cumprida é esvoaçante e volumosa, uma combinação de seda fina e tule, seu corpete acentua minha cintura, obra do espartilho apertado, as mangas longas vão até o cotovelo, o vestido possui um decote canoa que combina perfeitamente, ele é todo bordado, fios de ouro e prata desenham sobre a seda rosa. Meu cabelo loiro está ondulado como de costume, ele está solto, há apenas alguns grampos de prata o mantendo arrumado. Minha palidez e meus lábios avermelhados me deixam bonita. Há brincos, um colar, ambos de pérolas. Adornos e mais adornos me escondem, são como uma máscara escondendo o meu eu verdadeiro.
- Vejo que já está pronta.
Ouço a voz de meu pai vindo da porta, não preciso me virar para saber que ele vem em minha direção.
- Você está linda querida.- Ele diz ao meu lado, seu reflexo ao lado do meu no espelho.
Não o olho e nem respondo, ele não precisa de muito pra saber que estou furiosa, basta o ignorar e manter o rosto sem expressão.
- Vamos nos atrasar.- Digo friamente me dirigindo para a porta.
- Por que você tem que ser assim?- Ele pergunta num tom frustrado.
- Não é o que você quer? Que eu seja essa garota obediente, sem opinião, vontades ou desejos?- Pergunto tentando manter a calma.
Ele está perto de mim novamente, sua expressão é de raiva e seu olhar é intimidador.
- Olha como fala.... Eu sou seu pai, você me deve respeito e obediência, não se esqueça que eu também sou líder do nosso clã, não é porque você é minha filha que vou tolerar sua rebeldia.- Ele diz friamente me fazendo olhar em seus olhos.
A raiva cresce dentro de mim, assim como uma pontada de dor; ele nunca falou assim comigo, não posso deixar de me sentir magoada, faço o possível para não deixar nenhuma lágrima cair. Ele suspira, sua expressão se suaviza e eu arrumo minha postura.
- Me perdoe pela desobediência Sr Bartholy, vou aguarda-lo na carruagem.- Digo sem nenhum pingo de emoção enquanto faço um referência.
- Tory...
- Não se preocupe meu senhor, vai ser tudo como o senhor desejar.- O interrompo.
Não quero mais discutir isso, é uma perda de tempo ele nunca vai mudar de idéia. No final das contas esse é o meu destino, já devia ter o aceitado a muito tempo.
......................
Independente do meu ódio por essa sociedade, eu adoro andar de carruagem, o balanço dela, o barulho dos cavalos e das rodas, tudo parece me acalmar. Quase me esqueço da discussão que tive com meu pai, ele está em silêncio ao meu lado, detesto brigar com ele, apesar de tudo eu o amo, eu devia ver o lado dele. Depois do que aconteceu com a mamãe ele ficou assim, super protetor.
Nos dirigimos para a casa Venandi para comemorar um ano desde que convivemos com os outros clãs. A família Venandi organizou um baile para todos da aliança que formaram, ainda mais agora que a convivência não é a das melhores, principalmente entre nós os Bartholy e os Samanieros.
A Guerra de Cem anos acabou a mais ou menos três anos, nesse período houve um crescimento no poder dos reis de países como Portugal, Espanha, França e Inglaterra, uma grande ameaça para nós seres sobrenaturais, ainda mais com o sistema feudal enfraquecido. Por isso os líderes de alguns clãs de seres sobrenaturais propuseram uma aliança para o bem de todos.
Após muitas desavenças, o clã Samaniero, o Osborne e o Venandi entraram em um acordo, mas para ele funcionar precisaria de pelo menos um clã de cada espécie, por isso procuraram um clã de vampiros, tendo muita sorte por nós os Bartholy termos aceitado, afinal somos um dos clãs mais fortes de vampiros.
Os Venandi são caçadores, descendem do primeiro caçador que já existiu e representam os humanos, diferente dos outros caçadores, eles matam apenas criaturas más, são muito sensatos, e os Osborne são um clã poderoso de bruxas. Já o Samaniero são um clã de lobisomens, um dos mais poderosos mas pouco confiáveis, o que gera muita discórdia entre eles e nós. Mesmo com o acordo, nós Bartholy e os Samanieros vivemos em pé de guerra, aparentemente há uma rixa antiga entre os líderes e anciãos.
Para evitar grande parte das brigas foi estipulado várias regras, principalmente sobre a posse de terras, e uma delas é que é terminantemente proibido entrar no território de outro sem autorização, caso contrário será punido. Me pergunto o que meu pai faria se soubesse que ajudei um lobo a fugir.
Olhando pela janela vejo a propriedade Venandi, enchergo a mansão brqnca que lembra uma construção medieval mesmo sendo moderna, possue vários detalhes antigos misturados com alguns modernos feito por arquitetos de outras partes do mundo.
A carruagem para e o cocheiro abre a porta, meu pai estende o braço e me ajuda a descer, olho ao redor e vejo vários casais em trajes de gala. Meu pai também olha ao redor, seus olhos analisam a entrada com o mesmo desdém de sempre, nisso somos muito parecidos.
- Não se esqueça....- Meu pai avisa.
- Sim já sei, vou me comportar e dançar com todos aqueles idiotas esnobes.- Murmuro.
- Não fale assim.... Tem muitos rapazes de família, são bons pretendentes.- Ele diz.
Me desvencilho de seus braços e começo a caminhar em direção a porta principal. Sinto meu pai atrás de mim.
- Até os Samanieros..?- O provoco.
- Não me provoque.- Ele adverte calmamente.
- Tory!
Ouço a voz de Violet assim que entro no hall da casa, ela é a filha mais nova do Sr Venandi e minha melhor amiga.
- Violet.
- Srta Bartholy...- Depois de me separar de Violet, seu irmão Anton me cumprimenta com uma reverência e depositando um beijo nas costas de minha mão.
- Sr Venandi.- Reviro os olhos e o cumprimento puxando minha mão.
Anton é sempre galanteador, tem fama de mulherengo e é muito insistente, ele colocou na cabeça que quer que eu seja sua esposa, vive me cortejando mas eu não sou tão fácil, e casamento não é algo que eu queira no momento. Violet e Anton cumprimentam meu pai, ela então me puxa para o salão principal onde acontecem as celebrações.
O salão possue tons que variam entre branco e dourado, as paredes possuem uma cor creme meio branca, há várias detalhes dourados, desde vigas ao corrimão da imensa escada de mármore no início do salão, há um belíssimo ilustre de cristal cravejado em diamantes iluminando o salão, juntamente com iluminarias mágicas feito por bruxas. A decoração azul clara combina perfeitamente com o salão e, as tulipas e os lírios terminam de enfeitar o local.
Depois dos líderes chamarem a atenção de todos e falarem discursos que eu nem me dei ao trabalho de ouvir, a pequena orquestra deu início a música e vários casais foram dançar, dando início aos pedidos de dança. Empurrei Violet, que estava ao meu lado, para dançar com os rapazes que se aproximavam e fui para um canto mais reservado, me aproximei um pouco dos músicos que tocavam uma linda música de valsa; não sei escolher qual instrumento mais me agrada, são todos tão distintos e únicos, os sons são totalmente inebriantes, me dão vontade de cantar.
- Viktoria! Sua....
- Não grite Violet.- A interrompo.
Ela para ao meu lado, cruza os braços e levanta uma sombrancelha.
- Sabe com quantos homens eu tive que dançar?- Ela pergunta indignada.
- Eu não sei....- Digo simplesmente.
Ela suspira.
- Você não muda nunca....- Ela diz.
- E você me ama do mesmo jeito.- Eu digo com um sorriso.
- Convencida...- Ela fala sorrindo.
- Mas então? Alguém te chamou a atenção?- A interrogo.
- Nem um pouco.- Ela fala.
- Você já dançou com o Jack?- Pergunto sorrindo maliciosamente.
- Obvio que não, eu quero distância dele.- Ela diz fazendo careta.
Eu dou risada. Jack é um velho amigo do meu pai, nós nos damos super bem, ele é um vampiro e tem quase a mesma idade que eu, só alguns séculos a mais. O pai da Violet fez um acordo com ele, e o acordo foi a mão da filha dele em casamento, e como ela é muito parecida comigo, obviamente não gostou nada da idéia.
Jack se apaixonou por ela desde quando a viu pela primeira vez, foi o famoso amor a primeira vista. Já ela vive o afastando, assim como fez com outros pretendentes, mas o conheço bem pra saber que ele não vai desistir.
- Você gostou?- Ouço Violet perguntar.
- Do que?
- Dos músicos...
Eu sorrio.
- Eu adorei.- Digo.
- Então vem, vamos ver de mais perto.- Ela diz me puxando.
Não estávamos tão longe deles, então logo paramos de frente para os músicos, noto que alguns são apenas rapazes, observo atentamente cada um deles até que vejo alguém que eu não esperava. Arregalo os olhos quando tenho certeza de que é ele.
Nunca passou pela minha cabeça que iria encontrá-lo tão rápido, ainda mais aqui. Tenho certeza de que é ele, impossível não o reconhecer. É o mesmo lobo que empurrei na cachoeira. Ele me olha com um sorriso de lado enquanto toca um violino.
- Eles são muito bons.- Violet comenta.
- Mais ou menos.- Digo.
- Como assim.... Você não tinha gostado?
- Sim, mas eles não são tão bons assim, eu apenas conheço a música.- Respondo.
- Se você diz.- Ela fala dando de ombros.
No lugar das roupas velhas ele traja um lindo paletó creme, roupas feitas sob medida, seu cabelo castanho continuava bagunçado mas agora parecia limpo, ele está muito bonito. Mas eu obviamente não vou admitir isso em voz alta.
- Já disse que não quero!
Estava perdida em pensamentos, nem notei quando Jack puxou Violet para a pista de dança.
- Pare de fazer drama.... É só uma dança.- Jack diz quando já estão no meio do salão.
Eu sorrio. Por mais que Violet se faça de difícil eu vejo o modo que ela o olha, tenho certeza de que corresponde ao sentimentos dele mesmo que não admita. Volto minha atenção para os músicos, e meu olhar vaga novamente até encontrar o lobo, ele ainda me olha e quando nota meu olhar, pisca em minha direção e sorri ainda mais, eu reviro os olhos. Acabo dando as costas e indo para longe dele, opto por ficar próximo ao meu pai então olho ao redor o procurando, que sabe ele não aceita dançar comigo.
Logo o encontro mas ele se encontra ocupado conversando, então decido andar pelo salão, parando para ver Violet e Jack dançando, por incrível que pareça, eles não estão mais brigando. Presto atenção na nova música que começa a tocar, outra valsa, mas uma francesa dessa vez.
- É uma valsa muito bonita.- Uma voz ao meu lado diz.
Levo meu olhar em direção a voz e vejo um rapaz ao meu lado, pele bronzeada, olhos bronze, cabelo ondulado e traços elegantes, usa um lindo traje de gala preto e possue uma forma atlética.
- Sem dúvida.- Digo curta.
O vejo sorrir.
- Me concede essa dança Srta?- Ele pergunta estendendo a mão.
- Quem sabe outra hora?- Respondo.
- É incomum ver uma linda dama recusar uma valsa.
- Então vá procurar outra, quem sabe não tem mais sorte.- Falo sarcástica.
- Língua afiada... Eu gosto.- Ele diz sorrindo maliciosamente.
- Seu atrevido, quem você pensa que é pra falar isso?
- Não precisa se zangar, não foi um insulto.- Ele fala.
Ele segura minha mão, estava quase o empurrando quando ouço uma voz famíliar.
- Ela não quer dançar com você.- O rapaz que empurrei hoje sedo diz em nossa frente.
O outro rapaz solta minha mão, vejo os dois se encararem. É impressão minha ou eles se conhecem?
- Por que não dança comigo, hun? Acho te devo uma certo?- O rapaz da cachoeira pergunta estendendo a mão.
Eu sorrio ao ver seu sorriso se alargar conforme o rapaz ao meu lado parece ficar irritado. Resolvi aceitar sua oferta, estendo meu braço e ele pega minha mão sorrindo gentilmente para mim. Ele me conduz até o meio do salão, sua mão vaga vai para minha cintura enquanto a outra segura minha mão, já a minha se posiciona em seu ombro.
- Você está muito bonita.... Mas eu gosto mais da sua roupa de hoje a tarde.- Ele sussurra.
- Não me importo com sua opinião.
- Eu sei....- Ele diz enquanto me rodopia.
A dança segue, nunca pensei que diria isso mas gostaria de ficar mais tempo dançando com ele. Uma nova música começa, não paramos de dançar,mas pelo contrário, estamos mais perto um do outro, nossos olhares se atraem como imãs, dançamos em silêncio, apenas nos encaramos. Ele não é o desajeitado e desagradável que pensei que fosse, apesar de ser um pouco rude é muito atencioso.
- Sabe.... Eu não disse antes mas obrigado por me ajudar.- Ele diz.
- Não tem que me agradecer.- Falo.
- Mesmo assim....- Ele sorri.- Obrigado Srta Viktoria Bartholy.
- Como sabe o meu nome?- Não contenho minha curiosidade.
- Eu ouvi aquela senhora te chamando de Viktoria.- Ele diz dando de ombros.
- E você?- Pergunto.
- Eu sou o Oliver, Oliver Samaniero ao seu dispôr.- Ele diz e faz uma reverência.
Eu sorrio e ele volta a me rodopiar.
- E me desculpe pelo meu irmão Frederick, as vezes ele é muito insistente.- Ele diz ao notar o rapaz que me chamou para dançar nos olhando.
- Ele é seu irmão?
- Sim, é dois anos mais velho.- Ele diz.
- Vocês se parecem.
- Todo mundo diz isso mas eu discordo.
- Ah é?
Ele sorri.
- Claro, sou bem mais bonito.
Eu rio e ele sorri.
- Viktoria.
Olho para o lado e vejo meu pai encarando Oliver.
- Pai?
- Vamos para casa. Agora.- Ele diz.
Olho para Oliver que encara meu pai, ele ainda me segura, o que parece irritar ainda mais meu pai.
- Até mais.... Lobinho.- Digo.
Seu olhar finalmente encontra o meu e ele parece relaxar, ele se afasta e segura apenas minha mão.
- Tenha uma boa noite, Srta.- Ele diz e beija minha mão antes de solta-lá.
- Você também.... Gentil senhor.- Digo arrancando um sorriso seu.
Caminho até meu pai e olho para Oliver uma última vez antes do meu pai me tirar de lá.
- O que eu disse sobre os Samanieros?- Ele pergunta nervoso assim que paramos ao lado da carruagem.
- Foi só uma dança....- Explico.- Nada de mais.
Ele suspira.
- Me espere na carruagem, tenho que fazer algo antes.- Ele diz e eu aceno.- É pra ficar aqui dentro.
- Já entendi!- Digo entrando na carruagem com a ajuda do cocheiro.
O cocheiro fecha a porta e observo meu pai se distanciar, olho ao redor e noto as pessoas indo embora, não percebi que tinha se passado tanto tempo, não reparei em mais nada além Oliver, foi uma noite tão agradável. Gostaria de poder conversar mais com ele mas acho que vai ser impossível, dúvido que nos vejamos novamente depois de hoje, não no que depender do meu pai, e não deixo de sentir uma pontada de desapontamento. Fecho a pequena cortina da janela e encosto a cabeça no estofado, foi uma noite e tanto.
Ainda assim, algo dentro de mim me diz que vou vê-lo novamente, não sei explicar, talvez seja esperança. Sinto algo diferente, uma espécie de euforia inebriante, eu gosto dessa sensação, nunca senti nada parecido. Oliver Samaniero.... Por que você me atrai tanto...? Será essa sensação de liberdade que senti ao seu lado? Ou apenas o destino imprevisível? Quem sabe... Com certeza vou logo descobrir.
Espero que tenham gostado!
Até o próximo!🤗

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Uma Bartholy?
Fiksi PenggemarDesde que nasceu, Anelise nunca foi uma garota normal, via e ouvia o que ninguém mais podia. Quando seus pais morreram anos atrás, foi transformada em vampira junto com seus irmãos, mas por obra do destino se viu sozinha por causa de desentendimento...