Cap 36 - Lições pat. II final

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Anelise on
   O fantasma caminha lentamente, ele me observa de uma forma estranha, seu olhar frio me dá medo. Tento novamente me soltar, mas como todas as outras vezes não obtenho sucesso. Se por um acaso eu não morrer, vou matar o Viktor.
   Queria saber o que ele tem na cabeça, é simplesmente impossível eu fazer aquilo novamente, eu nem sei o que eu fiz, apenas senti uma espécie de calor me envolver quando fiquei com medo, estava apavorada com a idéia de ficar presa, mas não consigo fazer de novo, quer dizer, eu ainda não tentei. Viktor disse para eu lembrar do que senti, mas não consigo sentir aquela energia, sei apenas que foi uma sensação muito boa, uma sensação de liberdade, como se estivesse presa por muito tempo e finalmente estivesse livre.
   Respiro fundo, o fantasma sorri, um sorriso maldoso que me provoca calafrios pelo corpo. Até que de repente sinto uma espécie de Déjà vu, como se já tivesse passado por isso antes, o que é impossível já que nunca me ocorreu algo assim. Isso me deixa atônita, não é a primeira vez que sinto isso, aconteceu várias vezes desde que vim para Mistery Spell.
   Minha cabeça começa a doer e algo me vem a mente.

   "Respirar, focar e liberar."

   Essas palavras aparecem repetidamente em minha cabeça, não se passa nem dois segundos e já as decorei. Começo a repeti-las em um sussurro, não sei o que significam. Olho para frente e vejo o espírito parado me olhando, ele agora está a menos de três metros de distância mas por algum motivo seus movimentos parecem exitar.
   Algo me passa pela cabeça e tenho uma idéia, pode não funcionar mas é alguma coisa.
   Respiro fundo, inspiro e solto o ar algumas vezes até me sentir tranquila, foco no fantasma a minha frente, mantenho toda minha concentração voltada a ele, que passou a ter um olhar indecifrável. E então percebo a mesma sensação me envolver aos poucos, ela atravessa meu corpo me inundando com esse bem estar, com uma sensação de liberdade, de finalmente estar livre, é tão familiar como qualquer parte do meu corpo. O espírito passa a ter uma expressão de raiva, ele então sem mais nem menos vem me atacar.
   Antes que ele possa me tocar, minha concentração aumenta assim como a incrível sensação que me envolve, e ele desaparece há um metro de distância. Noto então que apareceu uma espécie de escudo ao meu redor, é quase transparente mas ainda consigo ver, tento puxar as correntes novamente e então percebo que o anel está brilhando, mas não sei o motivo.
   Acabo perdendo a concentração e o escudo desaparece, juntamente com o brilho do anel, o que me deixa atônita. Penso por um momento e tento fazer a mesma coisa novamente. Quando consigo, vejo o anel brilhar novamente e o escudo aparecer, e ao mesmo tempo, sinto a energia aumentar com o meu espanto, e quando percebo, os poucos fantasmas ao redor simplesmente desapareceram em um flash de luz como o primeiro.
   Ainda confusa, olho para a as correntes.
- E agora...?
Anelise off
Peter on
   Depois de me despedir de Anelise, fiquei esperando Drogo no estacionamento, passei mais de uma hora no mesmo lugar, por isso cansei de esperá-lo, era óbvio que ele não iria aparecer.
   Já estava em casa a algum tempo, precisava espairecer, pensar um pouco no rumo que minha vida tomou. Antes de conhecer Anelise eu achava impossível encontrar um motivo pra continuar vivendo, desde que fui transformado não sentia nada além da dor, passava os dias sendo atormentado pelo passado, por todas as escolhas erradas que já fiz, todos os momentos ruins que fui obrigado a passar, todas as pessoas que me fizeram mal. Todas as mentiras que me fizeram acreditar.
   Tudo ainda está presente, mas não como antes, não como antes dela. Se ela ao menos soubesse o que significa pra mim.
   Nossa conversa ressoa pela minha cabeça como uma música, ela queria falar comigo sobre um segredo, provavelmente algo sobre o passado dela, enquanto nem coragem de falar sobre o meu eu tenho. Ela parece ser tão frágil quanto uma criança, e ao mesmo tempo tão forte.
   Mas isso não foi o que mais mexeu comigo, fiquei incomodado com o perfume cítrico de rosas que senti, tenho certeza de que é o mesmo perfume mas é impossível. Fiquei incomodado, como se o cheiro estivesse me sufocando, por isso saí de lá, deixei Anelise confusa, ela não tem culpa de nada do que aconteceu.
   Duas batidas na porta me tiram dos meus pensamentos, levo o olhar até a porta e peço para que entre. A porta se abre e vejo Drogo.
- Antes que diga alguma coisa, eu estava ocupado. Podemos conversar?- Ele pergunta já entrando.
- Sim.
- Eu estou com a cabeça cheia, o que acha da gente sair hoje a noite? Como nós velhos tempos.- Ele diz se sentando na cama.
- Não estou no clima de festa Drogo. - Digo.
- Você nunca está em clima de festa...
   Eu reviro os olhos.
- Eu preciso falar algo importante.- Tomo coragem.
- Ah sim, é sobre o que?- Ele pergunta.
   Passo a mão pelo cabelo e suspiro.
- Sobre Anelise. - Respondo depois de alguns segundos.
   Ao ouvir o nome da irmã, Drogo enrijece a postura, sua expressão calma passa a ser séria.
- Eu também tenho que falar sobre ela.- Ele diz.- Ela está tão estranha ultimamente.
- Como assim?- Pergunto apressado.
- Vocês estão bem próximos né? Ela não te disse nada?
- Sobre o que?
- Digamos que eu esteja desconfiado de algo....
   Eu então fico surpreso, será que ele sabe? Isso explica porque está tão estranho esses dias, inclusive essa manhã.
- E o que seria?- Pergunto.
   Aguardo sua resposta impacientemente.
- Eu acho que ela está namorando.- Ele diz por fim.
- O que?
- Acho que ela está com alguém.- Ele repete.
   Fico em silêncio por um momento, não sei o que responder.
- Drogo eu...
- Eu já sei.- Ele afirma.
- Sabe?- Pergunto nervoso e meio surpreso.
- Eu já sei que você a está acobertando.- Ele diz.
   Arregalo os olhos tentando segurar um sorriso.
- Como...?
- Quero que me diga agora mesmo quem é o namorado dela, preciso ter uma conversa com ele.- Ele fala.
   Eu suspiro.
- Drogo não é nada disso. Eu não estou acobertando ela...
   Ele então cruza os braços.
- Talvez ela não tenha dito pra você...
- Drogo nós....
   Ele nem me escuta, seus olhos ficam vermelho escarlate e suas presas aparecem.
- Acho bom ele tomar cuidado, não costumo me controlar com frequência.
   O observo em silêncio, eu entendo sua preocupação, afinal é da irmã dele que estamos falando mas isso não me intimida, não vou desistir dela por um simples capricho. Eu entendi a indireta.
   Não posso esconder por mais tempo.
- Drogo, Anelise e eu...
   Paro de falar quando um cheiro inebriante nos atinge, sangue fresco. Meu coração dispara ao notar de quem é o sangue, o aroma é inesquecível, não tem como confundir. Uso minha velocidade para chegar ao hall da casa, Drogo provavelmente vem atrás de mim mas mal presto atenção, tudo que vejo é Anelise com a roupa suja de sangue e cheia de cortes, ela se apoia em Viktor que a ajuda a ficar em pé.
   Anelise se equilibra sozinha e se solta de Viktor, corro até ela e a examino.
- O que aconteceu? Por que está ferida?
   Ela olha para o chão, seguro seu rosto com minhas mãos e ela finalmente me olha nos olhos.
- Está tudo bem....- Ela diz.
   Olho para Viktor que nos observa de uma forma estranha.
- O que você fez com ela?!- Pergunto.
- Eu juro que se encostou um dedo sequer na minha irmã...
- Façam-me o favor, eu não fiz nada.- Ele interrompe Drogo.
   Minha raiva cresce repentinamente, estou quase perdendo o controle quando sinto uma mão segurar meu braço.
- Peter....- Anelise me chama quando estou quase o atacando.
   A olho por um momento, ela parece tão cansada. Ouço Drogo discutir com Viktor mas não presto atenção em nenhuma palavra.
- Está tudo bem, vou te tirar daqui.- Sussurro em seu ouvido.
   Deposito um beijo casto em seus lábios e a pego em meus braços, não me importo com os olhares, só o que importa é seu bem estar e no momento ela precisa descansar.
   Ela é minha, minha namorada, quero ver alguém dizer o contrário.

  Uma Bartholy?Onde histórias criam vida. Descubra agora