Capítulo 91

187 25 83
                                    


Anelise on

Eu estava pingando e não era pouco, encharcando o assoalho de eucalipto da casa enquanto Vovó Alexandra me arrastava pela casa, pela escada, pelos corredores. Até chegar ao quarto. Por um momento, estremeço antes de ser empurrada para dentro do cômodo, e no mesmo instante, um nó se forma em minha garganta.

- Vamos senhora, direto para a banheira. Irei preparar a água, precisa se aquecer logo depois de ter tomado essa chuva, não quero que pegue um resfriado...

- Apenas Anelise por favor, não precisamos de formalidades...- Digo enquanto adentramos o banheiro.

- Como preferir minha menina...- Vovó Alexandra concorda com um sorriso.

Vovó Alexandra liga a torneira para que a banheira encha, em seguida despeja alguma loção dentro da água. Enquanto isso eu observo os detalhes ao meu redor. Está tudo moderno, mas ainda é o mesmo lugar, mesmo com as mudanças.

- Aqui querida, tire a roupa molhada e entre sim... Vou preparar um chá enquanto isso, para lhe ajudar a se aquecer.- Ela diz.- Seu amigo disse que traria sua bagagem.

Apenas aceno e ela logo em seguida se retira do banheiro após fechar a porta. Retiro as roupas molhadas com certa dificuldade, então caminho até a banheira de mármore branco que me aguarda de forma convidativa. Deixo o calor da água acariciar minha pele quando afundo dentro dela. Assim, por um momento, me permito chorar feito criança, me permito desmoronar. E estar aqui me faz reviver o desejo antigo de que Matteo estivesse aqui.

Se estivesse aqui, Matteo teria acreditado em mim, estaria ao meu lado. Teria me pego em seus braços e me protegido disso tudo. Mas não está, sua vida lhe foi tirada por culpa minha, me amar foi como cavar sua própria cova. Eu estou sozinha, como sempre estive, e ninguém se importa, ninguém se importou....

Não sei quanto tempo se passou, mas pareci sair de um transe hipnótico quando pisquei e percebi que as lágrimas haviam secado, quando notei que a água já havia esfriado e meus dedos enrugado. Então me levantei e me enrolei na toalha. Abri a porta do banheiro e avistei minha mala próximo a cama. Vesti apenas uma calça de malha, um moletom branco e comprido que eu provavelmente peguei de Drogo e meias de lã grossas que iam até dois palmos acima do tornozelo. Tentei secar o cabelo com a toalha, apenas para tirar o excesso da água, de forma que ainda estava úmido quando deixei o quarto.

Caminhava lentamente pelos corredores, tudo era exatamente como eu me lembrava, como se saíssem de um quadro ou de uma fotografia e ganhassem vida. Havia pequenas diferenças é claro, a casa havia sido reformada a cada ano que se passou como eu havia estipulado, portanto era normal ter pequenas diferenças. Desci as escadas e caminhei até a sala de estar, onde encontrei Elliot sentado no sofá próximo a janela.

Elliot parecia distraído, segui a direção de seu olhar até perceber o que ele estava olhando. Foi quando olhei claramente para o retrato em cima da lareira.

- Onde está a Vovó Alexandra?- Pergunto chamando sua atenção segundos depois.

- Na cozinha, eu acho...- Elliot responde.

- Certo....

Observo a sala por um momento, parece ser o lugar que menos mudou...

- Está melhor?- Elliot pergunta se inclinando, apoiando os cotovelos nos joelhos e a cabeça em suas mãos juntas.

Um gesto tão familiar quanto o resto da casa.

- Eu não sei...- Digo mordendo meu lábio inferior.

Respiro fundo antes de decidir andar pela sala e me sentar em uma das poltronas próximas a lareira.

- Eu...- Tento buscar as palavras.- Eu me sinto quebrada... E ao mesmo tempo não sinto mais nada. Como se meus sentimentos tivessem desaparecido depois da dor... Tudo que sentia por eles... Parece ter sumido.... Eu nem sei porque disse isso...- Digo tropeçando nas palavras.- Acha que é normal?

  Uma Bartholy?Onde histórias criam vida. Descubra agora