Ao longo da vida nos deparamos com diversos caminhos a percorrer, nossas decisões nos guiam através de escolhas que fazemos, cada escolha nos aproxima mais do nosso destino. Destino. A um tempo atrás eu odiava essa palavra, odiava o que ela significava, odiava o fato de que eu teria um destino já pronto, foi aí que eu comecei a pensar diferente, e decidi que o destino é o que eu quero, é a minha vontade se tornando realidade. Acho que é assim que as pessoas pensam quando tem um sonho, elas crêem que seu destino é a realização desse sonho.Mas agora nada faz sentido, há apenas um vazio em mim deixado para trás após ler o livro em minhas mãos. Mesmo estando tudo certo sinto que algo está faltando, sinto como se tivesse vivido todas as páginas desse diário.
Viktoria Bartholy era determinada, corajosa, inteligente, não deixava ninguém contrariá-la, nem mesmo seu pai. Tirando a parte sobrenatural, ela era uma dama tradicional da época, filha de um homem rico e poderoso, passava os dias dentro de uma mansão tendo aulas de etiqueta, bordados, dança e outras mais, tinha a obrigação de comparecer a chás e bailes da alta sociedade, fazer sala para visitas e trajar roupas extravagantes que por sinal detestava.
Mas não era só isso. Viktoria era conhecida por usar camisas, calças e botas masculinas, cavalgar com as pernas abertas, escalar árvores, subir colinas, praticar esgrima e tiro, isso quando tinha tempo livre ou escapava. Muitos a julgavam por seu comportamento, alguns senhores conservadores e esposas que temiam que seus maridos fossem roubados ou que suas filhas perdessem os pretendentes, pois esses adereços não ofuscavam sua beleza incomparável, apenas atraíam ainda mais os homens da cidade.
Mas isso não chega nem perto do que me chamou a atenção. Viktoria cita em várias páginas do diário o seu dom incomum, que por acaso, é o mesmo que eu tenho. Ela diz como conseguiu controla-lo e como seu pai a ajudou, citando também o que falava para si mesma quando precisava se concentrar. "Respirar, focar e liberar." As mesmas palavras que apareceram na minha mente e que passaram a me ajudar. E ainda tem o fato de que Amélia a conhecia, e Alaric que ainda estava presente.
Me recordo de vários acontecimentos escritos nesse livro, todos vistos em meus sonhos e alguns flashes. Vi quando ela salvou um rapaz o empurrando no lago, quando ela se reencontrou com ele algumas horas depois em um baile, vi quando eles começaram uma amizade, quando seu pai a proibia de vê-lo, vi quando eles se apaixonaram e vários momentos felizes que passaram juntos na floresta, ela e Oliver. E o pesadelo que venho tendo nas últimas noites, o momento em que é raptada pelo irmão de Oliver.
E não sei explicar o tamanho do incômodo que sinto no momento, o tamanho do vazio que preenche meu peito, tão pouco o motivo de haver lágrimas em meus olhos ou o nó que se formou em minha garganta.
Preciso falar com alguém, alguém que possa me ouvir e me explicar toda essa bagunça em minha mente. E esse alguém deve ser alguém que saiba de tudo, a mesma pessoa que me trouxe essa bagunça a minha mente.
Me levanto da cama, visto o robe do pijama que já estava na cama e pego o diário novamente em minhas mãos, não me preocupo em calçar algo, as meias em meus pés bastam para me proteger do piso gelado.
Saio do quarto a procura de Viktor, ele sempre está por perto, vai saber que estou o procurando. Os corredores estão desertos, não se ouve um barulho pela casa, Drogo provavelmente está em alguma festa com Sofia, Lorie está dormindo, Peter provavelmente está lendo ou escrevendo algo já que não se ouve a melodia de seu piano, já Nicolae deve estar resolvendo algo por aí.
É estranho pensar que depois de tantas coisas que passei por causa de Viktor sou capaz de confiar nele, talvez eu seja apenas trouxa, mas de uns tempos para cá sinto que ele é a única pessoa que consigo falar sobre tudo. E isso me lembra Viktoria, ela confiava nele, mesmo com todos os seus defeitos ele a amava, e depois de ler aquele livro, percebi que ele me trata diferente dos outros, me trata de uma forma semelhante a Viktoria, a diferença é que comigo ele não se expressa da mesma forma, o que me leva a crer que temos um elo, uma ligação mais forte do que a de um ancestral e seu descendente. E preciso saber desesperadamente qual ligação é essa.
Olho pelos cômodos da casa um a um conforme passo por eles, após alguns minutos chego ao escritório, geralmente o vejo aqui mas não é o caso dessa vez. O escritório está vazio e silencioso. Dou uma volta pela casa até que desisto de procurá-lo, o cansaço fala alto.
Já no corredor do segundo andar, caminho em direção a meu quarto quando noto que a última porta do corredor está aberta. Esta porta sempre está fechada, tanto que nunca me incomodei em saber o que tinha lá, parecia ser apenas mais um quarto. Guiada pela curiosidade, me deparo com um quarto deslumbrante ao parar em frente a porta.
Observo seu interior mas paro de prestar atenção na decoração clássica quando vejo Viktor em pé observando a paisagem através da janela.
- Algum problema?- Viktor pergunta sem ao menos virar para mim.
Entro no quarto e caminho até perto de onde ele está, minha ansiedade aumenta, meu coração está acelerado mas assim que ele se vira para me olhar sinto uma estranha sensação de calma me envolvendo.
- Quero que me diga a verdade.- Digo convicta.- Sem enigmas e jogos dessa vez, eu preciso da verdade.
Ele me observa com uma expressão estranha, eu diria até surpreso.
- Por favor....- Peço com lágrimas nos olhos.- Eu estou cansada disso tudo, só quero que me diga porquê tenho sonhado com a vida de outra pessoa e porquê isso me afeta tanto. Eu não aguento mais esses enigmas, então me diga..... Qual ligação eu tenho com você e sua família?
Viktor se aproxima de mim, ele olha para o livro em minha mão, ele o pega e o coloca sobre a mesa ao lado. Viktor estende a mão e seca minhas lágrimas, seu olhar é tão terno que minha vontade é que ele me abrace, nunca pensei que desejaria isso.
- Chega de enigmas e jogos.... Apenas a verdade.- Ele diz.- Você é minha filha.
- C-como?
- Você é Viktoria Bartholy.
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Uma Bartholy?
FanfictionDesde que nasceu, Anelise nunca foi uma garota normal, via e ouvia o que ninguém mais podia. Quando seus pais morreram anos atrás, foi transformada em vampira junto com seus irmãos, mas por obra do destino se viu sozinha por causa de desentendimento...