Capítulo 129

68 9 4
                                    


Viktoria on

- Queria que me dissessem o que aconteceu aquele dia. A sua versão.

Eu lhe encarei surpresa, sem saber o que dizer.

- Por que?- Perguntei por fim.

- Lizabeth disse que....

- Eu já devia imaginar...- Resmungo.- Tenho certeza de que você já comprou a versão dela, não precisa ouvir a minha.

Passo por ele na intenção de abrir a porta do meu quarto.

- Por que você está tão nervosa?- Peter pergunta de repente.- Eu... Eu não entendo.

Me viro para encará-lo.

- Acha mesmo que pode confiar nela? Você nem se lembra do que aconteceu, nem de todo o mal que ela nos causou.- Digo exasperada.- Isso é demais pra mim. E você é um to-lo por acreditar nela, ela já lhe traiu uma vez no passado, quem lhe garante que ela não vai fazer de novo?

Peter me olha surpreso.

- Como sabe sobre isso?- Ele pergunta completamente surpreso.

- Sobre o que? Sobre você dois? Você me disse, e é por isso que eu não entendo como você pode ser tão cego.... Você perdeu a memória afinal, não o cérebro.

Suspiro cansada.

- Eu sei que prometi lhe ajudar a recuperar a memória, mas não posso ajudar se você dificultar as coisas.- Confesso encarando o chão.- Também não está sendo fácil pra mim, nem pra ninguém aqui, o mínimo que você poderia fazer é ficar longe dela.

- Viky...

Lhe encarei perplexa. Seu olhar parecia tão cheio de sentimentos e significados... Sentimentos esquecidos, que meu coração insistia em procurar. Eu não passava de uma estranha, e nada mudaria isso, ao menos não por enquanto.

- Por favor pare...- Disse me afastando.- Não me chame assim, e não me olhe dessa forma... Não quando não significa nada para você.

Me afastei tentando não desmoronar, mas ele continuava me olhando daquela forma, como se se importasse. Ele deu um passo em minha direção mas eu me afastei, e antes que ele pudesse dizer algo, usei minha velocidade para sair dali.

Eu corri. Corri para longe, corri pela floresta escura sem direção e sem intenção de parar ou voltar. Eu só queria acordar e descobrir que tudo não havia passado de um pesadelo. Mas isso não aconteceria.

Eu corri sem rumo durante algum tempo, sentindo o vento frio do inverno que se aproxima, a Lua estava escondida, mal se via estrelas no céu. Inconscientemente fui levada para o único lugar onde de alguma forma me sentia próxima a mim mesma. Quando finalmente parei, me encontrava na entrada da caverna escondida, caminhei por ela enquanto pequenos minerais iluminavam o caminho. Não havia voltado aqui desde que havia treinado com tio Caspian antes de saber quem eu era, desde que havia recuperado a memória no lago dos espíritos.

Tudo parecia igual as minhas lembranças. Um resquício da aldeia que um dia foi.

Caminhei pelo gramado até o lago, onde me sentei em uma pedra. O lago era iluminado pelos minerais e por seu brilho próprio, tudo pela magia ali presente. Assim como pela luz da Lua que havia dado as caras finalmente, seus raios invadindo a caverna e refletindo na água.

Tirei minhas botas e coloquei os pés dentro da água. Fechei os olhos e respirei fundo tentando me acalmar.

O que eu estava fazendo? Fugindo? Eu nunca havia fugido de nada na vida, e ainda assim não conseguia encarar esse problema de frente. Demorei tanto tempo para perceber que amava Peter, e quando finalmente estamos juntos ele me é tomado. Será um castigo?

Abri os olhos rapidamente quando senti a presença de alguém.

- Era só o que me faltava, o que faz aqui? Pensei ter proibido os Bartholys de virem aqui.

Olhei para o outro lado do lago, onde o espírito ranzinza que protegia o lugar me encarava irritado.

- Até onde eu sei sou descendente do seu povo também, não pode me proibir de vir aqui.- Disse lhe encarando com desdem.

- Ninguém que enganou a morte pode se considerar ser desse povo, você mais do que ninguém deveria saber.- Disse ele cruzando os braços.- É uma vergonha para esse clã, para os espíritos que descansam aqui....

Suspirei cansada desviando o olhar. Olhei para minhas mãos, para o anel em minha mão, o início de tudo. Brinquei com o anel em meu dedo.

- Está certo... Eu não merecia isso mais do que eles...- Concordei enquanto tirava o anel do dedo e o arremessava no fundo do lago, ficando em pé no processo.

Lágrimas ameaçavam cair dos meus olhos quando olhei para ele novamente. Ele me encarava parecendo confuso e perplexo.

- Aparentemente sou fraca demais para me envolver com questões importantes do clã Bartholy, não passo de uma bonequinha que as pessoas querem proteger.- Digo irritada e frustrada.- E também não mereço as habilidades que herdei dos meus antepassados aqui, não quando tenho as mãos sujas de sangue, uma vida que já deveria ter sido tirada de mim, e não refeita com magia quebrando todas as leis sobrenaturais no processo.- Eu mal ouço as palavras na minha mente antes de dize-las.- E tudo parece me punir pela minha incompetência.

Me deixo cair sentada novamente me lembrando de Peter.

- Mas eu não pedi por nada disso vovô...- Concluo já em prantos.

Passei a encarar o movimento quase imperceptível do lago.

- A vida não é fácil criança...- Levanto o rosto vendo ele ao meu lado.- Nem sempre as coisas caminham como queremos.- Ele quebra o silencio encarando o lago.

Apenas fico em silêncio sem ter uma resposta.

- No te olvides, nada es perfecto pero se lo intentas todo irá mejor.- Disse ele.- Você ainda é jovem criança, ainda vai encontrar o próprio caminho. Sua vida não foi refeita para que você fosse alguém frágil sem objetivo. Você recebeu uma segunda chance, não a jogue fora.

Então ficamos em silêncio, observando o lago a nossa frente.



Me desculpem a hora, eu precisei fazer algumas alterações de última hora! Esperam que tenham gostado, até amanhã!

  Uma Bartholy?Onde histórias criam vida. Descubra agora