Capítulo 68

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Oliver me olha com um sorriso acolhedor desde que nos sentamos em uma das mesas do refeitório. Me sinto totalmente confortável em sua presença, mesmo com os cochichos e olhares de outros alunos.

- Por que está me olhando assim?- Pergunto.

- Assim como?- Ele pergunta.

- Eu não sei, você que está me encarando...

Oliver ri.

- Nunca me canso de olhar pra você....- Diz dando de ombros.

Reviro os olhos, a última coisa que preciso nesse momento é ser cortejada.

- É sério, pode parecer estranho mas... Sinto como se você fosse fruto da minha imaginação e a qualquer momento você fosse desaparecer.- Diz sério.

Desvia o olhar do dele, meu coração se aperta com sua confissão, não o entendo, mas sei que ele tem alguma ligação com meu passado, ao menos eu acho.

- Eu estive pensando durante a aula, e acho que você deveria fazer música. Você toca tão bem, e a sua voz.... É tão linda.- Diz ele.- Adoraria cantar com você de novo, igual ao festival.

- Me desculpe mas eu não posso, a música é uma parte minha que eu deixei esquecida a muito tempo.- Digo.

- E por que? Você parece gostar tanto....

- Por favor não insista, só toquei hoje porque Betho pediu. Eu não consigo mais me envolver com a música.

- Está bem, não vou insistir.- Oliver diz.- Mas me prometa que vai pensar em cantar comigo novamente sim.

- Vou pensar no seu caso.

Sorrimos um para o outro.

- Posso perguntar uma coisa?- Pergunta ele.

- Sim.

- Aquele cara, o Peter.... O que vocês são?- Oliver pergunta francamente.

Fico surpresa com sua pergunta.

- É complicado...- Respondo com certa dificuldade.- Por que?

- Curiosidade apenas.

- Prefiro não falar sobre ele.- Digo sendo sincera.

Falar sobre Peter me deixa mais triste do que já estou, lembrar dele me machuca.

- Está bem.- Oliver diz.- O que acha de comermos algo? Você prefere um sanduíche de queijo com tomate ou um croissant?

Eu sorrio.

- Os dois.

                        ........................

Já havia se passado dois dias desde que toquei na aula de Betho, e desde então não paro de pensar nisso, no que senti enquanto tocava. Gostaria de ser corajosa o suficiente para poder voltar a tocar em público, mas não sei se poderia.  

Olho para o professor de história da arte que fala sobre algum acontecimento qualquer durante o renascentismo. As aulas não tem mais graça, pra falar a verdade nada mais tem graça, desenhar, estudar, conversar, nada parece fazer sentido, sinto um vazio tão grande dentro de mim, ele parece aumentar a cada segundo.

Não consegui dormir hoje a noite, sinto a falta de Peter, havia me acostumado a dormir em seus braços. Não sei quanto tempo faz, mas sei que não tem mais de uma semana, e nesse pequeno período estou quase entrando em depressão.

Sinto sua falta mais que tudo, mas não consigo ouvi-lo, nem acreditar. Não quando eu o vi a beijando. Meu coração está dilacerado, e pensar que no final ele não me amava, não de verdade. Ele nunca esqueceu dela.

Em um certo momento, não consigo mais ficar na sala de aula, pego minhas coisas e saio de lá o mais rápido possível sem me importar com os olhos atrás de mim.

Caminho sem rumo por alguns minutos. Não há muitos alunos nos corredores, então não tenho problemas em andar sem rumo e deixar que as lágrimas acumuladas molhem meu rosto. Há um vazio tão grande dentro de mim, parece que a qualquer momento ele vai me consumir por inteiro.

Quando dou por mim, estou do lado de fora próximo ao campo de baseball, onde meia dúzia de garotos treinam. Eles não me vêem e eu caminho ao lado das arquibancadas. Ultimamente não tenho ninguém nesses momentos, parece que Peter levou consigo todas as pessoas que pareciam se importar.

Respiro fundo e caminho até às arquibancadas, subo até os últimos lugares e aproveito a tranquilidade para me sentar. Fecho os olhos e deixo as lágrimas caírem, talvez eu me sinta melhor depois de colocar tudo pra fora, talvez esse peso e essa tristeza saiam. Ou talvez não adiante em nada, mas não me importo, eu cansei de fingir ser forte. Não quero chorar mas não consigo segurar as lágrimas nem fingir que não está doendo.

Alguns minutos se passam, é quando sinto a presença de alguém próximo a mim.

Tento não prestar atenção, a final tem alunos por perto. Mas então sinto alguém se sentar ao meu lado, por um momento penso que estou sonhando mas ao abrir os olhos o vejo aqui, a apenas alguns sentimentos de distância. Drogo olha para o campo, sua expressão se mantém séria, eu desvio o olhar e olho para baixo, para o nada.

- Dia difícil?- Ele quebra o silêncio.

- Semana ruim eu diria...- Digo.

Suspiro.

- O que você quer?- Pergunto sem rodeios.

- Você não parece bem ultimamente......

Rio amargamente.

- E daí?

- E daí que eu estou preocupado.- Diz finalmente.

Sinto o peso de seu olhar sobre mim.

- É melhor você ir, quero ficar sozinha.- Falo.

- Não até você me dizer o que houve.- Afirma.

O olho incrédula.

- Eu não te devo satisfação.- Digo irritada.- Se você não for sair eu saio.

Me levanto pronta para sair, mas quando dou um passo pra frente, sinto Drogo me segurar pelo braço, o que me faz parar abruptamente.

- Anne espere... Eu sei que fui um idiota mas estou preocupado com você.- Drogo diz.- Será que nós podemos conversar?

Drogo me solta delicadamente, eu me viro em sua direção. Nos encaramos por alguns segundos.

- Eu não quero conversar.- Falo em meio ao pranto.

- Anne...

- Vai embora! Você não se importa!

Drogo estende os braços para mim, um gesto tão familiar que me faz querer chorar ainda mais. Um convite para uma possível trégua. Um gesto de carinho que ele constava fazer.

- É claro que eu me importo... Você é minha irmã, minha outra metade, e eu a amo.- Drogo diz.- Eu sei que agi errado e que você talvez me odeie, mas precisamos conversar....

Vejo o olhar preocupado de meu irmão, eu não conseguiria ficar brava com ele por muito mais tempo, ainda mais quando ele me oferece o que eu mais estou precisando.

Me aproximo meio receosa, mas quando meu olhar encontra o seu aflito, não resisto ao impulso de deixá-lo me abraçar, e só então me dou conta do quanto senti a falta de seu aperto, seu conforto. Drogo me aperta contra si, eu apenas retribuo o abraço. Estava precisando disso.

- Eu devia ter te ouvido....- Murmuro entre as lágrimas.

Drogo não diz nada, nós sentamos de volta na arquibancada e Drogo continua a me abraçar.

- Nós podemos ir embora? Eu quero ir pra casa...- Peço.

Drogo concorda com um aceno.

- Está tudo bem, nós vamos embora.

Ele segura minha mão e vamos até seu carro no estacionamento. Eu preciso sair daqui, ir pra longe, e tentar me sentir menos pior pelo que ouve.


  Uma Bartholy?Onde histórias criam vida. Descubra agora