Não posso dizer que descansei noite passada, como sempre meu sono foi inquieto, superficial eu diria, tive sonhos estranhos novamente, nenhuma novidade, mas diferente das últimas semanas, estes não foram pesadelos, foram sonhos bons simplesmente, sonhei com um rapaz na qual não via o rosto, passamos momentos muito bonitos, e a estranha sensação de familiaridade que me acompanha a algum tempo me faz crer que são mais memórias, memórias da minha vida passada, as memórias de Viktoria Bartholy.
Por alguma razão me sinto inquieta, e como nunca uma vontade eufórica de lembrar de tudo me preenche rapidamente, nunca havia sentido isso, é como se eu tivesse certeza de mim mesma, certeza da pessoa que eu sou ou que eu fui. Não sei ao certo, mas é como se de uma hora para outra eu passasse a me sentir diferente.
Deixo meus devaneios de lado e sigo para a sala de música vazia, Peter e eu combinamos de nos encontrar lá para conversarmos, a universidade foi uma correria durante a manhã, então optamos pela sala de música que está fora de uso. De acordo com Peter, ela foi deixada de lado depois que reformaram uma nova sala, e parece que ficará assim até nova ordem.
Adentro a sala e fecho a porta atrás de mim, olho ao redor maravilhada pelos instrumentos, caminho pela sala a estudando, os instrumentos de sopro se encontram no lado esquerdo em uma instante, enquanto os de corda se encontram do lado direito. Um belíssimo piano está posto no meio como uma estrela em cima do palco.
Ando até o piano e me sento de frente a suas teclas voltando a olhar ao redor. Esse ambiente me lembra de ontem, do momento que cantei com Oliver, da sensação de liberdade que senti. Suspiro cansada, si tô falta de cantar e tocar, depois da morte de Matteo raramente pegava em um instrumento, raramente cantava. Cada nota e acorde me lembravam dele. Mas agora é diferente, sinto mais falta do que nunca da música, meu peito se aperta com o pensamento de não cantar mais, adoraria poder voltar a cantar em público mas não posso, ontem foi ontem, sinto que vou travar se subir em um palco sozinha.
Olho para o piano a minha frente. Isso é tão frustante, olhar para essas teclas sem ter coragem de toca-las. Olho para a porta que continua fechada e por um momento esqueço os motivos e razões que me prendem, estendo as mãos e toco algumas teclas aleatoriamente. Os sons são tão melodiosos quanto o canto de um pássaro.
Respiro fundo e quando dou por mim meus dedos deslizam pelas teclas do piano, e a melodia de uma de minhas músicas favoritas preenche todo o cômodo. A cada nota tocada uma série de sentimentos me invadem, sempre amei a sonoridade dessa sinfonia.
Estava tão focada na música que não notei quando alguém adentrou o cômodo, quando levantei o olhar ele estava ali, me observando de forma admirada. Parei de tocar no momento em que percebi o estranho dentro da sala, um homem aparentando ter uns trinta ou quarenta anos vestido de forma elegante.
- Oh por favor continue tocando.- Diz.
Fico sem saber o que fazer pela surpresa, ele então se aproxima e para próximo ao piano.
- Me perdoe pela intromissão mas não me contive, você tocava tão lindamente que não quis lhe interromper.- Diz convicto.
- Obrigada, eu acho....- Digo sem jeito.
- Beethoven Reinald.- Estende a mão se apresentando.
- Como o músico?- Pergunto apertando sua mão.
Ele sorri.
- Sim como o músico, mas todos me chamam de Betho.- Afirma.- E a senhorita?
- Anelise.- Digo simplesmente.- Mas pode me chamar de Anne.
- Muito bem Srta Anne, você faz música? Nunca a vi em nenhuma de minhas aulas.
- Ah eu não faço música...
- Mas deveria! Nunca vi ninguém tocar Liszt com tanta facilidade. Apenas um de meus alunos toca com tanta destreza e técnica que você demonstrou.- Diz convicto.
- Agradeço os elogios mas nem toco tão bem assim... Eu faço Arte moderna e contemporânea, abandonei a música a algum tempo, não sei se estou preparada para voltar... - Digo me levantando do piano.
- Isso é realmente uma pena, me parte o coração ouvir isso..... Ao menos venha participar das minhas aulas, adoraria tê-la como minha aluna.- Betho fala.
- Eu tenho que ir...- Digo andando até a porta.
- Ao menos pense em minha proposta...- Diz.
- Eu prometo pensar nela.- Respondo.
Ele sorri e caminha até mim.
- Eu não sei o que lhe levou a deixar a música, mas tenho que dizer, você tem um dom. Como disse Picasso, o sentido da vida é encontrar o seu dom, o propósito da vida é compartilhá-lo. Você é jovem, não desperdice as oportunidades que a vida lhe dá, talvez se arrependa no futuro.
- Talvez tenha razão.... Prometo pensar no que disse.- Digo sorrindo.
- Foi um prazer conhecê-la.- Diz apertando minha mão.
- Igualmente. Espero revê-lo novamente.- Confesso.
- Eu garanto que sim. Mas tenho que ir agora, preciso correr, meus alunos me esperam.
- Até logo.
- Até.- Diz antes de ir embora.
Eu sorrio ao vê-lo sumir nos corredor, adorei falar com ele, suas palavras sábias martelando em minha cabeça me fazem pensar na possibilidade de participar de suas aulas. Mas antes de pensar nisso, preciso achar Peter, já era para ele estar aqui.
Deixo a sala e caminho pelo corredor, tenho uma sensação estranha, me pergunto se aconteceu algo, Peter sempre foi pontual, adiantado eu diria. Ele já devia ter vindo me encontrar.
Quando viro a esquerda entrando no outro correndor, me surpreendo com a cena que vejo diante de mim. Todo a alegria e euforia que sentia somem como passe de mágica. Minhas pernas tremem e a tristeza e o desespero tomam conta de mim. Sinto como meu coração tivesse sido arrancado de dentro do meu peito, como se eles tivesse se partido em mil pedaços.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto, nunca pensei que passaria por isso algum dia, ver isso foi pior que enfiar uma estaca de madeira em meu coração. Peter e Lizabeth estão aos beijos encostados nos armários, Peter está de costas para os armários enquanto Lizabeth se mantém em sua frente com os braços ao redor de seu pescoço, ele por sua vez mantém as mãos na cintura dela, quase a abraçando. Me sinto completamente idiota, usada. Eu nunca esperaria isso dele, pensei que ele fosse dizer que me escolheria, que preferia eu a ela, mas não podia está mais enganada. Ele bem esperou para me rejeitar, foi correndo para os braços dessa qualquer sem nem se importar comigo, com os meus sentimentos.
Não aguentava mais ver isso, qua do estava prestes a sair dali, Peter me vê e se afasta dela.
- Anne eu posso explicar....- Diz se aproximando.
- Não se aproxime...- Digo com a voz embargada.
- Não é o que parece eu..- Ele tenta se aproximar mas eu ando para trás.
- Não me toque!- Aviso.- Não quero ouvir mais nenhuma de suas mentiras!
- Por favor me escute eu....
- Ah não se preocupe, você não me deve mais nada.- Digo me afastando.
Olho para os dois, não posso acreditar que Peter me enganou esse tempo todo.
- Anne...- Ele diz suplicante, vejo lágrimas em seus olhos, ele é um completo mentiroso.
- Fique longe de mim, você é horrível! Me usou durante todo esse tempo. Eu... Eu confiei em você.- Digo.- Yo te entregué mi corazón... Y usted lo destrozó, no te importó a mis sentimientos in ningún momento?
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa fui embora dali, apenas corri, corri para bem longe. Tudo que eu queria era apagar da minha mente aquela cena. A dor que estou sentindo é tão grande, eu nunca deveria ter me permitido me apaixonar novamente. Agora estou aqui, sofrendo por alguém que nunca me amou. Sozinha, sozinha com o coração em pedaços.
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Uma Bartholy?
FanfictionDesde que nasceu, Anelise nunca foi uma garota normal, via e ouvia o que ninguém mais podia. Quando seus pais morreram anos atrás, foi transformada em vampira junto com seus irmãos, mas por obra do destino se viu sozinha por causa de desentendimento...