"Livro 2 da série Barcelona"
Quatro anos são suficientes para curar uma ferida?
Com certeza para Gavi e Manuela, não!
Inseparáveis desde crianças, não estavam preparados para o que a adolescência os esperava... Futebol, novas amizades, fama, problem...
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— Ei, tá tudo bem?
A voz da Maya me puxou de volta dos pensamentos, e só então percebi que estava olhando para fora da janela sem realmente ver nada. Ela perguntou de novo, baixinho, quase num sussurro, para não incomodar o Matteo, que estava concentrado no notebook, na poltrona ao lado.
Suspirei, me ajeitando contra o ombro dela e soltando um leve sorriso para não preocupar demais.
— Tá sim. — Respondi, mas logo completei, sabendo que ela não ia se contentar com isso. — Só... Pensando na Eurocopa.
Ela assentiu de leve, deixando que o silêncio entre nós se acomodasse de novo. Era um daqueles silêncios em que a gente não precisava falar tudo, porque, de algum jeito, ela já sabia. Conheço a Maya desde sempre, e ela me conhece como poucos. Com ela, nunca fui só o Gavi "jogador", mas sim uma pessoa com todas as inseguranças, expectativas e medos.
A verdade é que eu estava tentando processar tudo o que significava voltar a estar com a Seleção e voltar a jogar daqui alguns meses, especialmente depois da lesão. Estava na fase final da recuperação, mas ainda havia momentos em que a incerteza batia, aquela ansiedade sobre como meu corpo reagiria a um jogo de verdade. Eu sabia que não podia errar agora; estava tão perto. Mas, ao mesmo tempo, o medo de um passo em falso, de algum movimento errado que me afastasse dos gramados de novo, não saía da minha cabeça.
A recuperação tinha sido uma montanha-russa, e ainda que eu estivesse pronto para voltar, de certo modo, meu corpo e minha mente ainda estavam presos entre a confiança e a cautela. Esse era o momento em que eu devia sentir mais ânimo, mas também era o momento em que mais questionava tudo.
— Sei que não deve ser fácil. — Maya comentou, com um tom de quem lê o que não foi dito. — Mas, Gavi, você trabalhou tanto para isso. Não deixa essa insegurança estragar tudo que você conquistou. Falta pouco.
Ela tinha razão, claro. Durante meses, eu tinha me dedicado à fisioterapia, passado por treinos de força e resistência, encarado dor e limitações físicas que nunca imaginei precisar enfrentar tão jovem. E, apesar de tudo, cada pequeno progresso era uma vitória. Cada vez que eu via o movimento do meu joelho melhorar, sentia uma faísca de esperança acender. Ainda assim, não era fácil.
Olhei para o lado, onde o Matteo ainda estava concentrado, o olhar fixo no notebook, provavelmente lidando com os últimos detalhes de trabalho antes do pouso. Eu sabia o quanto ele também estava sobrecarregado, tentando equilibrar o trabalho e o apoio à família em meio a todas as turbulências recentes. Tanto ele quanto Maya haviam sido um dos meus maiores apoios durante essa recuperação. Em meio ao caos, eles eram as pessoas que me lembravam de quem eu sou e do que sou capaz, mesmo quando eu mesmo duvidava disso.
— Vocês dois... — Comecei, hesitante, como se as palavras fossem pouco para tudo que eu queria dizer. — Não sei o que seria de mim se vocês não estivessem aqui.
