Encontrou Von perto de onde eles acordaram. Art ainda tinha a cabeça doída por causa do esforço, mas sentiu-se bem em andar pelo sol e sentir o vento suave e frio no corpo. Não saiu da fortaleza por quase um mês, trabalhando em seu projeto, e mal viu Von nesse período. O amigo estava do lado de uma cratera grande no chão, de olhos fechados.
— Von! Eu...
— Art! — Von abriu os olhos e sorriu. — Cara, você precisa ver isso!
— Eu termi... — Art chegou perto dele, mas não conseguiu completar a frase. Von o puxou para o lado e o plantou num ponto específico do chão, afastando-se alguns passos e voltando até onde estava. Art ficou tão curioso que esqueceu o que tinha para dizer.
— Ok, presta MUITA atenção — disse Von, rindo sozinho, batendo palmas e esfregando as palmas das mãos. Art observou, e nos minutos de concentração do amigo analisou-o.
Continuava com o mesmo peso. Qual fora a última vez que fizeram uma refeição? Alisou a barriga ele próprio, tentando se lembrar da última vez que ingerira algo. Sentia-se estranhamente bem. Estariam, subconscientemente, alimentando seus corpos? Von usava roupas pretas simples, que ele mesmo fizera, e o cabelo não parecia ter crescido muito. Não tinha barba, também. Art olhou para o céu, e viu o sol encoberto por uma grande nuvem gorda. Qual foi a última vez que chovera? A árvore, a única que viram em cima de um pico, parecia bastante viva. Que lugar no mundo tinha aquela árvore? Desistiu logo de tentar descobrir. Um ano ali e não descobrira, não faria isso agora. Continuava sem ter ideia de onde estavam.
— Não pisca — disse Von.
Art arregalou os olhos, resistindo à brisa que soprava. Von saltou no lugar.
— Você viu!? — Von gargalhava.
— Não, na verdade. O que você fez?
— Eu teleportei, cara!
— Não pareceu — disse Art, à beira do riso. Von estava empolgado demais com aquilo; teria finalmente pirado?
— O que pareceu?
— Que você pulou no lugar.
Von abriu a boca para contra argumentar, o sorriso apenas crescendo na face, mas parou.
— Vou fazer de novo. Presta mais atenção. — E fechou os olhos mais uma vez.
Art pescou as imagens de pouco tempo atrás na memória. Teria Von realmente feito algo além de dar um minúsculo salto no lugar? Não parecia ter se levantado... E seu cabelo não se moveu... Foi rápido.
Levou uma mão à testa e cobriu os olhos por um segundo. Descobriu a habilidade que estava prestes a usar ao acaso, enquanto procurava formas de olhar mais longe, e demorou algum tempo para entender o que descobrira. Era a primeira vez que Art usaria aquilo para algo útil.
Quando sua mão deixou os olhos, tinha um olhar afiado. Von não se movia.
As mãos de Von começaram a ruir. Muito devagar, tanto que Art não teria como ter ideia daquilo sem usar seu novo método. Não podia desviar os olhos para as mãos do amigo, então teve que confiar em sua visão periférica. Os dedos sumiram primeiro. Como se fossem sugados, ponto a ponto, em direção ao centro... Os pés faziam o mesmo, mas era ainda mais difícil ver. O cabelo também. Via Von colapsar sobre si, e imaginou se ele teria, por acidente, criado um buraco negro no estômago. Se fosse o caso o próprio Art estaria perdido — não conseguia fazer nada enquanto observava, só ter aquela percepção muito lenta do tempo. A cabeça do amigo sumiu, e por um instante restou somente um corpo sem membros. Tudo, para Art, demorou meros segundos. Ele não soube dizer se sua técnica era ruim ou se aquilo estava acontecendo em uma velocidade inconcebível.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Princípios do Nada
Mystery / ThrillerE se a vida pudesse ser tão interessante quanto você achava que seria quando criança? E se todas as histórias que você imaginava, as aventuras, os poderes, a grandeza que você esperava para si... E se tudo isso fosse de novo verdade, tão real que ch...