Trevor foi ao banheiro e não voltou. Logo depois Cella surgiu do meio da multidão, totalmente deslumbrante no vestido amarelo, as bochechas rosadas, os olhos brilhantes. A conversa animou a noite, Marcella sempre amável e ótima para levantar os ânimos, mas logo as duas não conseguiam ficar a sós. Era a formatura de ensino médio, afinal. Um momento de vitória aos extrovertidos e redenção aos introvertidos, a última festa com todo o pessoal do colégio. Não haveria fofocas na segunda-feira; não havia futuro, consequência. Ninguém ali queria terminar a noite sozinho. Os rapazes chegavam nelas sempre aos pares, todos semi-conhecidos e a grande maioria odiados por Von, Art e Seh. Alguns vieram com elogios, outros com piadas, e alguns com métodos pouco ortodoxos, reflexões profundas, lembranças de momentos da escola. Uns claramente haviam se preparado para aquele momento. Outros tinham álcool demais no sangue. Cella sabia reagir perfeitamente bem naquelas situações; acontecia com ela o tempo todo. Lena limitava-se a sorrir e desviar o olhar. Talvez uma hora depois a amiga foi ao banheiro, pedindo desculpas à quinta ou sexta dupla que ela cordialmente dispensava, andando em passos rápidos, o vestido amarelo abrindo caminho na pista.
Helena não saiu do sofá do térreo. Estava ao mesmo tempo longe da banda e dos bares, num dos espaços mais vazios do andar escuro. Acima a luz era avermelhada, rubra, provocativa demais. Respirou por um tempo, aliviada com a solidão.
No começo achou que os caras vinham até elas só por causa de Cella. Cella era linda; e Lena era só sua amiga. O vestido branco e apertado não combinava com suas roupas negras de sempre, e até demoravam para reconhecê-la, mas ela teve que admitir que ficava bem com roupas claras. O tecido mesclava-se na pele alva, o cabelo escuro escorrendo para a frente. Sentia os olhos caindo sobre ela, mais do que esperava. Sua hipótese inicial não parecia tão certa agora, principalmente com o garoto alto e bonito indo na direção dela.
Conhecia aquele. Era de outra turma no colégio, e via-o de longe desde sempre. Talvez já tivessem trocado duas palavras, e um ou outro olhar. Era parte de outro grupo de amigos, com uns três caras e algumas garotas, entre elas aquela ruiva que Alesia odiava. Ver o garoto indo falar com ela, e não com a ruiva, deu a Lena um pequeno sentimento de satisfação. Só teria sido maior se não tivesse visto a tal menina ruiva conversando com Von no andar de cima.
Não era assim que tinha que ser.
— Oi Helena — ele disse. — Acho que nunca tinha te visto de branco.
Ela sorriu ao garoto, que tomou o lugar ao lado dela.
A conversa fluiu entre adjetivos e rubores, entre mãos lentas, movimentos calculados, olhares e a crescente falta de atenção no que viam à volta deles. Lena mentiria se dissesse que não estava gostando, mas ao mesmo tempo...
— Você fica linda de branco.
Não era dele que aquelas palavras tinham que vir.
Mas essa era a vida dela agora. Não era a vida que teria planejado para si, a vida que ela realmente queria, mas não fez nada para mudar isso. Não falou quando era hora, não se esforçou... Tantas oportunidades perdidas! Se pudesse voltar...
Entre o vermelho do andar de cima e o negro do térreo, Helena pela primeira vez imaginou como faria as coisas se pudesse voltar.
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Ah, Lena... Quarta-feira começa o Capítulo 8: Como Nós!
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Princípios do Nada
Mystery / ThrillerE se a vida pudesse ser tão interessante quanto você achava que seria quando criança? E se todas as histórias que você imaginava, as aventuras, os poderes, a grandeza que você esperava para si... E se tudo isso fosse de novo verdade, tão real que ch...