— Eles estão demorando — disse Ca... disse Jo, sua irmã mais nova. As duas eram parecidas, mas ainda assim bastante diferentes.
— Paciência, Jo — disse Gaen, as mãos nos bolsos. Seh sempre achou que ele se parecia com um advogado ou homem de negócios por causa do terno, mas era sério demais para ser qualquer coisa fora um sociopata. — Alguma coisa, Klen?
— Hã? — disse Seh, pela boca de Klen. Recuou sua sugestão, voltando o controle do corpo ao homem, e deixou-o falar: — Não, nada ainda.
Klen não tinha ideia de que Seh estava ali. Não tomava controle per se: convencia Klen, com muita força, a fazer exatamente o que ele queria. O homem achava que estava só tendo um surto de impulsos esquisitos.
Os seis dispunham-se num triângulo, esperando o que quer que fosse aparecer no centro do campo de futebol. Gaen e Callíope estavam na frente, sérios, seguidos por Merriam e Raffes, receosos, e atrás estavam Klen e Jo, ele confuso, ela olhando as unhas. O estádio estava completamente deserto fora os seis, em pé no meio do campo apagado. Seh (Klen) não conseguia ver o rosto de Callíope, mas algo em sua postura dizia que estava ansiosa.
— O que foi, Callíope? — disse Klen, dando um passo na direção dela. Seh afrouxou sua sugestão, assegurando-se que as palavras sairiam sem um pingo de sua personalidade.
— Tem algo errado. O Cennen estava esquisito na última reunião, e essa mensagem, pedindo pra nos encontrarmos aqui... Esse lugar é muito isolado. A praça de alimentação era muito mais amistosa.
— Você acha que o Cennen planeja algo? Contra nós seis? — questionou Merriam, as mãos nos bolsos do sobretudo, olhando para o céu.
— Não, Cennen não. Quem nos chamou aqui hoje.
Uma brisa varreu o estádio, surgindo do canto e correndo em espiral, arrancando folhas do chão e subindo ao centro, os fragmentos de grama girando e se unindo, tomando forma. Todos levantaram a guarda, menos Callíope. Seh a ensinara muito bem a perceber agressividade.
— Callíope — disse a figura de grama, o corpo disforme formando-se e desfazendo-se conforme o vento o moldava. — Saia daqui.
— Siman — ela respondeu. — O que aconteceu?
— Cennen deixou a Presença. Não é ele que está vindo.
— Por quê? — disse Gaen, tirando as mãos dos bolsos e fechando os punhos. — O que aconteceu?
— Eu não sei. Cennen e eu havíamos sido enviados por causa do Klen, mas depois que descobrimos vocês as nossas ordens mudaram. Cennen tinha até ontem para dar seu parecer sobre o seu grupo, e eu não o vi desde então. Não acho que quem vier aqui vai ser amigável.
— Siman... — disse Callíope, mas antes que pudesse terminar o vento cessou e a forma dele se desfez.
— O que a gente faz? — disse Raffes, olhando para os lados, alisando a cabeça quase calva. — Damos o fora? Merda, não vim pronto pra um embate!
— Isso talvez seja prudente — disse Merriam —, mas não deveríamos nos acovardar ante à Presença...
— Eu digo que a gente fica — disse Jo, cerrando os dentes. — E mostra que a gente falava sério com o Cennen. Estamos bem sozinhos. A gente não precisa da presença pra nada.
Os três olharam para Gaen, e quando Seh percebeu que Klen queria fazer o mesmo deixou. Esperavam a palavra dele para agir. Gaen, entretanto, olhava para Callíope.
Merda, pensou Seh.
A noite rugiu, fazendo tremer as fundações do estádio, e antes que qualquer um deles pudesse reagir um raio partiu o céu. Depois outro. E outro, e logo estavam sendo bombardeados, o som ensurdecedor, a luz cegante, caindo na grama como lanças elétricas, errando-os por pouco. Um deles finalmente atingiu Callíope na cabeça, mas ela se livrou fácil, sem piscar. A energia quicou para fora do seu corpo e fez uma curva, caindo na grama.
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Princípios do Nada
Bí ẩn / Giật gânE se a vida pudesse ser tão interessante quanto você achava que seria quando criança? E se todas as histórias que você imaginava, as aventuras, os poderes, a grandeza que você esperava para si... E se tudo isso fosse de novo verdade, tão real que ch...