Art apareceu mais rápido do que ele esperava. Ouviu seus passos, e o amigo entrou no pequeno espaço entre as árvores onde Von estava. Via Lena longe, olhando confusa à sua volta.
— Ei Von, você viu isso?
Quando Art percebesse ficaria bravo com ele. Ficaria possesso.
— Vi — respondeu Von, indiferente. Sua mente ainda voltava à realidade, desacelerando, e sentia-se tonto. Nunca fizera algo que exigiu tanto dele. Demorou a perceber que Art tentava lê-lo.
— Ei, vocês viram isso? — gritou Lena, visível entre as árvores da distância. Nem Art nem Von olharam para ela.
— Caras? — tentou novamente Lena, chegando perto e percebendo a tensão.
— Von... — Art observou muito o estado de calma e fora-do-momento que Von se encontrava até entender o que ele significava. — Foi você que fez isso?
— Foi. — Von olhava Art como se dali a pouco fosse espirrar. Desviou os olhos dele e viu a margem do lago, na distância. Não havia mais neblina.
Art abriu um sorriso enorme, sede nos olhos.
— Isso foi incrível! Sério, inacreditável! Sumiu por completo, mas ao mesmo tempo pareceu tão natural! Extraordinário!
Von soltou um meio sorriso, e Lena arregalou os olhos, deixando escapar grunhidos de surpresa. Ainda era cedo, e sem a neblina o dia no lago era perfeito. Continuariam isolados por pouco tempo; em questão de meia hora muita gente iria até ali aproveitar o final de semana.
— Você consegue trazer de volta?
Von ficou sério. Poderia mentir. Deveria. Art ficaria chateado, mas não tinha o que fazer. Foi um teste ambicioso, um acidente: perfeitamente desculpável. Mas Von sabia que conseguiria trazer a neblina de volta, talvez até mais espessa do que antes.
— Posso — disse, simplesmente.
— Legal! — Art continuava eufórico. — Então... demora muito? Você me explica como fazer? Eu não sou muito bom nessa parte, mas...
— Art — interrompeu Von —, eu disse que posso.
Lena observou-o com dúvida. O sorriso de Art derreteu.
— Não que vou — terminou Von. Art deixou a boca pender semiaberta, sem emoção.
— Exige muito? É complicado? — perguntava Lena, baixo.
— Não, nada disso. É porque eu não quero.
Von deu as costas aos dois e começou a caminhar na direção do lago, pensativo. Aquele experimento bem-sucedido deu a ele várias ideias novas, como...
Uma mão no ombro o fez parar.
— Espera cara como assim? — disse Art. — Não tem problema se você não conseguir, quero dizer, a neblina ajuda muito, sem ela...
Von viu mais uma vez a chance de mentir, mas não podia. Vê-los tão empolgados com a neblina... Como podiam? Ninguém se lembrava do que aconteceu? Não... Lena com certeza se lembrava. Mas ela nunca levantaria a voz, nunca traria um assunto tão complicado à roda. Era tudo Art. Às vezes Von até achava que Art gostou do que aconteceu. Gostou de Alesia nunca mais dirigindo uma palavra a ele.
— Não. — Ele se virou para Art, engolindo a raiva. — Eu desfiz, e posso refazer.
Pergunta por quê, vai, pergunta, pensava Von, o rosto sério uma máscara podre do que tinha por dentro. Mas Art não perguntou.
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Princípios do Nada
Misterio / SuspensoE se a vida pudesse ser tão interessante quanto você achava que seria quando criança? E se todas as histórias que você imaginava, as aventuras, os poderes, a grandeza que você esperava para si... E se tudo isso fosse de novo verdade, tão real que ch...