Capítulo 12: Profecia (VIII)

12 2 3
                                    

Quando Von percebeu que Alesia tinha destruído o corpo de Erm, desligou-se por um momento, terminando de arrumar a própria mente. Esperava recuperar a visão e ver o sorriso vitorioso dela. Mas não foi isso que viu.

— Então é isso... — dizia Erm, circulando a garota. — Esse método... Que modo peculiar de lidar com a Consequência! Quem será que... — ele murmurava, a cabeça brilhando mas sem brilhar, como se a luz saísse do seu entorno, como uma auréola. — O que acontece se eu...

Von sentia a mente de Erm trabalhar, e o velho não pensava rápido. Pensava muito. Pensava de uma forma diferente daquela que Von se acostumara a sentir. Beirava o incompreensível. Tentou pará-lo, mas, enquanto tentava compreender o que o Grão-Mestre fazia, tudo que pôde fazer foi escutar a voz de Siman, finalmente completa:

A morte virá a você. Na hora que você menos esperar, do jeito que você menos esperar.

Siman rira nessa hora, Von se lembrava. Só se lembrava agora, no final.

Não sendo a sua.

Alesia caiu.

— NÃO!

Von saltou, e com uma joelhada explodiu o corpo de Erm em um bilhão de pedaços. Caiu do lado de Alesia, mas logo Erm falou:

— Pare com isso, jovem. Não seja outro Rocan.

Von surgiu ao lado de Erm, socando-o com tanta força que o punho atravessou o crânio do velho. Mas foi só piscar e ele estava inteiro de novo. A mente do Grão-Mestre trabalhava de outra forma agora. Consumia... Não, criava mais energia. Criava energia e adicionava à própria mente, alma, consciência. Von nunca havia concebido algo assim.

Von voou para trás, caindo e afundando no asfalto. No instante que levou para soldar as costelas no lugar, a avenida rastejou por cima de seu corpo, enterrando-o.

— O jogo de Rocan termina hoje — disse Erm. — A última coisa que você fará será me contar exatamente o que ele planeja.

Von tentou erguer os braços com tanta força que partiu próprios os ossos. Tentou teleportar com tanto empenho que o concreto se rachou à volta dele, esquentando, derretendo. Erm parava todos os seus esforços, como se segurasse uma criança pela cabeça. O Grão-Mestre criava mais mente para si, mais pensamento, mais fé, da mesma forma que Von criou os paraquedas.

Von tentou destruir o corpo do velho de todas as formas que já havia imaginado, esmagando-o, queimando-o, liquefazendo-o, mas nada funcionava. Ou melhor, funcionava: Erm nem tentava impedi-lo. Reconstruía o corpo imediatamente depois, e Von suspeitou que só por capricho. Não precisava de um corpo físico para viver.

A solução era a mente. No nível de Erm, era impossível vencer só destruindo seu corpo: ele conseguia sobreviver sem um. O único jeito de derrotá-lo era em um embate mental. E se havia algo no universo que Von não tinha fé nenhuma, era nas suas habilidades com a mente.

Ele tentava, o cérebro freneticamente pensando no que Art faria, pensando em Alesia caída na avenida, pensando em todos os ensinamentos de Merriam, todos os ensinamentos de Art, de Seh, tudo que vira nos Picos, em tudo que lera no...

No Livro.

Von lera só algumas páginas do Livro, no desespero da profecia de Siman se concretizar. Na época estava querendo se fortalecer para derrotar qualquer um que tentasse matá-lo. Nunca tinha pensado... Alesia...

As páginas que leu, depois de vomitar algumas vezes e desistir, continham um conhecimento que ele nunca havia testado. Começavam com uma emoção que ele associava a uma frase clichê, que ouviu muitas vezes nas aulas de Termodinâmica.

Princípios do NadaOnde histórias criam vida. Descubra agora