Rocan parou em frente à abertura que demarcava o forte das garotas. Lena nunca o chamara assim na presença de Alesia, mas era esse o nome do lugar. A pequena muralha circular que fora só das duas, enquanto ainda eram os quatro; o que quer que fosse antes delas a encontrarem, não podia ser tão interessante assim. O chão estava coberto de folhas secas, acumuladas por causa da chuva que nunca caía ali.
Aquele lugar trazia um sentimento agridoce a Lena. Por um lado foi o mais próxima que já chegou de Alesia; só as duas, horas a fio, desfazendo e refazendo a criação, rindo como crianças, fazendo folhas flutuarem e queimarem, brincando com palavras e mentes. Não conseguiam conversar sobre as coisas que faziam lá com os garotos, então eram sempre só as duas. Até o sol descer permaneciam sozinhas, e mesmo assim não foi suficiente. Não conseguiu deixá-las próximas como Helena sempre quis.
Mas era passado. Fora outra Lena; aquela que não fazia as coisas. Aquela que deixava acontecer, só observando, sem agir.
Não mais.
— Está aí — disse Lena, alguns passos atrás de Rocan. Guiou-o por trás, sempre muito ciente dos movimentos do homem. A semelhança com Von era suficiente para deixá-la pensando se não era só o amigo pregando alguma peça complexa, mas os maneirismos eram muito diferentes, além da voz.
— Dentro do círculo? — ele disse, sem se virar para ela.
— Você não consegue senti-lo?
Lena sentiu o estômago embrulhar. Os próximos segundos definiriam muito de sua vida.
O que tinha tirado da mente de Rocan quando, por engano, entrou, tinha que ser verdade. Esse era o único dogma em seu plano para resolver a situação, para parar de ser tão terrivelmente passiva com tudo. Se o que tivesse visto sobre Rocan, o blefe, a mentira, se isso não fosse verdade, estaria morta em segundos. Mas por que ele teria tido o trabalho de inventar tudo aquilo para ela? O que ele ganharia com isso? Se ele continuasse sendo o todo poderoso Rocan, não teria motivos para enganar Lena; seria capaz de pisar nela sem suar.
Enquanto preparava tudo, correu pela mente todos os diálogos que poderiam acontecer, tudo que ele poderia perguntar, e como ela responderia... Pensava muito em Alesia, como ela fazia as coisas, como contornava a conversa e fazia o que queria.
Lena viu exatamente quando Rocan encontrou o Livro. Os lábios dele se separaram inconscientemente, numa expressão que tentava ser um sorriso mas era só um olhar idiota, quase sem emoção, sem pensamento. O que tirara da mente dele era real; só isso explicaria aquela emoção. Aquela ânsia.
Quase sentia pena dele. Rocan, que já fora um dos mais poderosos homens a caminhar pela Terra... Agora reduzido a um nada, ao seu eterno blefe. Que só Lena tinha desvendado. Viu a esperança dele em recuperar seu orgulho a cada passo, enquanto o homem corria para dentro do círculo de pedras, braços à frente.
Alesia ficaria orgulhosa, ela pensou, um último comentário antes de ter que desligar os pensamentos emotivos para focar-se no trabalho que havia à frente.
-----------
E assim foi o capítulo 9: Confiança! Espero que tenha curtido! Sexta-feira mais um interlúdio, "Rocan", para depois irmos ao capítulo 10: Inevitável. Títulos instigantes? Mais mistérios sendo revelados? Em breve tudo aqui!
E, como sempre, obrigado pela leitura! Se gostou, deixe um comentário! E se quiser conhecer mais das minhas escritas, dá uma olhada no meu site, o http://oucoisaparecida.com.br/
VOCÊ ESTÁ LENDO
Princípios do Nada
Tajemnica / ThrillerE se a vida pudesse ser tão interessante quanto você achava que seria quando criança? E se todas as histórias que você imaginava, as aventuras, os poderes, a grandeza que você esperava para si... E se tudo isso fosse de novo verdade, tão real que ch...