Capítulo 6: O Aviso de Rocan (II)

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Alesia sentiu a cabeça vibrar quando seu grito foi abafado. Explodiu em pensamentos e reações, mas a suavidade da mão que agarrou seu ombro a fez hesitar. Isso e as palavras:

— Calma, Alie. Sou eu.

Alesia se deixou ser puxada para o lado, num beco, e deu de cara com Lena.

— Você quase me matou de susto! — ela disse, arfando, os olhos bem arregalados. Olhou pela esquina e viu Von e Trevor na rua, à distância. Era uma avenida larga e reta; os dois ficariam à vista por muito tempo. Alesia se voltou para o beco e viu a face ansiosa de Lena.

— Desculpa, não achei que ia te assustar tanto... Ainda bem que o Art me ensinou a abafar gritos.

— Quase não deu certo — disse Alesia, tirando a mão da amiga do ombro com um tapinha. — Na próxima você fala alguma coisa antes de sair encostando em mim.

Alesia olhou de novo pela esquina e recomeçou a caminhada, seguindo os passos de Trevor e Von.

— O que você tá fazendo? — disse Lena, apertando o pequeno passo para a acompanhar a amiga, que era quase quinze centímetros mais alta.

— Seguindo eles — disse Alesia.

— Por que você tá fazendo isso?

— Porque eles foram caminhando. Art foi de ônibus, eu não teria como seguir ele sem entrar no mesmo carro. Isso aqui é o melhor que eu consigo fazer por agora. — Alesia falava baixo, concentrada em não perder os dois de vista.

— Por que você tá fazendo isso?

— Eu quero entender onde o Trevor se encaixa em tudo isso — ela disse, olhos cheios de paixão fria.

— Por que você tá fazendo isso? — repetiu Lena, sem mudar o tom.

— Porque... — Alesia diminuiu o passo, olhando para a amiga. Era assim que Lena fazia Alie parar e realmente pensar no que estava dizendo. Irritava-a quando a amiga fazia isso com ela, fazia ela se sentir infantil, mas tinha que admitir que funcionava.

Ou funcionou, nas outras vezes. Agora só fez Alesia ficar confusa.

— Como assim?

— Eu que te pergunto — questionou Lena. — O que você espera alcançar?

A voz imaginária de Von entrou na cabeça dela por um instante, respondendo com um risonho "os dois, ali na frente, não tá vendo?", mas o tom de Lena era sério demais para esse tipo de piada.

— O Von falou com você, é isso? Pediu pra você também cair fora?

— Não, Alesia — Lena soltou um suspiro cansado. — Ele não precisou.

— Qual é Lena, você não quer ajudar eles a resolverem isso? Somos amigos, não? Éramos os quatro — disse Alesia, ouvindo a inocência na própria voz, como Lena também pareceu ouvir. A amiga suspirou, fechando os pequenos olhos claros por um momento.

— Você realmente acha que nós podemos fazer alguma coisa? Você viu os caras no shopping. Eu e você não temos mais lugar nessa coisa toda.

— Você tá desistindo?

— Desistindo de quê? Morrer por nada?

Alesia estremeceu da mesma forma que fazia quando tinha oito anos e começava a entender o conceito de morte.

— Quem falou em morrer?

O riso sarcástico de Lena era tão raro que feria como uma chuva de agulhas.

— Quem não falou? A coisa é séria, Alesia. Você sabe tão bem quanto eu.

— Mas é isso que é ter amigos, não? Se eu não me arriscasse por eles, a nossa amizade não valeria nada. E eu não sou tão inútil assim, tenho certeza.

— Tem certeza? Baseado em quê? Você tem a menor... — Lena procurou palavras, remexendo o ar à sua frente com as mãos. — Ideia do nível que o Art e o Von alcançaram?

Eu tenho uma ideia muito melhor que a sua, Helena.

Mas se mesmo Lena, que não sabia dos Picos, entendia a distância entre as habilidades deles... Será que não estava certa, e era só a teimosia de Alesia impedindo-a de ver a verdade?

— Vamos dar o fora, Alesia. Eu vi que você tentou convencer o Von a fazer o mesmo e tal, e se você não consegue, ninguém consegue.

Viraram numa esquina mais movimentada, com um grupo de jovens reunindo-se à porta de um bar qualquer. Von tinha, há pouco, passado por eles, tão sutil em sua sugestão que a multidão abriu passagem sem nem perceber. Ele fazia aquilo sem esforço, da mesma forma que caminhava, ou respirava. Alesia teria que se concentrar bastante para repetir aquele feito, e mesmo assim... Não. A Lena não tá certa. Eu ainda posso ser útil.

— Então você ouviu a nossa conversa — Alesia cerrou os dentes para a amiga. — Como você não vai fazer nada quando ele fala que pode morrer?

— Por que você faz isso? — disse Lena, cansada. — Por que você continua dando essa esperança?

— Esperança?

— Você sabe do que eu tô falando. Se importando tanto assim, até a ponto de se arriscar...

— Do que você tá falando, Lena? — disse Alesia, e instantaneamente se arrependeu. Não tivesse mentido quem sabe teria evitado a fúria de Helena, visível em seus olhos. Estranhamente, a garota engoliu pesado e tirou todo o ar dos pulmões, e quando falou tinha a voz contida de sempre.

— Estou farta disso, Alesia. Esquece, é melhor pra todo mundo. A gente só vai atrapalhar. Tenho certeza que o Art e o Von vão resolver tudo. — Ela abriu um pequeno sorriso. — A Cella nos convidou pra dormir na casa dela, a Clara vai também. Vai ser divertido, como foi na casa do lago outro dia... E não vamos ter que cuidar de ninguém desacordado.

— Isso é bem típico de você, Lena — disse Alesia, enojada. — Não fazer porra nenhuma. Eu me recuso. Até mais.

Alesia acelerou o passo, deixando Lena para trás. Mas a amiga não tinha terminado de falar.

— Então você não me dá escolha.

Uma mão atravessou o cabelo de Alesia, depois a nuca, o crânio, o cérebro, e alcançou sua mente. Era quente, cuidadosa. Depois de tanto tempo sem praticar, Alie não teve o reflexo de resistir. Lena agarrou a amiga e encostou-a na parede, os braços impedindo Alesia de cair enquanto a mente fazia o trabalho pesado.

— Lena... O que... — tentou Alie, mas a boca parou de funcionar.

Você pode me odiar por isso — disse Lena —, mas eu me odiaria mais se não fizesse.


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