Capítulo 12: Profecia (IX)

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— Isso não deveria ter acontecido.

A voz de Seh ecoou pelo espaço branco. Ou, melhor, pelo que restara dele: a realidade estéril e calma era agora um conjunto de cacos, chamas, sangue e outras coisas que eles nem conheciam palavras nesta língua para descrever.

A adrenalina de Seh tinha baixado rápido, mas Henderson ainda estava tomado pela batalha. Ainda sorria.

— O quê? Foi incrível! — ele disse, arfando. É claro que estava certo, mas...

— Não deveríamos ter sido descobertos. Dois, depois três? O que será do mundo agora?

— O que você queria que a gente fizesse, Seh? Fugido? Qual é. — Henderson se sentou no nada mais uma vez, limpando os ferimentos e a sujeira do corpo. — Se eu sou pouco sábio por ter entrado no embate, você é ainda menos por achar que nós dois, adolescentes, teríamos fugido de uma batalha tão espetacular. — Ele esfregou o cabelo, puxando-o para trás. Vermelho ainda mais vivo que antes. Seh não queria admitir, mas também estava assim. Os caras eram bons. Dois estava fácil, mas quando o terceiro apareceu tiveram um desafio. Lerseh apelou para conhecimentos e técnicas tão grandiosas que se esqueceu de tudo, preso na batalha. Parou de pensar na cidade, nos amigos, e, pela primeira vez em muito tempo, até em Callíope.

— Espera — disse Seh. — Aquele era o Art? O cara que apareceu uma hora.

— Era. Eu mandei ele de volta pra cidade. Acho que ele veio pra cá seguindo o Lewv.

Seh fez uma careta. Saber o nome do terceiro Grão-Mestre só deixava a situação mais difícil de ignorar.

— Que merda, Henderson. Isso não deveria ter acontecido. Se a gente tivesse ficado na nossa...

— Isso teria acontecido de uma forma ou outra. Esses Grão-Mestres não vieram só por causa do Livro.

— É verdade, você tava falando algo sobre o Livro antes deles chegarem.

— Então... Acho que a gente sofreu uma patética falta de comunicação. Só agora entendi... Você achou que eu queria tirar o livro que o Art fez da Livraria Lima, era isso?

— Era. Eu queria que o Art fizesse o plano dele, independente da gente. A gente não deveria proteger ele.

— Então. Você na verdade me impediu de colocar o livro dele de volta. Eu tirei o livro que ele fez e troquei por outro.

— Você O QUÊ?

— É, é completamente babaca, mas na hora... — Henderson enfiou a grande mão no cabelo, fazendo os dedos desaparecerem entre as mechas vermelhas. — Merda, Seh, você me disse pra deixar lá! Eu pensei que você tinha visto!

— Qual livro você deixou lá? — Seh enunciou cada palavra, falando lentamente.

Henderson riu, sem graça, mostrando os dentes e espremendo os olhos numa linha, a expressão de uma criança prestes a confessar algum crime menor.

— O Princípios do Nada.

Seh tossiu, virou-se, e caiu no chão.

— O QUE VOCÊ TINHA NA CABEÇA?

— NADA! EU SEI, FOI MUITO IDIOTA!

Henderson coçou o rosto, pensativo, enquanto Seh arregalava os olhos e olhava tudo que conseguia.

— Merda. Vamos.

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