Von nunca gostou muito da expressão "como se visse um fantasma". Achava idiota, sem sentido. Mas quando olhou para o lado, segurando uma Alesia confusa, teve que dar o braço a torcer.
Jo olhava para Alesia como se visse um fantasma.
Correu mais uma vez pelas memórias quebradas de Siman, percorrendo as imagens da irmã de Jo, e a semelhança era desconcertante. Quase tão impossível de ignorar quanto a semelhança entre ele e Rocan. Passou a mão no rosto, enxugando o sangue e as lágrimas, concentrando tudo numa esfera e deixando-a cair no chão.
— Você... — sussurrou Jo, olhando para Alesia. Ainda tinha as bochechas molhadas, mas agora não parecia triste. Só surpresa, idiotificada.
— Hã — disse Von, segurando Alesia como se ela fosse cair. Parecia que ia; desde que surgiu no meio do estacionamento não reagira de forma alguma, como se estivesse bêbada ou coisa assim. — Essa é minha amiga Alesia. — Ele fechou os lábios, sério. — Eu sei, ela é parecida. Mas não é.
— Ah. Sim. — Jo piscou algumas vezes, tentando voltar à realidade.
— ...Von? — disse Alesia, sua voz carregada de sono, os olhos espremidos como se a luz tênue dos postes doesse. Parecia recém-desperta, não fosse o cabelo arrumado. Von olhou para Jo, limpando a garganta.
— Escuta, você poderia nos dar um minuto?
— Hã? — Jo ficou paralisada, sem entender como reagir ao conjunto de coisas bizarras que aconteceram nos últimos minutos, e deu de ombros. — Eu...
— Jo! — chamou Cennen, na entrada do supermercado, e ela foi até ele.
Alesia se sentou no chão, e Von a acompanhou.
— Alie, o que caralhos você tá fazendo aqui? Como você veio parar aqui?
Alesia riu, olhos semicerrados.
— Você me chamou de Alie. Você não me chama assim desde que inventou esse apelido idiota.
Von enrubesceu, sacudiu a cabeça e colocou uma mão na testa da garota.
— Eu te chamei assim no começo da semana. Você tá chapada ou coisa assim?
Os olhos dela foram se abrindo gradualmente até voltarem ao normal, e depois se arregalaram. Ela deu alguns soquinhos na testa, como se quisesse que o cérebro voltasse a funcionar, e narrou as últimas horas a Von. Lena tomando controle dela, a onda, ela e Cella procurando Lena, Art na universidade... Depois a conversa que teve com Art, e, finalmente, o encontro com Seh. Von notou que ela parecia pouco à vontade, como se omitisse alguma coisa dele, algo que parecia prestes a finalmente dizer, quando outra voz interrompeu a conversa.
— Von. — A voz grave de Cennen surgiu, acima de todos os sons. Estava à frente de todos, no meio do estacionamento; Gaen num lado, Jo do outro, Klen atrás e, longe, Trevor, dizendo com o os olhos "mas que caralho está acontecendo"? Von pôs-se de pé, estufando o peito.
— Cennen. O que acontece agora?
Cennen sorriu.
— Agora as coisas ficam interessantes. Acho que os grandes da Presença deixaram Kik vir aqui com dois propósitos: eliminar você, pensando que era Art, por causa do desrespeito dele; ou, caso Kik fosse eliminado, avaliar seu poder. — Seu sorriso se alargou. — E tudo que conseguiram foi avaliar um pedaço da capacidade de Jo.
— Mandar outro Kik é arriscado demais — disse Gaen, ajeitando os óculos finos. — Eles não podem arcar com perder outro como ele, e não têm como saber quão poderosos somos. Então só resta uma alternativa.
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Princípios do Nada
Mistério / SuspenseE se a vida pudesse ser tão interessante quanto você achava que seria quando criança? E se todas as histórias que você imaginava, as aventuras, os poderes, a grandeza que você esperava para si... E se tudo isso fosse de novo verdade, tão real que ch...