Capítulo sessenta.

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Chapter Sixty
É
{Seattle, Washington}
<Barbara Sevilla narrando>

Eu estava assistindo a um filme até tarde, como de costume, na sala, quando uma música alta começou a me incomodar. A música estava ecoando pelo andar inteiro, e eu comecei a me irritar, porque não escutava mais o som da televisão. Logo o Victor apareceu na sala com cara de sono, e imediatamente desliguei a televisão.

— Eu achei que a parte pior ia ser o caso. — Victor disse com a voz rouca de sono, e eu levantei do sofá.

— Achei que era tipo proibido esse tipo de coisa em apartamento.

— Mas é. — Victor riu. — 02h20 da manhã. Ainda tá acordada?

— Estava maratonando filme. — Respondi, e ele sentou no sofá.

— Qual filme você tá vendo?

— Uma trilogia de ação. Nada que você goste. — Dei uma resposta genérica. Eu nunca ia admitir pro Victor que tipo de filme eu realmente estava vendo. Ele ia zombar de mim pela eternidade.

— Eu gosto de filmes de ação. — Rebateu.

— Não esses. — Retruquei, cruzando os braços.

Victor ergueu uma sobrancelha, curioso. — Quais?

— É uma trilogia clássica. Acho que você prefere filmes mais atuais, cheios de explosões e efeitos especiais.

— Eu gosto de uma boa história, Babi. Não subestime meu gosto cinematográfico. — Ele disse, ajeitando o moletom.

— Tá, se você diz... Mas agora você não vai assistir filme nenhum. Vamos reclamar do barulho.

— Ah não, Babi, eu tô com sono.

— Por isso mesmo. Vai dormir no barulho dos outros é? — Debochei, e ele levantou do sofá relutante.

— Você é impossível às vezes. — Ele comentou, esfregando os olhos.

— E você é teimoso. Sabe de onde tá vindo o som?

— Não faço ideia. Parece que vem de todo lugar. — Victor disse, me acompanhando enquanto caminhávamos pelo corredor.

— A gente descobre. — Murmurei andando em passos duros.

— Isso me lembra uma vez quando eu tinha um vizinho que tocava bateria às três da manhã. — Victor contou, tentando aliviar a tensão.

— E o que você fez? — Perguntei, em tom não muito interessado.

— Bati na porta dele até ele abrir e disse que, se ele não parasse, eu ia tocar uma música ainda mais alta na noite seguinte. Funcionou.

— Te conheço, você não faria isso. Você gosta é de contar historia. — Murmurei meio de mal humor.

— E você adora ouvir, mesmo que não admita. — Ele retrucou, com um sorriso de lado.

Chegamos à fachada de um apartamento de onde claramente o som estava mais alto. Eu já estava pronta para começar a reclamar quando vi que a porta já estava aberta e reconheci os cabelos ondulados de costas: Eliza. Acompanhei os olhos e vi que ela discutia com o dono do apartamento, Diogo. Eu não estava surpresa.

— Além do som da música, agora tem som de discussão também. — Victor disse, inclinando-se para o meu rosto. O calor da sua respiração contra a minha pele era inesperado e fez um arrepio subir pela minha espinha. Ele estava tão perto que eu podia sentir o cheiro suave de sua colônia misturado ao frescor da madrugada.

Eu virei ligeiramente a cabeça para responder, e nossos olhos se encontraram por um instante que pareceu durar uma eternidade. Seus olhos estavam intensos, e por milésimos de segundos, pude jurar que vi um brilho diferente neles. Victor ficou momentaneamente paralisado, e nossos rostos ficaram próximos o suficiente para que eu sentisse o calor de sua pele.

O mundo ao nosso redor pareceu desaparecer, o barulho da música e a discussão ao fundo se tornando um ruído distante. Recuei quase que imediatamente, estranhando aquele acontecimento, meu coração batendo mais rápido do que eu gostaria de admitir.

Desde que eu e o Victor nos conhecíamos, aconteciam coisas estranhas entre mim e ele. Mas desde que começamos no caso e, consequentemente, começamos a conviver quase que vinte e quatro horas por dia, a frequência de acontecimentos estranhos tinha aumentado, e pareciam de uma intensidade maior. E isso estava me afetando mais do que eu gostaria.

Bufei irritada e voltei a falar:

— Vem, vamos voltar. — Falei, e Victor segurou meu pulso, fazendo eu parar os passos.

— A gente já tá acordado mesmo, fica aí.

Victor sabia que eu não tinha muita facilidade para socializar; parecia que ele fazia de propósito. Não pude fugir porque eles avistaram a gente.

— E aí. — Diogo disse, cumprimentando eu e Victor.

— Tá vendo? Você acordou eles também! — Eliza disse, provavelmente prosseguindo a discussão que acontecia antes de eu e o Victor entrarmos.

— Vocês querem entrar? — Diogo apontou a cabeça para dentro, e Eliza abriu os braços, indignada.

— Pode ser. — Victor disse, me empurrando levemente.

Eu já estava começando a ficar agoniada, e não tinha nem dez segundos que eu estava lá. Eliza cedeu, adentrando o apartamento também. Observei o ambiente e vi que o vídeo-game estava ligado e pausado em NBA Live.

Diogo e Eliza finalmente terminaram a discussão. Pelo menos por enquanto. Victor aproveitou a deixa e perguntou:

— Estava jogando NBA? — Victor questionou enquanto Diogo abria a geladeira.

— Sim, vocês podem jogar se quiserem. — Ele disse de modo simpático, e eu finalmente vi vantagem naquela social completamente aleatória em uma madrugada de fim de semana. Enquanto eu estava infiltrada, com o homem com quem eu discuto frequentemente, eu podia me divertir um pouco.

O apartamento de Diogo era simples, com paredes brancas e decoração minimalista. Havia um sofá cinza claro no centro da sala, uma estante de livros ao lado da televisão e uma pequena mesa de centro com alguns controles de vídeo-game espalhados. A cozinha americana se abria para a sala, com uma bancada de mármore preta e eletrodomésticos de aço inoxidável, tudo muito organizado, contrastando com a bagunça causada pela discussão e o som alto.

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