Capítulo oitenta e oito.

916 59 3
                                    

Chapter Eighty-Eight
Acho que é minha vocação
<Marcos Diaz Narrando>

Nosso olhar vasculhou o restaurante até encontrar o que procurávamos: um piano imponente em um canto bem iluminado. Após uma breve conversa, nos permitiram chegar mais perto. Miih se aproximou do instrumento com uma hesitação que não lhe era comum, enquanto eu me mantinha a alguns passos de distância, observando-a com atenção.

Ela vestia um moletom verde fluorescente que deixava à mostra uma pequena faixa de pele na cintura, contrastando com a calça legging preta que se ajustava perfeitamente ao seu corpo. Seus cabelos longos e levemente ondulados caíam sobre os ombros, realçando sua beleza natural. Havia algo nela que sempre me atraía, mas naquele momento, a maneira como ela se movia, meio tímida, meio decidida, me deixou completamente hipnotizado.

Miih lançou um olhar ao redor, visivelmente desconfortável com a ideia de tocar na frente de outras pessoas. Sorri ao perceber sua hesitação, um sorriso que misturava compreensão e carinho.

- Tá, Mob, não é pra rir. Faz tempo que eu não pratico. - Ela me lançou um olhar sério, como se estivesse se preparando para um desafio.

- Eu prometo. - Levantei a mão em juramento, tentando não deixar transparecer o quanto eu estava ansioso para ouvi-la.

Ela suspirou profundamente, como se tomasse coragem, e então posicionou as mãos no piano. Quando as primeiras notas de "Lovely" da Billie Eilish ecoaram pelo ambiente, o ar pareceu mudar. Havia algo de mágico na maneira como seus dedos deslizavam pelas teclas, cada nota fluindo com uma suavidade que me pegou de surpresa.

Então, ela começou a cantar. Sua voz, baixa no início, era como uma melodia doce e envolvente. Havia uma delicadeza em seu tom, uma suavidade que contrastava com a força e a clareza que logo se revelaram. Era uma voz que parecia capaz de acalmar até mesmo as almas mais inquietas. Eu nunca tinha visto Milena cantando antes, e aquele momento me atingiu em cheio.

Cada palavra que ela entoava carregava uma emoção sincera, como se ela estivesse despejando seu coração na música. A beleza natural de Milena, já impressionante, parecia amplificada pelo poder de sua voz. Eu me sentia completamente preso, incapaz de desviar o olhar ou de interromper a sensação de leveza que me envolvia. Todos os pensamentos preocupantes que normalmente me acompanhavam se dissiparam, substituídos pelo som suave que preenchia o ambiente.

Quando ela tocou a última nota, o restaurante explodiu em aplausos. Um sorriso tímido surgiu em seu rosto, e ela rapidamente colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, desviando o olhar para o chão enquanto suas bochechas coravam. Eu me aproximei lentamente, ainda um pouco atordoado pelo que acabara de testemunhar.

- Você canta muito bem. - Minha voz saiu séria, refletindo o impacto que a performance dela teve em mim.

- Obrigada. - Ela respondeu, mexendo nos longos fios de cabelo com uma timidez que eu via com frequência.

- Por que você desistiu da música para arriscar sua vida pelo FBI? - Perguntei, tentando aliviar a tensão com um tom mais leve e brincalhão.

- Acho que é minha vocação. - Ela deu de ombros, como se fosse a coisa mais natural do mundo, mas eu podia ver a paixão escondida por trás de suas palavras.

- Com certeza é. - Assenti, sorrindo com uma admiração genuína.

- As bebidas chegaram. - Miih apontou para nossa mesa, o que me fez lembrar que ainda tínhamos uma noite pela frente.

Voltamos para a mesa, e o resto da noite passou em um clima leve e agradável. No entanto, uma coisa era certa: eu nunca mais olharia para Milena da mesma maneira. Ela não era apenas minha parceira de esquadrão; havia uma profundidade nela que eu mal começava a entender.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora