Capítulo cento e treze.

1K 68 10
                                    

Chapter One Hundred and Thirteen
★ Você vermelha ★
{Seattle, Washington}
<Bárbara Sevilla Narrando>

No dia seguinte, a chuva que caía nas janelas criava um ambiente acolhedor, pelo menos para mim. Eu me estiquei na cadeira em frente ao balcão, arrumando as mangas do vestido estilo suéter que usava, e então ouvi os passos de alguém descendo as escadas.

- Bom dia - ouvi a voz do Victor, e automaticamente desviei o olhar para minhas mãos, sentindo uma estranha sensação de desconforto.

- Tem chocolate quente? - ele perguntou, enquanto se dirigia para a cozinha em busca de algo para comer.

- Não, tem que comprar - respondi, tentando parecer indiferente.

- Ah, pensei que você fosse lá hoje - ele comentou, enquanto abria a geladeira.

- Desculpa, eu esqueci - murmurei, apoiando a cabeça nas mãos, tentando esconder o turbilhão de pensamentos que me consumia.

- Tá doente? - Victor cruzou os braços e me observou com um olhar preocupado.

- Por que? - perguntei, olhando para a parede, evitando seu olhar.

- Você nunca pede desculpa por nada - ele observou, com um tom de surpresa na voz.

Eu dei de ombros, permanecendo em silêncio enquanto observava as gotas de chuva deslizando pelas janelas. A verdade é que eu me sentia estranhamente vulnerável. Nunca agi assim com ninguém. Geralmente, estaria discutindo com ele por alguma coisa ou o provocando de alguma forma. A noite passada ainda ecoava em minha mente, e a presença dele fazia meu corpo reagir de maneira desconfortável. "Você precisa esquecer isso", eu me disse mentalmente, xingando-me pela fraqueza que sentia.

- Tá quieta demais hoje, tá bem? - Victor comentou, interrompendo meus pensamentos enquanto tomava um gole de suco.

- Tô. Só tô sem assunto - eu respondi, dando de ombros novamente.

- Se você diz. Viu a chave do carro? - ele perguntou, mudando de assunto. Mas meus pensamentos estavam tão distantes que eu mal consegui processar o que ele havia dito.

- Hm? - minha resposta foi distraída.

- A chave do carro, Babi. Tem certeza que tá bem? - ele insistiu, franzindo as sobrancelhas com um olhar de preocupação.

Eu não estava bem, e não conseguia disfarçar. A minha tentativa de esconder minha vulnerabilidade parecia falhar a cada instante.

- Tô, tô bem - respondi rapidamente, indo até a cozinha para pegar um pouco de água, na esperança de evitar um confronto mais próximo.

- Tá nervosa por quê? - Victor disse, seguindo meus passos enquanto eu me dirigia para a cozinha americana. Senti minhas bochechas esquentarem quando ele se aproximou.

- Quer água? - ignorei a última pergunta, tentando mudar de assunto.

- Não. Você tá vermelha - ele observou, rindo confuso e com um toque de sarcasmo. Seus olhos estavam fixos em mim, e eu retorci os lábios, tentando manter a compostura.

- O que mesmo que você tinha perguntado? - falei, desesperada para mudar de assunto.

- Se você viu a chave do carro.

- Acho que tá em cima da mesa de centro. Vai sair? - perguntei, sentando-me no banquinho de frente para o balcão.

- Vou. Quer ir comigo?

- Não - respondi de forma rápida demais, deixando claro o quanto eu estava nervosa. Victor não insistiu mais, apenas assentiu e saiu.

Quanto mais eu me afastasse dele, melhor para mim, realmente tentando esquecer o que tinha acontecido. Mas, no fundo, eu sabia que nunca conseguiria esquecer. Aquele momento foi apenas o começo do que nossa relação se tornaria daqui para frente. A sensação de vulnerabilidade que eu tanto temia agora parecia estar enraizada em mim, e a confusão no olhar de Victor diante dessa nova faceta minha mostrava que nossa dinâmica estava prestes a mudar de maneiras que eu ainda não conseguia prever.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora