Capítulo cento e um.

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Chapter One Hundred and One 
Você bêbada? ★
Seattle, Washington 
<Victor Jones narrando>**

A festa estava chegando ao fim, mas ainda mantinha aquela energia agitada, típica das noites que pareciam não querer acabar. Eu já tinha perdido a Babi de vista há algum tempo, o que não era exatamente uma surpresa. Ela sempre foi do tipo que sumia quando menos se esperava. Mas, de repente, ela apareceu, cambaleando em minha direção.

— O que você tá fazendo? — ela perguntou, a voz enrolada e levemente arrastada, algo que eu já conhecia muito bem.

— Tava falando com o Diogo. Você tá bêbada? — desliguei o celular e guardei, tentando avaliar o estado dela.

— Mais ou menos — ela respondeu, seguida por uma risada sem sentido. — Eu quero vodca.

— Claro que quer — murmurei, percebendo que ela abaixou a cabeça, um gesto que não combinava com a usual confiança dela. — Você não vai beber mais nada hoje, chega por hoje.

— Por quê? — Babi perguntou com uma voz que beirava a tristeza, algo que fez meu estômago revirar. Era raro vê-la assim, e não sabia como lidar.

— Por que será, né, Sevilla?! — revirei os olhos, tentando esconder o incômodo que começava a surgir.

— Tá, eu tô bêbada.

— Jura? Eu nem tinha notado — ironizei, mas havia uma tensão na minha voz.

— Sério? — ela olhou para mim com curiosidade, e eu respirei fundo, percebendo que ela estava muito mais vulnerável do que eu estava acostumado.

— Vem, vamos para casa — levantei, tentando assumir o controle da situação, mas ela choramingou, como uma criança que não queria obedecer. — Vamos, Bárbara.

Ela se levantou de má vontade, e eu a segurei levemente pelo braço. O mal humor dela era evidente, mas o que mais me incomodava era a estranha mistura de sensibilidade e vulnerabilidade que ela estava exibindo. Eu já havia presenciado cenas como essa em outras festas do esquadrão, mas sempre evitava me envolver. Babi não gostava de beber justamente porque sabia que o álcool a tornava sensível, dramática, algo que ela sempre lutava para esconder. E, naquele momento, eu estava vendo mais do que jamais vi. Nossa relação sempre foi cheia de provocações e barreiras; jamais pensei que a veria assim, tão desprotegida.

Nos despedimos das poucas pessoas que restavam na festa e começamos a caminhar em direção ao nosso andar. A festa era no salão de festas do prédio mesmo, então não era um caminho longo. Encostei na parede, esperando o elevador, quando ouvi a voz dela, impaciente.

— O que a gente tá esperando? — ela perguntou irritada, o que me fez sorrir de leve. Até mesmo sob o efeito do álcool, ela ainda era a mesma Bárbara, teimosa e impaciente.

— O elevador — respondi, mantendo a calma.

Ela murmurou algo que não consegui entender, mas, antes que eu percebesse, ela encostou a cabeça no meu peito e passou os braços ao redor do meu quadril em um abraço. Meus braços ficaram imóveis por um momento, surpresos com o gesto. Nunca nos abraçamos antes. A sensação era desconcertante, quase íntima demais. Eu sabia que Bárbara bêbada podia ser sentimental, mas isso estava além do que eu esperava.

— Tá fazendo o que? — perguntei, passando a mão pelo rosto e soltando um suspiro pesado. Estava começando a me sentir desconfortável, algo que raramente acontecia comigo.

— Tá frio — ela respondeu com uma voz manhosa, algo que eu nunca tinha ouvido dela. — Seu abraço é bom.

— Ah, é? — ri, ainda incerto, mas envolvi sua cintura devagar com meus braços, hesitante. Aquilo estava me deixando nervoso de um jeito que eu não queria admitir, mas havia algo quase divertido em vê-la assim, tão diferente do normal.

— Quando eu quero companhia, eu abraço seu moletom e fico imaginando que é você — ela murmurou, as palavras emboladas pelo álcool. Ri nervoso, sentindo meu coração acelerar. Aquilo estava mexendo comigo de uma forma inesperada. — Brincadeira.

Eu não sabia se era o efeito do álcool ou se havia algo de verdade nas palavras dela, mas aquilo ficou gravado na minha mente. Não era algo que eu esqueceria facilmente. Talvez eu até usasse isso contra ela quando estivesse sóbria, só para ver a reação dela.

Ela separou o abraço e inclinou a cabeça de lado, me observando com uma intensidade que me fez sentir exposto, quase como se ela pudesse ver através de mim.

— O que foi, anã gótica?

— Quero te beijar — ela murmurou com um sorriso divertido, o olhar fixo em minha boca.

Arqueei as sobrancelhas, surpreso. Talvez fosse por isso que minha mãe sempre dizia para mim e minha irmã que não devíamos beber. As palavras dela, mesmo bêbada, tinham um peso que eu não estava preparado para lidar.

Antes que eu pudesse reagir, Babi puxou a gola da minha camiseta, me trazendo para um beijo que, por mais que eu tentasse negar, estava esperando ansiosamente.

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