Capítulo cento e quarenta e um.

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Chapter one hundred and forty-one
Talvez essa seja a noite em que seus desejos comecem a se realizar ★
{Tacoma, Washington} 
<Arthur Miller narrando>

O sábado finalmente havia chegado, e a ansiedade corria solta em mim. Eu nunca fui o tipo de cara que tinha muitos encontros, especialmente com alguém como a Thaiga, que consegue ser ao mesmo tempo desmentida e incrivelmente fofa. Peguei-a em casa, e começamos a caminhar pelas ruas de Tacoma.

As ruas estavam calmas, banhadas pela luz suave dos postes e pelo brilho sutil das estrelas no céu claro. O som de nossos passos era abafado pelo asfalto, e a brisa noturna trazia consigo o cheiro fresco da grama molhada. As folhas das árvores ao longo das calçadas balançavam suavemente, sussurrando segredos na escuridão. Cada detalhe do ambiente parecia amplificado pela minha ansiedade, como se o mundo estivesse conspirando para tornar aquele momento ainda mais significativo.

Enquanto caminhávamos, notei a maneira como o vestido preto de Thaiga se movia com ela, o tecido suave roçando contra suas pernas enquanto ela andava com uma leveza natural. Eu estava lutando para manter a calma, tentando desesperadamente ignorar a sensação de que o coração estava prestes a sair pela boca. Thaiga, por outro lado, parecia completamente à vontade, e isso só aumentava a pressão que eu sentia. Cada palavra que eu dizia parecia ecoar na minha mente, me fazendo questionar se estava falando demais ou se estava ficando em silêncio por muito tempo.

Pararmos em um parque aberto foi um alívio. A grama ainda estava fresca com o orvalho da noite, e o ar carregava o cheiro de terra úmida misturado ao perfume suave de Thaiga. Ela sugeriu que nos sentássemos, e eu prontamente concordei, tentando esconder o nervosismo que crescia dentro de mim. Sentamos lado a lado, o silêncio confortável se instalando entre nós enquanto observávamos o céu estrelado. Eu dobrei os joelhos contra o peito, em um gesto automático de proteção, enquanto apoiava o braço esquerdo sobre eles. Thaiga, por sua vez, apoiou os braços na grama, levantou a cabeça e ficou observando as estrelas, seus olhos brilhando com uma serenidade que eu invejava.

Enquanto olhava para ela, sentia como se o tempo estivesse desacelerando. O contraste entre sua tranquilidade e minha ansiedade era quase sufocante. Eu nunca soube lidar bem com esses momentos, e a minha timidez parecia estar no auge. Cada movimento dela parecia ensaiado, perfeito, como se ela soubesse exatamente o que estava fazendo para me deixar ainda mais nervoso. Mesmo assim, havia algo em seu comportamento que me dava uma pequena centelha de esperança – uma sensação de que talvez, só talvez, ela estivesse tão consciente de mim quanto eu estava dela.

Não sabia exatamente o que esperar daquele "encontro". A verdade é que eu nem tinha certeza se era realmente um encontro, mas o jeito como ela havia me convidado despertou uma fagulha de esperança em mim. Para alguém como eu, que não estava acostumado a esse tipo de situação, cada momento parecia carregado de significado. Era difícil não me deixar levar pela emoção, por mais que eu tentasse me convencer de que precisava manter os pés no chão. As palavras de Thaiga, por mais simples que fossem, ecoavam na minha mente como promessas veladas, e eu me pegava sonhando acordado com a possibilidade de que isso significasse algo mais.

Olhei para Thaiga, seu rosto iluminado pelas estrelas, e não pude deixar de sentir meu coração acelerar. Seu perfil estava suavemente delineado contra a escuridão do parque, os lábios dela curvados em um sorriso sereno enquanto ela contemplava o céu. Havia uma paz em seu olhar, algo que parecia inatingível para alguém como eu, sempre tão preso nas próprias inseguranças.

— Você acredita que cada estrela é um desejo esperando para ser realizado? — Thaiga perguntou de repente, quebrando o silêncio de uma maneira que me fez olhar para ela com surpresa.

Eu demorei um pouco para responder, ainda processando as palavras dela. — Acho que nunca pensei nisso —  admiti, minha voz saindo mais baixa do que eu pretendia. — Mas parece uma ideia bonita.

Ela virou o rosto para me olhar, e seus olhos brilhavam com uma intensidade que fez meu estômago dar um nó. — Então você deveria começar a pensar. Talvez hoje seja a noite em que seus desejos comecem a se realizar.

Aquelas palavras mexeram comigo de uma maneira que eu não esperava. Ela estava brincando, claro, mas havia algo no tom dela, algo na maneira como ela falou, que fez minha imaginação correr solta. E naquele momento, sob o céu estrelado de Tacoma, eu desejei que ela estivesse certa. Desejei que aquele encontro – se é que era um encontro – fosse o começo de algo que eu nunca havia tido a coragem de sonhar antes.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora