Capítulo cento e oitenta e quatro.

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Chapter one hundred and eighty-four
Você não pode ir ★
{Seattle, Washington}
<Narrador on>

A noite em Seattle estava especialmente fria, e o vento úmido trazia um leve cheiro de chuva que parecia estar sempre no ar naquela cidade. As luzes da cidade refletiam nas poças acumuladas nas calçadas, e o som distante de sirenes ecoava pelas ruas. Dentro do pequeno apartamento de Eliza, o ambiente era aquecido e acolhedor, um contraste com a atmosfera lá fora. As luzes amareladas lançavam sombras suaves pelas paredes, enquanto uma TV ligada no mudo exibia imagens que ninguém realmente prestava atenção.

Eliza estava recostada no sofá, uma tigela de batatas fritas ao seu lado, seus dedos distraidamente deslizando pela tela do celular. Seus olhos estavam semicerrados, como se estivesse apenas esperando o tempo passar, quando a porta se abriu com um leve rangido. Madalaine entrou, os passos leves, mas carregados de uma tensão perceptível. Ela parecia absorta em seus pensamentos, quase como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.

— Eu preciso de uma bebida. — murmurou Madalaine, mais para si mesma do que para Eliza.

Sem tirar os olhos do celular, Eliza respondeu com um tom casual, porém atento ao movimento da amiga:

— Veio ao lugar errado.

Madalaine suspirou, deixando o peso de seu corpo afundar no sofá ao lado de Eliza. Havia uma inquietação em seus olhos, algo que ela claramente tentava esconder.

— Você tem doce? — perguntou, a voz um pouco mais firme, mas ainda longe de qualquer semblante de tranquilidade.

— Na geladeira. — Eliza apontou com a cabeça, seus olhos finalmente se voltando para a amiga. Madalaine se levantou devagar, como se carregasse um segredo que a estava corroendo por dentro.

Enquanto Madalaine remexia na geladeira, Eliza observava com uma mistura de curiosidade e desconfiança. Algo estava errado. Madalaine não era de se abalar facilmente, mas ultimamente, seu comportamento estava cada vez mais estranho. Eliza sabia que algo estava sendo escondido, mas não estava disposta a forçar uma confissão. Preferia manter as aparências, fingir que não percebia o mistério que pairava no ar.

Quando Madalaine voltou ao sofá, segurando um pequeno pacote de doces, seu olhar era distante. Eliza sabia que havia mais por trás daquela noite do que uma festa mal-sucedida.

— A festa não foi boa? — perguntou, apenas para testar as águas.

Madalaine hesitou por um momento, antes de responder com uma mentira óbvia:

— Foi... só uma festa qualquer.

Eliza quase riu da tentativa falha de dissimulação, mas conteve-se. Ela não era tola. Decidiu que seria melhor deixar Madalaine com seus próprios demônios, pelo menos por enquanto.

Havia algo na atmosfera daquela noite que fazia com que Eliza se sentisse inquieta também. Um pressentimento, talvez. O silêncio que se seguiu entre as duas era quase palpável, como se ambas estivessem esperando que a outra desse o primeiro passo para quebrar a tensão.

Finalmente, Eliza quebrou o silêncio, tentando soar casual, mas com um toque de seriedade:

— Você vai sair comigo amanhã, não vai?

Madalaine hesitou, seu olhar desviando-se para a janela, onde as luzes da cidade piscavam ao longe.

— Não. Tenho um compromisso importante. — respondeu, sem olhar diretamente para Eliza.

A resposta fez Eliza se mexer desconfortavelmente no sofá. Ela não gostava de ser deixada no escuro, e a insistência de Madalaine em manter segredos começava a incomodá-la.

— Não. Você não vai. — disse Eliza, sua voz baixa, mas com uma firmeza que não deixava margem para discussão.

Madalaine finalmente a encarou, surpresa pela súbita mudança de tom.

— Eu tenho que ir. — respondeu, sua voz era teimosa, mas havia uma fraqueza subjacente.

Eliza se levantou lentamente, aproximando-se de Madalaine. Seus olhos se encontraram, e por um breve momento, a tensão no ar parecia se solidificar.

— Você não pode ir. — disse Eliza, segurando os braços de Madalaine, seus dedos apertando com uma força controlada. — Entendeu?

Madalaine pareceu ponderar por um instante, seus olhos vasculhando o rosto de Eliza em busca de uma razão.

— Você nem sabe para onde eu vou. — retrucou Madalaine, desconfiada.

Eliza estreitou os olhos, a desconfiança crescendo em seu peito.

— Não importa. — respondeu ela, a voz agora mais baixa, quase como um sussurro. — Você tem que ficar.

Madalaine ficou em silêncio, seus pensamentos parecendo tão nebulosos quanto a noite lá fora. Finalmente, ela cedeu, com um suspiro resignado:

— Tudo bem, Eliza. Eu fico.

Eliza sorriu, mas seu sorriso não era de triunfo. Havia algo de sombrio na forma como ela olhava para Madalaine, como se estivesse tentando decifrar um enigma que ainda não conseguia compreender completamente.

— Ótimo. — disse Eliza, virando-se e caminhando lentamente em direção à porta. — Eu já volto.

Madalaine ficou sozinha na sala, seus olhos fixos na porta pela qual Eliza acabara de sair. A sensação de que algo maior estava em jogo naquela noite não a abandonava, e por mais que tentasse ignorar, o pressentimento de que tudo estava prestes a mudar a deixava inquieta. As luzes da cidade continuavam a piscar do lado de fora, indiferentes às sombras que se acumulavam no pequeno apartamento.

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