Capítulo cento e sete.

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Chapter one hundred and seven
Não aja como se não tivesse retribuído ★

Victor soltou um comentário que soou como um trovão na minha cabeça ainda latejante.

— Isso porque você nem sabe o que fez ontem. — Ele murmurou, mas logo pareceu se arrepender das palavras.

Meu coração disparou. O que diabos eu fiz ontem à noite? O pensamento me deixou ainda mais nauseada.

— Como assim? — Perguntei, minha voz revelando a ansiedade que começava a tomar conta de mim. Victor hesitou, seu olhar desviando brevemente. Ele parecia estar decidindo se devia ou não me contar.

— Só pensei alto. Esquece. — Ele respondeu com um toque de receio, mas a forma como ele evitava meu olhar só aumentava minha desconfiança.

— Não. Agora você fala. — Insisti, sem intenção de deixá-lo escapar tão fácil. Ele soltou uma risada irônica, mas havia uma tensão subjacente em sua atitude, algo que indicava que ele estava mais nervoso do que deixava transparecer.

— Você quer por ordem cronológica ou alfabética? — Victor perguntou com um sorriso sarcástico, tentando desviar a conversa.

— Engraçadinho — ironizei, levantando do sofá enquanto ele bebia água. — Fala, Jones.

— Babi, esquece, relaxa — ele disse, tentando minimizar a situação.

— Victor — eu insisti, meu tom ficando mais firme.

— Você quer com ou sem eufemismo? — Ele perguntou, aparentemente cauteloso, enquanto eu apenas desdenhava. — Eu vou entender isso como um 'sem' — ele concluiu, relutantemente.

Revirei os olhos e abaixei a cabeça tentando evitar a luz que ainda fazia minha cabeça latejar. Por que eu ainda insisto em beber?

— Resumidamente, você deu em cima de mim até dormir e me contou suas fantasias sexuais comigo.

No instante em que ele terminou a frase, minha cabeça ergueu-se derrepente, como se uma descarga elétrica tivesse passado por mim. Flashbacks começaram a invadir minha mente, rápidos e fragmentados. Lembrei de me sussurrar coisas como "Seu abraço é bom" "Foi quente e prazeroso, acordei encharcada". Eu realmente falei isso. A bêbada carente dentro de mim tomou conta. Senti uma onda de calor e vergonha me tomar.

Tentei manter a compostura. Nunca mais beber perto do Jones.

— Você não ia me contar se eu não pedisse? — Minha voz saiu mais acusatória do que eu pretendia. Eu buscava qualquer vestígio de dignidade naquela situação.

— Foi você que deu em cima de mim, praticamente implorando pra eu transar com você!O que você exatamente esperava que eu dissesse? — Victor disse numa mistura de indignação e nervosismo. Bufei e passei as mãos pelo rosto.

— Eu tava bêbada! — Eu falei na defensiva.

— Claro, e quando você sonhou tava bêbada também? — Ele zombou e eu senti a vergonha se misturar com frustração dentro de mim.

— Eu não controlo meus sonhos! — Continuei numa tentativa falha de me explicar. Mesmo sabendo que aquilo não ia adiantar de nada.

— Mas controla suas ações. Foi você que me beijou ontem. — Ele continuou com seu tom que mais parecia interrogativo do que crítico. Apertei os olhos e dei alguns passos pra trás.

— Não aja como se você não tivesse retribuído. — Eu falei dando as costas e indo pro meu quarto

Me joguei na cama e enfiei a cabeça no travesseiro. Eu não aguentava mais um minuto ali. Nunca quis tanto voltar para casa. Minha cabeça e meu corpo doíam. As memórias começaram a surgir, como se estivessem piscando como luzes diante dos meus olhos. Eu me lembrava da confusão sobre o que sentir em relação ao Victor e que depois disso fui tomada pelo álcool. Mas o que mais me marcou foi o desejo desesperado de estar perto dele. Lembro das suas bochechas coradas quando confessei o efeito do sonho com ele sobre mim. Eu estava envergonhada pelas minhas atitudes. O pior de tudo era que eu havia admitido meu desejo por ele antes mesmo de admitir para mim mesma.

A sensação de vergonha era quase física. Eu me debatia no travesseiro, tentando ignorar a dor de cabeça e o peso na mente. As lembranças da noite anterior eram fragmentadas, mas a vergonha permanecia clara como o dia. Cada risada nervosa, cada gesto carente parecia intensificar a sensação de humilhação. O desejo que eu tinha por ele parecia agora um erro colossal, um ato impensado que só serviu para complicar ainda mais uma relação que já era tumultuada. O pensamento de ter ficado vuneravel na frente de alguém, tão desajeitadamente, principalmente do Victor de quem eu mais escondia esse meu lado, fazia meu rosto arder. Eu me sentia uma tola, e o desejo de desaparecer da frente dele, de fugir para um lugar onde não houvesse recordações daquela noite, era quase insuportável..

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