Capítulo cem.

920 53 6
                                    

Chapter one hundred
Ok, preciso que confie em mim ★
{Tacoma, Washington}
<Carolina Decker narrando>

Logo fomos para a mesa de jantar, que era enorme e decorada com uma elegância impressionante. Taças de vinho foram servidas, como se estivéssemos em um restaurante de luxo e não na casa de alguém. Eu mantinha os olhos fixos em Gabriel, mas estava nitidamente desconfortável.

— Eu não vou te matar, princesa — ele murmurou com um leve sorriso, percebendo minha tensão. Lancei-lhe um olhar debochado.

— Relaxa, tá legal? — ele insistiu, como se a tranquilidade pudesse ser invocada por suas palavras.

— Eu tô relaxada — menti, endireitando o corpo e tentando parecer convincente, justo quando a mãe do Bak se aproximou.

— Estou vendo — Gabriel replicou sarcasticamente, arqueando as sobrancelhas.

A comida foi servida, e eu prestava atenção a cada movimento, a cada detalhe, como se fosse uma criança perdida em um shopping lotado. A mãe do Bak pegou seus talheres e deu uma garfada na salada Caesar. Eu coloquei as mãos sobre meu colo, sentindo uma timidez incomum. Bak fez um sinal para eu começar a comer, e eu apenas dei de ombros, relutante. Ele me olhou com uma mistura de desdém e compreensão, e nos comunicamos pelo olhar.

Gabriel, então, tomou um gole de vinho, arqueando as sobrancelhas como se dissesse "Pode beber, não tem veneno". Suspirei, cedendo, e bebi um gole de vinho antes de pegar os talheres com cuidado.

— Gabriel me contou que vocês se conheceram em um caso. Como entrou para o FBI? — perguntou a Sra. Di Laurentis, interrompendo meu devaneio. Engoli a comida e senti o olhar de Bak sobre mim, me dizendo para manter a calma.

Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. — Sempre gostei de ser a heroína quando eu era criança — comecei, minha voz carregada de nostalgia. — Filmes de investigação me fascinavam, e quando cheguei ao ensino médio, percebi que minha vocação era proteger as pessoas, buscar justiça. Sempre senti uma necessidade de fazer algo maior, algo que realmente pudesse mudar o mundo. O FBI parecia ser o lugar onde eu poderia fazer isso de forma mais significativa. E agora, meu objetivo é continuar subindo de cargo, onde eu possa fazer ainda mais.

Enquanto eu falava, chutei a canela de Gabriel sob a mesa, uma lembrança sutil de que toda essa encenação fazia parte de um acordo. Ele me lançou um olhar irritado, mas não pôde evitar sorrir ao ver meu sorrisinho de deboche. Bebi mais um pouco de vinho, tentando ignorar a forma como ele me observava, com um olhar que parecia atravessar minhas barreiras.

— Você nasceu aqui em Tacoma? — a Sra. Di Laurentis voltou a perguntar, trazendo a conversa de volta ao presente.

— Não, sou de Los Angeles, Califórnia. Minha mãe é terapeuta, e quando surgiu uma oportunidade melhor aqui em Washington, nos mudamos. Desde os meus quinze anos, moro aqui.

— Deve ser uma cidade linda — ela comentou.

— E é — assenti, começando a me sentir mais à vontade. Para minha surpresa, até que a mãe dele não era tão intimidadora.

— A Carol gosta de pintar — Gabriel comentou, me pegando de surpresa. Franzi o cenho, me perguntando como ele sabia disso.

Como se lesse meus pensamentos, Gabriel sorriu, um sorriso orgulhoso do tipo "Eu sei de tudo". Babaca, pensei enquanto revirava os olhos mentalmente.

— Sério? — Sra. Di Laurentis parecia genuinamente interessada.

— Sim, é um hobby para mim. Ajuda a relaxar — admiti.

— Eu adorava pintar quando morava em Miami — ela disse, limpando a boca com o guardanapo.

— Morava em Miami, na Flórida?

— Sim, antes do Gabriel e do Arthur nascerem.

Agora eu entendia de onde vinha todo aquele dinheiro. Me senti um pouco fora de lugar, quase humilhada, mas também determinada a mostrar que não me deixaria abater.

O resto da noite foi um desfile de perguntas banais e olhares furtivos entre mim e Gabriel. Quando a Sra. Di Laurentis foi à cozinha, aproveitei para me aproximar de Gabriel e falar disfarçadamente.

— Espero que ela vá embora logo. Nada contra sua mãe, ela é um amor, mas juro que não consigo mais fingir ser sua namorada.

— Você foi melhor do que eu esperava — ele disse em tom de elogio, e eu dei de ombros.

— Thaiga me ensinou umas coisas.

— Ah, é? Crusher me disse que ela fez teatro antes do FBI.

— Crusher seria o Miller?

— É, piada interna.

— Claro — respondi entediada, mas antes que pudesse continuar, ouvi os passos da mãe do Gabriel se aproximando.

— Ok, preciso que confie em mim — ele murmurou, de repente.

— Por quê? — perguntei, confusa.

Antes que eu pudesse reagir, Gabriel puxou meu rosto suavemente e selou nossos lábios em um beijo inesperado. Foi um beijo delicado e suave, mas carregado de uma intensidade que me pegou de surpresa. Sua boca tinha o gosto do vinho tinto que havíamos compartilhado, e era macia, convidativa. Por um momento, me deixei levar, perdida na sensação. Ele beijava bem, e isso era inegável. Muito bem.

Quando ele se afastou, um sorriso breve e enigmático surgiu em seus lábios. Seus dedos deslizaram pelo meu queixo, um gesto íntimo que me deixou ligeiramente atordoada. Vi a Wanessa mãe do Gabriel aparecer, e dar um sorriso tímido.

Levantamos, e me despedi dos Di Laurentis. Gabriel me acompanhou até a porta.

— Te devo uma, princesa.

— Deve mesmo. Esse foi o acordo — respondi, relaxando o corpo pela primeira vez naquela noite.

— Quer que eu peça um Uber? — ele perguntou, e eu dei de ombros.

— Milena vem me buscar.

— Então, te vejo na segunda.

— Tchau, Di Laurentis — acenei e sorri, já me virando para ir embora.

Enquanto me afastava, não pude evitar de pensar que aquela noite mudara algo entre nós. E aquele beijo... Aquele beijo despertou algo em mim que eu não estava pronta para encarar.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora