Capítulo cento e dezesseis.

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Chapter one hundred and sixteen
dizendo que eu ia fazer falta? ★
{Seattle, Washington}
<Victor Jones narrando>

Eu havia acabado de chegar em casa depois de fazer algumas compras, e o que encontrei me deixou alarmado. O apartamento estava um caos, com objetos quebrados no chão, e Babi estava socando o balcão de madeira com uma fúria que eu não via há muito tempo. Imediatamente percebi que ela estava fora de si, perdida em um dos seus episódios de raiva. Sem hesitar, fui até ela e segurei seu pulso com firmeza, tentando trazê-la de volta à realidade. Seus olhos, antes vazios, aos poucos voltaram ao foco, reconhecendo minha presença.

Ela ainda estava visivelmente abalada, mas, para minha surpresa, não recuou quando a abracei em um impulso. Era como se parte de mim soubesse que ela precisava desse contato, mesmo que ela mesma não admitisse. Babi não retribuiu o abraço, mas isso não me incomodou. O simples fato de ela permitir que eu a segurasse já era um grande avanço. Senti o perfume dela, suave e familiar, e o calor de seu corpo contra o meu. Ficamos assim por alguns minutos, o silêncio pesado entre nós, até que ela se afastou e se sentou no sofá.

— Eu já volto. — Avisei com suavidade, sem querer interromper o frágil estado de calma que ela começava a alcançar.

Fui buscar um anti-séptico e, ao voltar, me sentei ao lado dela. Suas mãos estavam em péssimo estado. O punho direito sangrava, e a palma das mãos estava marcada, com feridas causadas pelas unhas que ela cravou na própria pele durante a crise. Babi resmungou de dor quando comecei a limpar os ferimentos.

— Tá doendo? — perguntei, preocupado.

— Não, idiota, não tá vendo como eu tô feliz? — Ela respondeu com frieza, mas logo se remexeu, visivelmente desconfortável. — Desculpa. — Ela murmurou, seu tom relaxando um pouco.

— Tá melhor? — perguntei, enquanto aplicava o anti-séptico em seu punho com cuidado.

— Tô... Aí! — Ela fez uma careta de dor, e eu continuei limpando com algodão. — Sabe que eu sei me cuidar sozinha, né?

— Sei, você repete isso o dia todo. — Respondi, dando de ombros, mas sem soltar sua mão. Ao segurar sua mão, senti um choque, como se algo mais profundo estivesse começando a se manifestar entre nós. Tentei ignorar a sensação, concentrando-me no que estava fazendo.

— Não falo tanto assim.

— Fala sim. Eu já sei que você não precisa de ninguém, sabe se cuidar sozinha, odeia tudo que respira perto de você e gosta de ficar sozinha. Você faz questão de deixar isso claro em qualquer oportunidade.

— Eu não odeio tudo que respira perto de mim.

— Não? Bárbara, você afasta todo mundo que pode vir a gostar de você. Já vi de perto. — Murmurei, arrependendo-me instantaneamente ao perceber que talvez tivesse ido longe demais.

Cala a boca, Victor, me xinguei mentalmente. Ela não respondeu, apenas abaixou a cabeça, observando meus movimentos em silêncio. Enquanto cuidava das suas mãos, meu olhar caiu sobre o colar com pingente de pistola que eu dei para ela. Ver que ela realmente usava o presente me fez sentir uma felicidade silenciosa. Era um pequeno sinal de que, de alguma forma, eu estava começando a significar algo para ela.

— Por que ainda fala comigo? — Ela cortou o silêncio, sua voz mais suave do que antes.

— Puff, quem eu ia irritar todo dia e chamar de anã gótica? — Respondi, tentando aliviar o clima.

— Tô falando sério, Victor. — Ela revirou os olhos, mas não com a mesma intensidade de antes, e eu dei de ombros.

— Me acostumei com você, e mesmo que você me odeie, eu gosto de conversar com você, gosto da sua companhia. Mesmo que às vezes a gente passe dos limites nas discussões. Seria estranho pensar em trabalhar sem você, a essa altura do campeonato.

— Tá dizendo que eu ia fazer falta? — Ela riu, mas com um toque de sarcasmo. Soltei suas mãos, agora limpas e enfaixadas.

— Sinceramente? Ia, você ia fazer falta. Eu ainda não cumpri minha lista de "Coisas pra irritar a Bárbara". — Voltei a brincar, tentando mantê-la engajada na conversa.

— Eu ainda sonho com o dia que você vai embora da minha vida. — Ela disse, num tom de piada, mas com uma sombra de algo mais profundo por trás.

— Sonha nada, você me adora. — Provoquei, piscando para ela.

— Nos seus sonhos, Victor.

Ela se levantou, e eu a observei sair da sala. Garota difícil. Mas, por mais que ela tentasse esconder, eu sentia que estávamos, aos poucos, baixando as guardas um com o outro. Eu não podia negar mais para mim mesmo: estava começando a gostar dela. Não apenas como parceira de trabalho, mas de uma forma mais profunda e complexa. Babi era como um quebra-cabeça que eu não conseguia parar de montar, e cada nova peça que eu descobria me deixava mais envolvido. Ela estava me mudando, fazendo nascer algo que eu não sabia que precisava—um sentimento que me assustava tanto quanto me atraía.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora