Capítulo cento e setenta e quatro.

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Chapter one hundred and seventy-four
Conversar pra que? ★

— O que você quer? — Perguntei, esforçando-me para manter a voz firme, apesar do coração acelerado, batendo no peito como um tambor inquieto.

Victor me encarou, seus olhos fixos nos meus como se procurasse as palavras certas no fundo da minha alma. O silêncio que se seguiu foi denso, carregado de tudo que tínhamos tentado evitar até aquele momento. Fugir não era mais uma opção. Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, tudo o que ignorávamos viria à tona, como uma tempestade inevitável.

— Você vai se acalmar? — Victor rebateu, o tom mais suave do que eu esperava, mas ainda assim firme. Ele ergueu as mãos em um gesto de rendição, tentando desarmar a situação.

— Não. — Cruzei os braços, o sangue fervendo de frustração. — Não me peça para me acalmar.

— Eu só quero conversar. — Ele insistiu, a voz carregada de uma calma forçada.

— Conversar pra quê? — Retruquei, deixando a raiva transparecer. — Pra você jogar na minha cara, de novo, que sou uma surtada que não consegue controlar a própria raiva?

Eu geralmente evitava expor meus sentimentos, mantendo-os bem guardados, mas naquele momento, algo em mim cedeu. Estava exausta de me segurar, de fingir que nada me afetava, de mascarar o que sentia por trás de uma fachada de indiferença.

— Bárbara, eu... — Victor tentou falar, mas eu o cortei bruscamente.

— Qual é a sua, Victor? Você nunca se importou comigo, sempre me odiou até sermos jogados nessa missão juntos. Agora quer fingir que se importa?

— Foi você que começou! — Ele respondeu, elevando a voz. Não era raiva, era frustração. E não só dele, mas minha também.

— Como é? — Senti meu sangue ferver ainda mais.

— Você sempre adorou julgar todo mundo e arranjar briga. Eu nunca fiz nada contra você, mas você chegou cheia de marra e arrogância, querendo pisar em todo mundo.

— Eu nunca pedi pra você ser legal comigo! — Minhas palavras saíram antes que eu pudesse controlá-las.

— Então por que você se incomoda tanto com as nossas brigas? — Ele retrucou, a voz cortante como uma faca.

— Não me incomo... — Comecei, mas Victor me interrompeu, implacável.

— Você quer que todo mundo se adapte ao seu jeito, e depois me chama de inflexível? Por quê? Porque eu não fui "simpático" como os outros do esquadrão? — Ele zombou, um sorriso ácido no rosto.

— Eu nunca pedi nada a ninguém. Você que tá distorcendo tudo, não eu. — Rebati, sentindo a tensão aumentar a cada palavra.

— Seu problema é achar que o mundo gira ao seu redor. — Ele murmurou, e passei a mão pelo rosto, tentando manter a compostura.

— Meu problema é você, Victor. — Minhas palavras saíram carregadas de ressentimento.

— Claro. — Ele respondeu, com sarcasmo gotejando de cada sílaba. — E não, vir para Seattle não mudou nada. Eu ainda não faço questão de você.

O desprezo em sua voz me atingiu como um soco no estômago, e senti uma onda de indignação subir pela minha garganta. Passei a mão pelo cabelo, tentando me acalmar, mas a raiva só crescia dentro de mim.

— Não me venha com essa, tá? Só não. — Respondi, a voz quase trêmula de raiva. Victor desviou o olhar, seu rosto agora inexpressivo, como se estivesse tentando esconder algo. — Foi você que quis fazer aquela aposta idiota do beijo, e fez questão de ganhar. Você que me beijou pela segunda vez. Você que me deu presente. Você insinuou que eu queria transar com você. Você que ficou de provocação. Você me arrastou para o parque pra me animar. E você ficou irritado porque eu disse que dormir juntos depois do sexo não rola. Quer que eu continue? — O sarcasmo escorria das minhas palavras. — Belo jeito de demonstrar que você não faz questão de mim.

O clima entre nós estava carregado, cada palavra deixava o ar mais pesado. Victor ficou em silêncio, seus olhos escuros pareciam perdidos em pensamentos. Eu não sabia se ele estava arrependido ou apenas tentando encontrar uma nova forma de rebater. Mas naquele momento, tudo o que eu queria era que ele sentisse a mesma dor, a mesma confusão que eu estava sentindo.

— Escuta, eu posso ser "esquentadinha", mas não fui eu que arrisquei o caso por motivos pessoais porque não sei resolver os problemas da minha vida. — Falei, minha voz carregada de amargura. Victor levantou o olhar para mim, seus olhos faiscando de raiva contida.

— Você não arriscou o caso? Sério?— Ele ironizou, o tom ácido, e eu balancei a cabeça em descrença. Já estava exausta daquela conversa.

— Sai da frente, Victor. — Tentei passar, mas ele segurou meus pulsos, me impedindo de seguir adiante.

— Para. Desculpa. — Sua voz soou mais baixa, quase um sussurro, mas havia uma intensidade ali que não consegui ignorar.

Olhei para ele, meus pulsos ainda presos em suas mãos, e por um momento, o tempo pareceu parar. A raiva ainda fervilhava dentro de mim, mas algo mais, algo mais profundo e doloroso, se agitou no meu peito. Eu não sabia se estava pronta para lidar com isso, mas sabia que, de alguma forma, precisávamos encontrar um caminho para seguir em frente, juntos ou separados. Mesmo que isso significasse enfrentar tudo o que estávamos tentando evitar até agora.

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