Capítulo cento e trinta e dois.

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Chapter one hundred and thirty-two
Até mais tarde ★
{Seattle, Washington}
<Victor Jones narrando>

A manhã em Seattle nasceu envolta em uma neblina cinzenta, típica dessa cidade onde o sol parece tímido demais para aparecer. O frio era cortante, e eu liguei o aquecedor quase ao máximo, enquanto o vapor escapava pelas frestas das janelas, como se a casa quisesse respirar um pouco daquele ar gélido. As ruas estavam desertas, ainda que fosse hora do rush, um silêncio estranho para uma cidade tão grande, mas que combinava com o meu estado de espírito.

Desci para a cozinha, e preparei panquecas com mel para mim, e despejei suco de maçã no copo. Com o celular na mão, aproveitei para responder algumas mensagens enquanto tomava o meu café, tentando evitar pensar demais em certas coisas.

{.}

Bia: Bom dia, Victor 
You:Bom dia, Bianca 
Bia:Como você tá? 
You:Melhor do que nunca 
Bia:Ah, tá de bom humor, o que aconteceu? 
You:Nada, mas por que eu já estaria de mau humor? 
Bia: Ah, é um bom argumento. E a Bárbara? 
You:Melhor do que eu esperava 
Bia: Então deixa eu te perguntar 
You:Manda 
Bia:Como eu sei se um cara tá afim de mim? 
You:Geralmente arranja desculpa pra ficar perto de você, contato visual 
Bia: Ah 
You:Devo perguntar quem é o cara? 
Bia: Foi só hipotético 
You:Santiago, quem te conhece, te compre 
Bia:Você não conhece 
You: É o tal do Arthur? 
Bia: Eu sei que você é do FBI, mas limites, não precisa investigar minha vida 
You:Não stalkei você, Bianca, o Mob me disse 
Bia: O que o Marcos falou? 
You:Isso não vem ao caso, não mude de assunto. Tá afim do Detetive Miller? 
Bia: Por que eu diria pra você? 
You:Porque você é minha melhor amiga, Thaiga, eu tenho exclusividade 
Bia: Deve ser por isso que você é a única pessoa que me chama de Bia 
You: Se tá afim dele, chega nele e chama ele pra sair 
Bia:Não disse que tô afim dele 
You:Bianca, você não me engana 
Bia: Eu não vou chamar ele pra sair 
You: Por que não? Você é linda, inteligente, divertida e meio doida, mas quem liga? Se ele não aceitar, ele que sai perdendo 
Bia:Valeu, vou pensar sobre 
You:Como anda a galera? 
Bia: Bem, estamos bem ocupados com a investigação. E você e a Bárbara, já se mataram? 
You: Não, eu diria que a nossa relação tá até melhor 
Bia: Sério? No fim das contas, o PH tava certo em mandar vocês pra aí 
You:Vamos ver até quando dura 
Bia: Isso tem a ver com o beijo de vocês? 
You:Talvez 
Bia:Então tá rolando alguma coisa? 
You:Não sei. 
Bia:Deveria saber. Agora eu preciso resolver umas coisas, depois a gente se fala.

{.■

Bebi um gole do suco, deixando a conversa se esvair junto com o sabor doce da laranja. Mas meu sorriso desapareceu rapidamente quando ouvi passos descendo as escadas. Babi apareceu, murmurando algo inaudível, os cabelos desarrumados e uma expressão mal-humorada que parecia combinar com o dia. Guardei o celular, observando seus movimentos, cada gesto trazendo de volta as memórias intensas do dia anterior. Se eu me concentrasse o suficiente, podia quase sentir a pele dela, quente contra a minha, como uma lembrança que teima em não se dissipar.

Ela roubou meu garfo, pegando um pedaço da minha panqueca com mel, e eu não pude deixar de provocá-la, adorando cada momento em que ela perdia aquela pose mandona.

— Ué, achei que você não gostasse de mel — disse, sabendo que isso a irritaria.

— Não enche. — Ela respondeu de mau humor, e eu revirei os olhos, tentando esconder a diversão que borbulhava por dentro.

— Caiu da cama, foi? — perguntei, enquanto ela dava de ombros, como se não se importasse.

Olhei para ela de esguelha enquanto girava na cadeira, absorta em seus próprios pensamentos. Sua presença sempre trazia uma energia diferente ao ambiente, algo que me deixava inquieto, mas de uma forma estranhamente agradável. Ouvimos batidas na porta, e nossos olhares se encontraram ao mesmo tempo, um entendimento silencioso que tínhamos desenvolvido ao longo dos anos. Ela fez um sinal com a cabeça para que eu fosse atender, e, mesmo contrariado, me levantei.

Eliza apareceu, com a mesma animação de sempre, aquela que eu nunca entendi completamente, mas que aprendi a aceitar.

— Bom dia — disse ela, entrando com passos rápidos enquanto eu lhe dava passagem.

— Bom dia — respondi, observando Babi lançar um olhar desconfiado enquanto terminava de roubar minhas panquecas.

— Que animação — Babi comentou, sua voz carregada de sarcasmo, e eu balancei a cabeça, concordando silenciosamente.

— Tem algum dia que ela não acorda dando bom dia pras árvores? — acrescentei, fazendo Babi arquear uma sobrancelha, provavelmente pegando o sarcasmo no ar.

— Como vocês estão? — Eliza perguntou, olhando de um para o outro.

— Bem — respondi, e Babi concordou com um aceno.

— Vim perguntar se vocês não querem ir comigo ao centro?

— Não, obrigada. — Babi respondeu rapidamente, o gelo em sua voz quase palpável. Eu lancei um olhar de reprovação para ela, que pareceu suavizar um pouco. — Vou estar ocupada hoje — completou, num tom mais suave.

— Eu te levo, se você quiser. Também tô querendo ir comprar umas coisas — sugeri, e vi o rosto de Eliza se iluminar. Babi, por outro lado, olhou com um toque de tédio.

— Mas não vou demorar — acrescentei, sentindo a necessidade de esclarecer, ainda que para mim mesmo.

— Sem problemas. Vamos — disse Eliza, e eu franzi o cenho.

— Agora?

— Vai logo, Jacob — Liza ordenou, usando aquele tom que eu sabia que não adiantava contestar.

— Já tô indo.

Fui até o balcão pegar a chave, mas antes que eu pudesse sair, Babi tomou o meu lugar na cadeira, girando nela com um ar de tédio.

— Você vai cair — avisei, mais como uma provocação do que uma preocupação genuína.

— Sai daqui logo, vai — ela respondeu, e como um ato impulsivo, dei um breve beijo na sua bochecha, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. O olhar confuso e atordoado que ela me lançou em seguida quase me fez rir.

— Até mais tarde — falei, saindo com Eliza, mas com a cabeça ainda parcialmente na cozinha, com Babi.

Enquanto caminhávamos em direção ao carro, não pude evitar um sorriso. Eu adorava esses pequenos momentos em que conseguia quebrar o jeito mandão da Babi, deixando-a vulnerável, mesmo que por alguns segundos. Aqueles olhares confusos, o jeito como ela perdia um pouco do controle... Isso me atraía de um jeito que eu não sabia explicar. Era como se, a cada vez que a via assim, eu me aprofundasse mais nesse sentimento que teimava em crescer dentro de mim.

Ela me desafiava, me deixava sempre à beira do precipício, e eu adorava isso. Cada pequena vitória, cada sorriso que arrancava dela, só aumentava meu desejo de conhecê-la ainda mais, de descobrir até onde poderia ir com ela. Talvez fosse essa a razão pela qual nossa relação estava melhor do que eu esperava, ou talvez eu estivesse me deixando levar demais. Mas, de uma coisa eu tinha certeza: não queria que isso acabasse tão cedo.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora