Capítulo Oitenta e três.

959 82 7
                                    

Chapter Eighty-three
Obrigada, Victor ★
{♾️}
<Bárbara Sevilla Narrando>

Tudo parecia estranho e silencioso. O apartamento estava quase escuro, iluminado apenas pelas luzes da rua que filtravam pelas cortinas. O ar carregava uma tensão palpável, misturada com o cheiro metálico do sangue seco no meu braço. Eu e Victor chegamos em silêncio ao apartamento. Sentei no sofá sentindo a dor do corte no meu braço finalmente se manifestar agora que a adrenalina abaixou. Cada movimento enviava uma onda de dor aguda que parecia pulsar junto com o batimento do meu coração.

— Tá bem? Quer água? — Victor ofereceu enquanto eu levantava a manga da jaqueta.

— Não, vai que você envenenou a água — respondi, analisando o corte no meu braço.

— Se eu fosse te matar, seria de uma forma mais dolorosa, gatinha — ele retrucou, dando um gole de água.

Fui em direção à pia. A cozinha era pequena, com armários brancos e um balcão de mármore. O som da água correndo na pia parecia amplificar o silêncio ao redor.

— Se machucou? — ele mudou o tom de voz enquanto eu lavava o corte. A água fria fez a dor arder mais intensamente, quase me fazendo soltar a garrafa.

— Não foi nada — respondi e praguejei baixo quando voltou a arder.

— Tem certeza? Parece fundo — Não foi ironia; ele estava sendo sincero.

Era estranho ver o Victor sendo prestativo comigo. Estranho demais.

— Qual a sua, Jones? De manhã você estava todo nervosinho, no carro você não falou nada e agora você quer ser prestativo. Esqueceu de ir para terapia, foi? — falei, virando o corpo e apoiando os braços na pia.

Victor deu de ombros em silêncio. Fui beber água; Jones acompanhou meus movimentos com o olhar.

Para falar a verdade, eu não gostava muito de ficar sozinha com o Victor. Porque eu nunca sabia como agir com ele; ele fazia eu sentir coisas que eu nunca havia sentido antes. E isso de certa forma me assustava. Era como se ele pudesse ver através de todas as minhas defesas, me deixando vulnerável de uma maneira que eu odiava admitir. Cada vez que ele se aproximava, meu coração acelerava e minha mente ficava confusa, uma mistura de medo e desejo que eu não sabia como controlar.

— Tem certeza que tá tudo bem? — Ele insistiu, ignorando meu comentário anterior enquanto eu voltava pro sofá. Seus passos me acompanharam.

— Já passei por coisa pior.

— Eu sei disso, Sevilla — Victor revirou os olhos.

Victor segurou meu braço. Mexi o braço bruscamente e xinguei quando a dor se irradiou. O corte era profundo, causado pelo vidro do carro quebrado, e parecia que cada movimento fazia os nervos queimarem.

— Victor! — reclamei, e Victor cruzou os braços.

— Depois eu que sou dramático.

— Você é mesmo.

— Deixa eu ver — ele estendeu o braço e eu me distanciei um pouco.

— Não, eu sei me cuidar.

— Não disse que você não sabe. Eu queria compensar por não ajudar em nada no carro. E você também cuidou dos meus últimos machucados.

— Você não me deve nada, Victor.

— Deixa de ser marrenta, garota. Eu não vou te matar.

Revirei os olhos e cedi à sua ajuda, estendendo o braço. Victor segurou meu braço e observou o corte. Minha arma de defesa era o desprezo, assim eu pensava menos no porquê ele me dava borboletas no estômago quando chegava perto demais. Mas o Victor não era nem de longe uma pessoa ruim; pelo contrário, ele era uma das melhores pessoas que eu já havia conhecido. Mesmo com tudo que a gente fazia e falava, ele ainda se prestava a me ajudar. Mas eu jamais admitiria isso em voz alta.

Victor pegou uma caixinha de primeiros socorros que tinha no apartamento e começou a limpar o corte com delicadeza. Seus dedos eram firmes, mas ao mesmo tempo gentis, como se temesse me machucar mais.

— Você deveria ter mais cuidado — disse ele, concentrado no que fazia.

— Eu sei, mas não foi exatamente um plano sair ferida hoje — respondi, tentando soar casual.

Acompanhei seus movimentos e resolvi fazer algo que eu quase nunca fazia:

— Obrigada, Victor — murmurei, quase inaudível.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora