Capítulo cento e seis.

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Chapter one hundred and six
Isso porque você nem sabe o que fez ontem ★
{Seattle, Washington}
<Bárbara Sevilla Narrando>

Quando a luz do sol invadiu meu quarto pela janela, um desejo desesperado de nunca ter acordado tomou conta de mim. Minha cabeça pulsava como se estivesse prestes a explodir, cada batida reverberando como um martelo em meu cérebro. A sede que eu sentia era imensa, como se eu tivesse passado a noite inteira vagando por um deserto escaldante. Minha garganta estava seca, e cada pensamento que tentava formar era imediatamente sufocado pela dor.

“Eu quero morrer”, pensei, enquanto enterrava a cabeça no travesseiro, tentando me esconder da realidade. Mas o desconforto era insuportável. Choraminguei sozinha, como uma criança indefesa, e finalmente, com grande esforço, me forcei a sentar na cama.

Meus sentidos estavam em caos, lutando para voltar ao normal. Minhas roupas estavam intactas, limpas, o que era um pequeno alívio. Pelo menos isso significava que eu não tinha feito nada estúpido o suficiente para acabar em uma briga. Olhei ao redor do quarto e tentei lembrar onde eu estava. Seattle. Apartamento em Seattle. Respirei fundo. Era o dia oito de setembro. Nada de novo ou catastrófico havia acontecido – apenas mais uma manhã de ressaca. Nada que eu já não tivesse sobrevivido antes.

Com um esforço considerável, levantei-me, tropeçando e cambaleando, cada passo parecia uma luta. A náusea tomou conta de mim, meu estômago revirando como se eu estivesse em alto-mar. O enjoo era tão forte que tive que me apoiar na parede por um momento antes de seguir em frente. Tropecei até encontrar uma garrafa de água e a agarrei como se minha vida dependesse disso. Bebi quase toda de uma vez, o líquido fresco escorrendo pela minha garganta, mas não fazendo muito para aliviar a sensação horrível que dominava meu corpo.

Caminhei até o banheiro e, ao olhar no espelho, quase não me reconheci. Meu Deus, eu estou péssima. Minha pele estava pálida, quase translúcida, e meus olhos estavam inchados, com sombras escuras por baixo, evidência de uma noite mal dormida e de escolhas ruins. Não que eu já não seja naturalmente assim, pensei com amargura, mas hoje está pior. Com um suspiro, lavei o rosto, tentando afastar a aparência de morta-viva. Escovei os dentes, mas o gosto ruim na boca parecia persistir, me lembrando do que quer que tenha acontecido na noite anterior. Eu precisava de um remédio, algo que aliviasse a dor latejante na minha cabeça, mas a ideia de ir procurar era exaustiva.

Resmunguei para mim mesma enquanto descia as escadas, cada passo me fazendo parecer mais lenta que uma tartaruga. Na sala, encontrei Victor, já acordado e concentrado no computador, como se o sol matinal não tivesse nenhum efeito sobre ele.

— Bom dia, anã gótica. — Ele disse, seu tom cheio de sarcasmo.

— Tem remédio pra dor de cabeça? — Ignorei seu cumprimento, focando no que realmente importava.

— Senta aí, eu trago pra você. — Ele respondeu, sem hesitar.

Sem forças para discutir, me joguei no sofá, sentindo cada músculo do meu corpo protestar. A última coisa de que me lembrava era ter conversado com a Eliza, mas o resto da noite estava envolto em uma névoa. Tentei puxar pela memória, mas era como tentar segurar água entre os dedos – tudo escapava.

Depois de alguns minutos, Victor retornou com  remédio e uma garrafa de água. Sem dizer uma palavra, peguei o comprimido e engoli, agradecendo silenciosamente pela sua eficiência.

— Valeu. — Murmurei, ainda sentindo a dor no fundo da cabeça.

Ele estendeu uma colher na minha direção, com algo que parecia mel.

— Toma. — Disse ele, com uma expressão que beirava a paciência.

— Para que isso? — Olhei desconfiada para a colher.

— É mel, ajuda na ressaca. — Explicou ele, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Não gosto de mel. — Retruquei, fazendo uma careta. — Por que você anda com mel?

— Eu como com panqueca. — Respondeu ele, como se fosse uma coisa normal. Eu continuei encarando a colher com desgosto. — Você não gosta nem de você mesma, então bebe logo.

Revirei os olhos e, contrariada, peguei a colher, enfiando o mel na boca de uma vez. O gosto era tão doce que quase me fez engasgar. Horrível mesmo, pensei, fazendo uma careta enquanto tentava não vomitar.

— Meu Deus, eu quero morrer. — Murmurei, me encolhendo no sofá, como se pudesse desaparecer entre as almofadas.

— Isso porque você nem sabe o que fez ontem. — Ele murmurou, mas logo pareceu se arrepender das palavras.

— Como assim? — Perguntei, meu coração disparando.

Oque diabos eu fiz ontem à noite?

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