Capítulo cento e noventa e sete.

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Chapter one hundred and ninety-seven
★  Não sabe nada sobre mim ★
{Seattle, Washington}
<Narrador on>

Victor estava impaciente, sua mente se agitando em um turbilhão de pensamentos. Ele olhou para o celular e viu a data: dezenove de setembro. O nome da mãe piscava na tela, e com ele, um sentimento de culpa que vinha crescendo há dias. Sabia que estava errado ao mentir para ela, mas a verdade parecia um fardo pesado demais para ser revelado naquele momento.

Ele prendeu a respiração, lutando contra o impulso de se abrir. Sabia que a mãe estava preocupada, talvez até arrasada por não ter notícias claras do filho. Era sempre assim: o peso das expectativas, a cobrança por ser o filho exemplar. Victor sentia que tinha que proteger a mãe da verdade, evitar que ela se preocupasse ainda mais. Mas ao mesmo tempo, a culpa o consumia. O que ele estava fazendo? Era certo esconder aquilo dela? Hesitante, ele finalmente digitou uma simples mensagem: "Mãe, como você tá?".

Ao enviar, largou o celular como se aquilo o queimasse. Passou as mãos pelo cabelo, agora despenteado, e sentiu o coração apertar no peito. Será que estava fazendo a coisa certa?

Enquanto isso, Bárbara Sevilla apareceu na sala, cruzando os braços com impaciência.

— A gente pode ir agora? Não quero perder o voo — ela perguntou, a frustração evidente em sua voz.

Victor, ainda absorto em seus pensamentos, respondeu com ignorância: — Quem atrasou foi você.

A atmosfera entre eles estava carregada. Não pareciam mais aquelas duas pessoas que, há poucas horas, estavam abraçadas, conectadas por uma tênue linha de compreensão mútua.

— Tá, e agora eu estou dizendo pra a gente ir — Bárbara retrucou, elevando o tom de voz, seu temperamento explosivo começando a tomar conta.

Victor não deixou barato: — Agora você quer ser prestativa? Não ajudou praticamente em nada o caso todo.

A crítica fez o sangue de Bárbara ferver. — Pelo menos eu não arrisquei o caso! — ela retrucou, sua voz cortante como uma lâmina.

— Tá bom, Babi, já entendi — Victor debochou, o sarcasmo pingando de cada palavra.

— Não me venha com essa de "Babi" — ela retrucou, irritada, aquele apelido íntimo agora soando como uma afronta.

— Tá bom, Bárbara — ele replicou, o tom carregado de amargura.

Os dois estavam à beira de uma explosão. Toda a tensão acumulada, todo o estresse da missão e as emoções mal resolvidas entre eles, estavam prestes a romper a fina camada de autocontrole que ainda mantinham.

— Não vamos falar disso de novo, tá legal? Eu só quero acabar o caso logo — Bárbara disse, tentando encerrar a discussão, mas sua voz tremia levemente, traindo a frustração e o cansaço que ela sentia.

— Claro que você quer se livrar disso logo — Victor respondeu com sarcasmo, atiçando ainda mais a raiva dela.

Bárbara explodiu. — Eu não estou falando de você! Pouco me importa a sua presença ou não. Nem tudo é sobre você! — gritou, a voz ecoando pela sala. — Tem gente que não está fugindo dos problemas com a família, sabia?!

Aquilo foi o suficiente para quebrar a fachada de calma de Victor. — O que é que você sabe sobre isso? Você não se importa com nada que não seja você. Agora quer falar da minha vida? Não sabe nada sobre mim.

Bárbara cruzou os braços, sua expressão de desdém desafiadora. — Não sei é?! — ela revirou os olhos, como se a acusação fosse absurda.

Victor continuou, sua voz carregada de uma dor antiga. — Não, não sabe e nunca fez questão. Julga tudo e todos, mas não se olha no espelho.

Bárbara sentiu o golpe, mas não cedeu. — Como é?

Victor deu um passo à frente, a raiva agora misturada com a amargura. — Não se faça de idiota, Bárbara. Você aponta os defeitos de todo mundo. Pra você, tudo é horrível. "Eu odeio pessoas". Ninguém é bom o suficiente pra você — ele disse, sua voz cheia de desprezo. — Agora ninguém pode falar de você, né? Você é perfeita, nunca errou — ele debochou, cada palavra carregada com a intenção de feri-la.

Bárbara tentou se defender, a voz vacilante. — Você que está me rotulando, eu nunca disse nada disso!

Victor arqueou as sobrancelhas, exasperado. — Só tá mentindo pra si mesma! — ele gritou, sua paciência finalmente se esgotando. — Vai lá, joga sua armadura, bota medo nas pessoas, afasta quem gosta de você porque odeia se sentir "vulnerável". — Ele fez aspas no ar, sua voz cheia de veneno. — Gosta de ficar sozinha, não é? É assim que você vai acabar se continuar com a sua arrogância e egoísmo!

As palavras de Victor cortaram como facas, e Bárbara sentiu a mágoa se transformar em uma raiva fria. Ela ficou em silêncio, seus olhos cheios de dor e ressentimento. A respiração dela estava pesada, mas ela se recusou a responder, sabendo que qualquer coisa que dissesse só pioraria a situação.

Victor bufou, irritado, querendo acabar com aquilo. — Só não demora, tá legal? — disse com frieza, pegando a chave do carro e saindo apressado para o estacionamento.

Assim que ele saiu, Bárbara sentiu a tensão finalmente explodir dentro dela. Passou as mãos pelo rosto, tentando controlar as emoções que ameaçavam transbordar. Seus olhos caíram sobre o colar com o pingente de glock que Victor havia dado. Num impulso de raiva, ela arrancou o colar do pescoço e o jogou no balcão com força.

— Que se foda — sussurrou, a voz tremendo de frustração, antes de se virar e deixar a sala.

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